Hoje foi um dia muito longo.
Estive sete horas seguidas no meu local de trabalho. Sem comer, claro! Já
cheguei há uma hora. Já comi qualquer coisa, já bebi chá. Já deveria estar na
cama. Mas não consigo esquecer o filme que descobri acidentalmente no YouTube,
e que é um dos meus filmes preferidos. Talvez porque há muito não via ou lia
nada que verdadeiramente me entusiasmasse. Com este filme foi diferente. Aliás,
os comentários são unânimes: não há como não ficar fascinado.
Foi o que me aconteceu. Já há muito
não me emocionava tanto com uma coisa boa. Habituei-me a andar anestesiada, a
fazer as coisas de forma rotineira, mecânica, porque tem de ser, a fingir boa
disposição, simpatia (eu tento, juro que tento, embora já me tenha esforçado
mais), enfim… aquelas coisas indispensáveis à passagem pelo dia e pelos outros.
Estava desabituada de me deixar levar por uma história, ou histórias, de deixar
que todos os sentimentos viessem ao de cima. Não resisti à relação de afecto
entre dois náufragos, um homem e uma menina, à mistura de violência (muita) e ingenuidade.
Não resisti sobretudo ao desempenho notável de todos os actores. Penso que a
história por si só não se aguentaria sem Jean Reno – belíssimo, que eu não
conhecia -, Natalie Portman – que só conhecia de nome - e Gary Oldman.
O filme durou mais de duas horas,
durante as quais me foi impossível desviar os olhos do ecrã. Uma coisa mágica,
hipnótica. Perto do fim, antecipando já o final, o espectador está a tentar conter-se,
a tentar ser forte, a fazer tudo para não ceder mais ainda do aquilo que já
cedeu, posto que está de rastos, com a respiração difícil, a garganta apertada,
e então o que acontece, na última cena, na derradeira cena? Como se não
bastasse o que se pode ver, começa a ouvir-se devagarinho, baixinho, e depois
mais alto e mais nítido, Shape of My Heart:
a canção belíssima de Sting. Não há nada a fazer. É fechar os olhos e deixar
acontecer. É exorcizar tudo. Lavar a alma, os olhos, exorcizar as pequenas mas
terríveis histórias que nos derrubam todos os dias, apesar do tempo que passou.
Leon e Mathilda: inesquecíveis!
No comments:
Post a Comment