Tuesday, April 25, 2017

Curso Intensivo de Poesia



Não sei como dizer-te que minha voz te procura
 e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
 esplêndida e vasta.
 Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
 se enchem de um brilho precioso
 e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
 iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
 pelo pressentir de um tempo distante,
 e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
 dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
 ao lado do espaço
 e o coração é uma semente inventada
 em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
 tu arrebatas os caminhos da minha solidão
 como se toda a casa ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que dizer
 junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
 Quando as crianças acordam nas luas espantadas
 que às vezes se despenham no meio do tempo
— não sei como dizer-te que a pureza,
 dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
 os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
 correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
 mas quando a sombra cai da curva sôfrega
 dos meus lábios, sinto que me faltam
 um girassol, uma pedra, uma ave — qualquer
 coisa extraordinária.
 Porque não sei como dizer-te sem milagres
 que dentro de mim é o sol, o fruto,
 a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
 o amor, que te procuram.


Herberto Helder

Obrigada, HH, por saber tudo o que há a saber sobre Poesia.

Wednesday, April 19, 2017

Eloquência bacoca ...



A terminar o dia, cansada e completamente derreada das minhas costas, ainda tento aproveitar mais uma hora ou hora e meia, para adiantar serviço, e aparece-me esta coisa mal escrita, mal pensada, mas armadíssima ao pingarelho! E tanta página - milhentas -  cheia de coisa nenhuma, excepto de frases com fraca pontuação, sem se saber bem como acabam, pois o começo, pomposo, com foguetório, até,  já augurava confusão da grossa: grossíssima, aliás. O pior, porém, é o conteúdo desinteressante: vomitivo!
Se eu morrer de tédio durante a função - não seria mau -, irei direitinha ao paraíso, pois semelhante prosa servirá de penitência de todos os meus pecados e purificação da minha massacrada alma. Porque é que estas coisas me acontecem? Ai, ai...

Fonte da imagem: não sei, nem me interessa: saquei da net!

Monday, April 10, 2017

Chuva


Vai chover antes da Páscoa. Acho bem. Não compreendo porque é que os dias andam tão alegres: cheios de sol!

Saturday, April 08, 2017

Encontro em Samarcanda


O dia começou bem. Preparava-me para fazer uma série de coisas, já nem me lembro o quê. Mas bem posso erguer uma muralha - se bem que seja inútil... por falta de motivo -, desligar tudo, desligar-me, que há sempre uma maneira de me desagradarem, de me mostrarem quem sou, e como não se podiam ralar menos comigo ou o que eu penso ou peço.
São quase dez horas, e o meu dia preferido da semana, o meu Sábado, não passou sequer por mim, nem eu por ele. Foi apenas um dia mais que findou sem glória. Sem nada. 

Thursday, April 06, 2017

Homens com O grande


Os homens são lindos, pelo menos alguns.
Conta o Público que alguns políticos, bem como muitos outros homens, andaram de mãos dadas, como forma de condenar as agressões de que foram vítimas alguns homossexuais. No meio de tanta violência, verbal e física, é lindo, parece-me, que os homens decidam dar as mãos. E em solidariedade!
A bondade não é contagiosa, infelizmente, mas comove. A mim, pelo menos.

Fonte: https://www.publico.pt/2017/04/05/mundo/noticia/no-holanda-os-homens-andam-de-maos-dadas-para-lutar-contra-a-homofobia-1767892, em 6 de Abril, 2017

Wednesday, April 05, 2017

Café


Ida a Lisboa. Segunda e terça-feira. Dois dias longe de minha casa. Fiquei numa pensão muito bem localizada. Era limpa. Até consegui dormir. Coisa rara: acordei com o despertador! Quanto às aprendizagens, espero que chegue a papelada para ler e tirar conclusões. De resto, som e fúria e dor de cabeça. Encontrei o Miguel Sousa Tavares numa farmácia onde fui comprar analgésicos. Pena não ter dado conta de que estava mesmo ali o McDonald's. A minha noite teria sido tão melhor. Colegas muito queridas. Ainda nos rimos bastante. Tirei fotografias, mas só aproveitei uma. O resto estava subsumido pelos carros. Lástima! Pastéis de Belém, impenetrável. Padaria Portuguesa foi a minha salvação. Excelente sumo de laranja. Imensos restaurantes. Listas com tradução em inglês: prow em vez de prawn: ihih. Gente e mais gente e carros e eléctricos e excursões, isto é, alunos em viagem de estudo (?). As colegas diziam: Lisboa é tão linda. Olha como ficou a zona X, Y. Que lindo. Eu só via poluição e obras. Não ousei dizer que Lisboa não é linda. Porque é, mas de noite, claro, com a luz eléctrica a realçar o belo e a deixar o feio na escuridão. Estação de Santa Apolónia: belíssima. Encheu-se-me o coração de alegria nostálgica. Também gostei de ver o comboio. De resto, eram apenas casas. O Mosteiro dos Jerónimos parecia encolhido. Devia ser do sol: abrasador. Aliás, a temperatura foi um facto desconcertante. Foi um tirar e pôr de casacos como não tenho memória. Frio à sombra, calor excruciante ao sol. Às tantas alguém teve de pôr o meu casaco. Eu, cavalheiresca, ainda temi bater o dente com a proeza, mas entretanto foi hora de saída para o sol da rua. Andar de carro em Lisboa é coisa de louco. E Deus sabe que as coleguinhas andaram mais por minha causa, para porem a menina na pensão e irem buscar a menina à pensão. À porta da Universidade, no local de estacionamento, havia uma vasta quantidade de bosta. Ainda pensei que só eu é que via aquilo, devido ao cansaço e à falta de uma refeição quente. Mas não. Todas vimos claramente visto. Que eram excrementos dos cavalos da polícia! Felizmente secos, claro, com o calor que se fazia sentir...  Chegadas à Covilhã, foi altura de distribuir cada um pelo seu domicílio. Eu fui depositada à frente da igreja pela coleguinha motorista. O percurso curto até casa foi feito sob a barulheira ensurdecedora das rodas da mala de viagem e da pasta do computador: rrrrrrrrrvvvrrrrrrrrrrRRRRRRRRRRRR. Credo! Finalmente a minha casinha. Cumprimentei-a: cá estamos, quida, sardade! Tomei banho e bebi chá com torradas. Mas estava morta mesmo era por um café. Dois dias sem café, que triste. Agora já encerrei finalmente as atribulações viajeiras. Porque já bebi, finalmente, o meu café. E daqui a dois dias, mais ou menos é Sábado. E depois começam as férias da Páscoa: telemóvel desligado e porta fechada: hummmmmmmmmm. Que bom.