Tuesday, December 31, 2013
Monday, December 23, 2013
A coisa..
Outro: E que tal?
Eu: ... nada de nada... indescritível... uma parvoíce... e fomos obrigados!!!!
Outro: Alguma coisa aprendeste certamente. Muito gostam vocês de desgostar de tudo, francamente.
Eu: Aprendi, sim, sobre virilhas...
Outro: Virilhas?
Eu: Virilhas de gente gorda... parece que ficam assadas...
Outro: O que vocês se divertem...
Eu: E, depois, o tratamento faz crescer o bicho...
Outro: Qual bicho?
Eu: Sei lá... eu não tenho problemas nas virilhas...
Outro: E sobre indisciplina?
Eu: Nada!
Outro: Nada? Mas não era o tema?
Eu: Seria... se o palhaço se tivesse dado ao trabalho de se preparar.
Outro: Mas nem um bocadinho?
Eu: Pelo menos que eu tenha ouvido, não. O sujeito bamboleou-se, contou umas peripécias, disse palavrões ... para mostrar que é moderno... penso eu... insultou toda a gente e tratou-se a si próprio repetidamente por doutor...
Outro: ihihihihihih eheheheheheh
Eu: chuif chuif
Sunday, November 24, 2013
Monday, November 04, 2013
Poema dum funcionário cansado
A noite
trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me
os amigos
tenho o
coração confundido e a rua é estreita
estreita em
cada passo
as casas
engolem-nos
sumimo-nos
estou num
quarto só num quarto só
com os
sonhos trocados
com toda a
vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma
não acompanha a minha mão
Débito e
Crédito Débito e Crédito
a minha alma
não dança com os números
tento
escondê-la envergonhado
o chefe
apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me
na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia
exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter
cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente
perdido no meu cansaço
Soletro
velhas palavras generosas
Flor
rapariga amigo menino
irmão beijo
namorada
mãe estrela
música
São as
palavras cruzadas do meu sonho
palavras
soterradas na prisão da minha vida
isto todas
as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto
só
António
Ramos Rosa
Wednesday, October 16, 2013
Lucidez 2
Gabriel Mithá Ribeiro
Professor de História defende o silêncio de volta às
escolas. É autoritário e não se importa que os alunos não gostem dele. Basta
gostarem das aulas.
Licenciado em História e especializado em estudos africanos,
Gabriel Mithá Ribeiro gosta ainda de entrar em outras áreas como sociologia ou
psicanálise para entender melhor o pensamento social. Daí não ser estranho
ouvi-lo sobre temas tão distintos como educação. Até porque já deu aulas
durante duas décadas em escolas "ditas difíceis" e, segundo ele, só
quem conhece bem a sala de aula tem condições para estudar e investigar a
realidade escolar e ainda propor políticas no ensino. Mithá Ribeiro é um dos
convidados da Fundação Francisco Manuel dos Santos que a partir de hoje e
durante o resto da semana vai animar o debate online "Onde acaba a
indisciplina e começa a violência", que acontece em simultâneo com as
conferências em Lisboa e Braga "A Indisciplina na Escola" nos dias 17
e 18.
"Onde acaba a
indisciplina e começa a violência" é o mote do debate em que vai
participar. Existe uma fronteira?
É muito difícil separar a indisciplina da violência. O
problema sério nas escolas é a indisciplina. E o problema seríssimo é a pequena
indisciplina.
Porque é a
recorrente?
E porque é a que tem de se combater no início. Dei aulas no
3.o ciclo e secundário durante 20 anos em 11 escolas ditas difíceis da margem
Sul e sei que a violência não é um problema maior. Não digo que não existe,
digo que é empolada. O alvo da questão é a indisciplina. Ou se resolve ou vamos
continuar a enfrentar um dos obstáculos mais estruturais do ensino.
Há dificuldades em
assumir que este é um problema grave nas escolas?
Para percebermos os problemas que condicionam o sistema de
ensino, temos de partir da sensibilidade da sala de aula, que é onde tudo
acontece. Mas toda a sensibilidade que condiciona as políticas e as teorias de
educação é gerada de cima para baixo. Quanto mais distantes estão as pessoas
das salas de aulas, mais poder têm para condicionar o ensino. Há até directores
que estão décadas sem dar aulas e são uma correia de transmissão do que vem de
fora para dentro em vez de levar a sensibilidade da sala de aula para fora. Se
a sala de aula fosse o factor condicionante do pensamento e da definição de
políticas de ensino, há muito que a indisciplina se tinha revelado um problema
central. Além da falácia dos directores, há a falácia dos professores universitários.
É completamente diferente ser professor do superior e do básico e secundário.
As teorias aplicadas no básico e secundário vêm do ensino superior sem nunca
terem sido testadas no próprio ensino superior. Se fossem, saberiam as asneiras
que fazem.
Que asneiras?
A forma como se mexe nos currículos ou se faz as reformas.
Tem de haver uma relação directa entre a prática quotidiana de dar aulas e a
teorização. A estrutura universitária trata dos problemas do ensino sem saber o
que é o ensino. É uma espécie de bloqueio que, se calhar, nem em cem anos vamos
resolver. Mas é preciso alguém dizer que o único que pode teorizar e propor
políticas a sério é quem conhece a sala de aula. Mas é tão errado alguém que só
está na sala de aula e não tem teoria para explicar a vida da sala de aula como
o oposto.
Porque só se reage
perante a violência?
Porque o ruído tornou-se tão normal que só reagimos quando
se ultrapassa o nível do ruído. O silêncio é o aspecto que mais casa com a
construção do conhecimento, mas foi banido das escolas. O ruído foi
naturalizado nas aulas e incentivado pelos pedagogos que defendem a
participação, a permanente actividade dos alunos.
Silêncio quer dizer
reflexão?
Quer dizer adesão voluntária das pessoas à introspecção, à
tranquilidade. Muitos professores queixam-se da indisciplina porque optaram por
modelos pedagógicos participativos, que dão muito poder ao aluno. O modelo
participativo tem virtudes mas também tem problemas e um deles é incentivar a
indisciplina. Se percebermos que a disciplina é central vamos perceber também
que o modelo autoritário directivo consegue mais eficazmente impor o silêncio.
Mas passou-se de um modelo autoritário da ditadura para uma ditadura da
democracia que impôs o modelo participativo. Quem hoje defender o modelo
autoritário parece que está a cometer um pecado capital.
Criar empatia ou
proximidade com os alunos promove a indisciplina?
Os dois modelos devem coexistir, mas todo o aparelho
ideológico torna uma abordagem legítima e a outra ilegítima. E quem constrói
este aparelho é quem não dá aulas. Se dessem, percebiam o erro que é não
incentivar o modelo autoritário. Sou um professor autoritário, mas para isso
beneficio de duas vantagens que são vergonhosas de dizer num estado civilizado.
Uma: sou homem e posso ser fisicamente afirmativo. Se um aluno desobedecer à
minha ordem estou preparado para actuar. Não dou aulas sem estar fisicamente
bem preparado - faço jogging, exercício, etc.
O Estado Novo exigia
aos professores um atestado de robustez física.
Assumo a robustez física como condição de sobrevivência na
sala de aula. Por outro lado, ser negro é uma grande vantagem para lidar com
minorias. A maioria do corpo docente são mulheres de etnia portuguesa. Se
alguém estiver interessado em perceber o que é a violência sobre as mulheres é
entrar numa sala de aula. Combater a violência contra as mulheres é combater a
indisciplina nas escolas. Mas o que temos é um discurso académico politicamente
correcto que, ao mesmo tempo que defende a condição da mulher, defende
exageradamente a condição do aluno que massacra essa mulher. Os governos passam
e este problema arrasta-se. Devíamos ter vergonha disso.
Voltemos à empatia.
Não faz falta?
O ensino assenta em três pilares - conhecimento, professor e
aluno - e nós passámos de um ensino erradamente centrado no professor para um
ensino ainda pior centrado no aluno. O referencial tem de ser o conhecimento
pois ao ser abstracto cria obrigações para docentes e alunos. A empatia na sala
de aula não é entre aluno e professor. Não quero que os alunos gostem de mim.
Quero que gostem da História que ensino. Não preciso de gostar deles. Basta ter
paixão por aquilo que ensino.
É errado centrar o
ensino no aluno?
Se o ensino é centrado no aluno e o aparelho ideológico
prepara as pessoas para isso, fica essa marca no subconsciente. Quando o
professor entra na aula e no subconsciente dele está a ideia de que o ser mais
precioso é o aluno, vai remover tudo o que o atrapalha: a ordem, o esforço e,
às vezes, o conhecimento. Se na cabeça dele está sempre a martelar que o
conhecimento é o mais importante, facilmente remove aquilo que atrapalha o
conhecimento, como por exemplo alunos mal comportados. É o ruído que tem de
sair porta fora. O ensino centrado no aluno é um dos fundamentos da
indisciplina, mas outro é o estatuto do aluno.
Mas o actual até é
mais punitivo.
É no papel. Digo que o estatuto do aluno é uma fonte de
indisciplina porque quando se quer regular relações sociais a partir de
documentos escritos é preciso que tenham valor social e simbólico, que só se
adquire depois de muitos anos, gerações. Leis que regulam comportamentos têm de
ser estáveis para entrarem na cabeça de alunos e de professores. Quando as
regras são estáveis também contaminam as famílias, a comunidade e tudo o resto.
O que se fez nos últimos 20 anos com os sucessivos estatutos do aluno foi matar
a possibilidade de se resolver problemas a partir de documentos escritos.
E qual é a solução?
Dar poder à palavra do professor para que resolva o problema
da indisciplina como entender. Nem que fosse uma medida temporária para
higienizar a função do documento escrito, dos estatutos.
Dar a palavra aos
professores implica reconhecer também a sua autoridade.
E enquanto não se confiar nos professores, o problema da
indisciplina não se resolve. Só que, incrivelmente, quem não confia nos
professores são os cientistas da educação, sempre a emitir regras sobre como
trabalhar, o que fazer e não fazer.
Essas regras
condicionavam-no?
Comecei tão incompetente como qualquer professor. Ao fim de
uns anos, cortei completamente com o chamado ensino auto: o ensino em que não é
o professor que ensina é o aluno que aprende, não é o professor que dá nota é o
aluno que auto-avalia e não é o professor que impõe regras é o aluno que
negoceia essas regras com o professor. Nas minhas aulas, eu ensino e os alunos
aprendem. Nunca promovi auto-avaliação dos alunos e nesse aspecto fui contra a
lei. Se sei que é uma fonte de perda de autoridade porque vou por esse caminho?
Que regras impunha?
As mesmas que a mim mesmo. Chegar a horas, trazer material,
estar quieto e calado. Depois, nos primeiros 15 ou 20 minutos de aula sou eu
que falo. É a parte da aula autoritária e expositiva. Não admito interrupções.
Se permito uma pergunta e respondo, voltarei a ser interrompido e já não saio
do mesmo lugar. Os alunos tomam notas, memorizam e tiram dúvidas no fim.
E correu sempre tudo
bem?
No início do ano há sempre uns espertos que querem
interromper. A minha reacção é dizer "Pegue nas suas coisas e rua!" O
maior trunfo do professor é o dom da palavra. Se um docente não impõe silêncio
nos primeiros 15 minutos da aula, vai andar 20 anos sem saber construir uma
frase pois nunca treinou o direito que tem de falar. O ensino participativo não
percebe a importância da palavra. Se imponho 20 minutos - e às vezes 90 - para
expor a matéria, ao fim de uns anos já sei seduzir pela palavra - entoar,
baixar a voz, contar histórias. Isto é muito exigente. Para expor a matéria
durante 20 minutos é preciso estar bem preparado. Para dar uma aula de 90
minutos com os alunos quietos e calados tenho de saber contar muito bem a
história. Parte da culpa é também dos professores, que gostam de ser
intelectualmente preguiçosos. Hoje nenhum professor é autoritário se não for
competente no domínio do conhecimento. Se os alunos percebem que sabemos o que
estamos a ensinar, acatam as regras mais radicais que possam imaginar. Chegava
a pôr na rua o mesmo chico-esperto todos os dias. Ao fim de um mês, chegava a
dizer ao aluno que ele já estava chumbado.
Desistia dele?
Ou quero salvar todos e vou perder todos ou castigo um ou
dois e salvo 20 e tal. Já expulsei alunos para sempre da minha sala.
Isso é contra a lei?
Toda a escola sabia, os pais sabiam, mas nunca ninguém
contestou. Sabe porquê? Havia silêncio e os alunos aprendiam.
No seu livro "A
Pedagogia da Avestruz", admite que teve atitudes radicais.
Tive um aluno que ficava à porta da sala a gozar enquanto os
colegas entravam. Um dia em que entrou, agarrei-o com a toda a força e rebentei-lhe
a camisa e só não lhe bati. Ficou de tal maneira assustado que nunca mais
apareceu nas minhas aulas. Nesse ano tive o meu carro riscado de ponta a ponta.
Mas nunca contestei. É o preço a pagar. Mas há outros focos de indisciplina
como é o caso do currículo, que promove a instabilidade das regras e não
permite ter uma ideia clara do que é uma aula. Um aluno entra numa aula de 45
minutos, sai e entra noutra de 90, a seguir vai almoçar e tem outra de 45. Essa
inconstância torna impossível sedimentar na cabeça dos alunos as regras para
estar numa aula. Com tantos especialistas em educação é incrível que não se
tenha percebido que a ideia estável de aula corresponde à ideia estável de
comportamento.
As famílias são
empecilhos?
São empecilhos e criaram uma confusão entre o papel do
professor e o papel do pai, o papel do aluno com o papel do filho. Isto foi
terrível no plano da autoridade. A escola abriu-se à comunidade de tal forma
que agora qualquer um se sente com autoridade para dizer o que os professores
deviam ensinar. Quando a escola se fechar sobre ela própria, não terá de se
justificar o porquê das regras que aplica.
Lucidez 1
A caverna platónica
«A propósito do desmoronamento do mundo moderno, Marx
afirmou: “tudo o que era sólido volatilizou-se”. A derrocada da tradição e a
profanação daquilo que era considerado sagrado significa o derreter dos
sólidos, ou seja, a falência dos antigos padrões através da aceleração das
mudanças. A sociedade assimila a cultura global do mercado e da tecnociência,
provocando abalos incontrolados ao nível da economia, da vida social, das
relações entre as pessoas ou da educação e conduzindo à desorientação, à
insegurança e à precariedade.
Na escola a autoridade e a disciplina estão fora de moda.
Por outro lado, o esforço e o trabalho não são politicamente corretos. Os
jovens devem ser motivados, envolvidos e seduzidos, de maneira a ir ao encontro
de um “aluno-cliente”, numa instituição que se pretende atualizar através do
modelo empresarial, onde só contam os resultados e as estatísticas, em
detrimento do conhecimento e dos valores.
Filhos da socialização eletrónica, os alunos chegam à escola
intoxicados pela parafernália tecnológica (computadores, cinema, tv, rádio,
internet, videojogos, telemóveis, tablets, etc.), condicionados por horas e
horas ligados aos ecrãs e entorpecidos pelos efeitos narcotizantes dos aparatos
que não largam nunca.
Daí que a entrada na escola, e na sala de aula, seja um
regresso à caverna platónica, um voltar ao mundo das sombras e à escravidão,
deixando para trás o mundo verdadeiro (universo digital) onde tudo acontece de
modo vertiginoso e intenso. A escola surge agora como uma prisão e a sala de
aula isola o indivíduo da vida (rede social digital). Quando a porta se fecha
dá-se a queda na escuridão e perde-se o contato com o real (sociedade
tecnológica).
O conhecimento passa a ser alvo de suspeição e o trabalho
docente é desvalorizado. A escola torna-se obsoleta e disfuncional.»
José Augusto Lopes RIBEIRO, em A Educação do Meu Umbigo,
Outubro, 2013
Friday, October 11, 2013
Wednesday, August 14, 2013
A Noite
E não é que esta fotografia encerra a essência magnífica da noite? E não é a noite a parte mais bela do dia? E a luz? Não será a luz eléctrica a luz mais espantosa do universo? E a casa? Não será o lugar mais acolhedor que se possa imaginar? Mesmo a casa desolada, pobre, fria... Não será o sítio mais encantador e encantado do mundo?
Na minha casa, iluminada ou escura, dentro da noite, e só aí - aqui - consigo perceber - um pouco - o que é ser feliz...
(Foto "pedida" de empréstimo, permanente, ao blogue A Educação do Meu Umbigo).
Thursday, August 01, 2013
Veículo Longo ou da Hermenêutica do Texto (!)
Como não queria deixar o meu leitor fiel - MOI MÊME - sem leitura estival, fiz um esforço de síntese e: Eis!!
Eu: Pobre Marcelino…
Outro: Pobríssimo!
Eu: Pisoteado pelo touro que ainda se borrou em cima dele..
Outro: Lástima. Mas
essa eu ainda não sabia…
Eu: Foi numa tenta, se não estou em erro. O touro tomou-se
da pinga…
Outro: Isso já foi
depois de ele ser confundido, por sua excelência o Papa , com um penico…
Eu: Muito depois… onde é que isso já vai… bons tempos esses
em que ele andava ao rebolão por debaixo da cama do Papa… mas a Sétima
Onda é que deu cabo dele…
Outro: O que é a Sétima Onda?
Eu: Não sei. Ninguém sabe! Nem o pobre sabe… mas foi
arrebanhado… não vês que ele é muito dado a meter-se em grossos sarilhos… ?
Outro: Grossíssimos!!!!
Eu: E a mulher? Viciada em Feicebuque!
Outro: Alto aí! Mulher e irmã, não esquecer…
Eu: E eu não sei? Mas já não me lembro se eles eram irmãos
só de pai ou de mãe…
Outro: Então o pai não foi aquele que desapareceu num
urinol?
Eu: Sim, mas tudo esquema… ele ia era morder a esposa que
estava num asilo…
Outro: São os traumas de infância…
Eu: E a incompreensão… então o tabefe que lhe deu o
Calabote, por ele lhe chamar “filho da cabra”!?
Outro: Era a cabra coimbrã… Mas foi o Calabote que lhe
assentou o tabefe?
Eu: Foi um catedrático. Disso lembro-me… mas ele havia lá
tantos catedráticos.
Outro: Precisamente… catedráticos e políticos.
Eu: Principalmente o …ai… como é que ele se chamava, o anão…
o Dr. … ai… que não me lembro…raios!
Outro: Era aquele que para além da política também se
dedicava às revistas pornográficas… A “bunda em chamas”…
Eu: Esse mesmo. Mas em chamas terá ficado, quiçá, a bunda
dele, quando o lançaram do canhão.
Outro: Felizmente que a viagem foi curta, ficou logo preso
num estendal, senão ainda podia ter sido
pior. ..
Outro: Mas ele não foi disparado para uma azinheira nas imediações
de Fátima?
Eu: Acho que não! Quem ficou empoleirada numa azinheira foi
a… ai … como é que ela se chama… aquela que era amante do coiso… o…. Ai… como é
que ele se chama… o cantor de rock…
Outro: É muito nome, muita coisa esquisita. Eu, para além do
Marcelino e do Calabote, só me lembro do Aschenbecher…
Eu: O Axem… esse… não era o camareiro do Marcelino?
Outro: Esse mesmo… camareiro, intelectual e mentor. Só não
despejava penicos!
Eu: Esse mesmo… e
maquiavélico. Não esqueças que matou o outro que agrediu o Marcelino quando ele
estava na sanita…
Outro: Estás confundido. Quem matou o meliante que sovou o
Marcelino no WC foi o outro… o… ai… a minha cabeça…. Aliás, ele próprio também
morreu. Quando ia lançar o defunto ao rio, com uma grande pedra atada ao pé, ele
próprio ficou com o pé na corda… e ala que se faz tarde. Lá vão o morto, o vivo e o pedregulho… tudo para o fundo do
rio…
Eu: Já me lembro. Bem feito. Anda, que não sovou mais
nenhum!
Outro: Já não me lembro porque é que todos queriam malhar no
Marcelino…
Eu: Queriam, não. Malharam.
Ele punha-se a jeito… sempre a perseguir, a fazer queixinhas… olha, que
até reclamou de um assistente de loja por ele ter o nariz comprido!
Outro: E as perseguições ao arquitecto?
Eu: Verdade! E porquê? Porque ele desenhou o elevador e
colocou os botões muito em cima, sem se lembrar do anão… que não chegava a lado
nenhum…
Outro: Tenho cá para mim que se ele se tem casado com a
Maria Estrovenga… teria feito um matrimónio mais feliz…
Eu: Como é que ele poderia ter casado com a Maria Estrovenga
se ele matou a Maria Estrovenga quando dançava o tango com ela?
Outro: Precisamente! Mas se ele não a tivesse matado… se
tivesse antes dançado um slow, a história podia ter acabado bem melhor.
Eu: Mas ele não namorou uma rapariga com quem costumava
passear no jardim zoológico … onde até aconteceu aquela coisa de ele ter feito
queixa de um macaco à PIDE, porque o macaco gostava de manusear as partes em
público?
Outro: Ele queixou-se do macaco, por atentado ao pudor, duas
vezes. Mas essa era a irmã, aliás, a futura mulher.
EU: Olha que não!
Outro: Olha que sim… lembra-te lá! Ele não era namoradeiro.
Muito viril, sim, que chegou a andar três ou quatro dias seguidos de … pau…
feito… que nem conseguia apertar as calças… muito viril… mas não era
namoradeiro.
Eu: Eu sei… ele até só se pôs a dançar com a Maria
Estrovenga para fazer ciúmes à irmã, e futura mulher, que se tinha embeiçado
pelo professor de danças de salão… o … ai… é escusado… que morreu tísico, em
palco… nas cerimónias de homenagem a Mao Tsé Tung…
Outro: Ai… essa homenagem… que festança! Até houve missinha…
de rezar e chorar por mais! Começou aí a queda do Marcelino…
Eu: E que senhora queda! Passar de diplomata para dirigente
desportivo…
Outro: Para um clube da terceira divisão… o A da Cabra.
Eu: De quinta divisão, se faz favor. De quinta!
Outro: Mas tinha um ordenado e dos grandes no Cabrense… essa
é que é essa!
Eu: Também só lhe deram o posto, para conseguirem torrar as
pilas do público masculino… por suposto… do espectáculo da queima das fitas de
Coimbra!
Outro: E torraram! Ó se torraram, ficou tudo com a pila em
torresmos. O Marcelino saiu ileso… se bem me lembro… com a pila “au naturel”,
como dizem os franceses.
Eu: Dessa livrou-se ele… mas só porque lhe deram uma mistela
tal, que ele teve um ataque de gases fortíssimos… passou a noite num badanal!
Outro: Ele e outros… aquilo foi de estrondo… felizmente
estava a tocar uma banda de rock da pesada…
Eu: Era a banda do
Maradona Madona, se não estou em erro… que foi eletrocutada…
Outro: Não. Era a banda do Alberto Cristovão, mais conhecido
por Betóvão.
Eu: Esse era da música clássica. Disso não há dúvida
nenhuma… alto lá.
Outro: Ahhhh, tens razão!
Eu: Mas olha que a praça de tóxis foi uma boa ideia!!
Outro: Táxis! Taralhoco…
Eu: Tóxis, se faz favor. Praça de estacionamento de
toxicodependentes!
Outro: hummm…
Eu: Mas então não sabias das humilhações do Marcelino na
tenta no Ribatejo… se não estou em erro…
Outro: Mas que raio andava ele a fazer em touradas?
Eu: Foi aquela coisa da Sétima Onda… uma coisa muito
secreta…
Outro: Mas o que é a Sétima Onda… por Deus?
Eu: Olha, de concreto, só me lembro que nas reuniões, em que
os membros …
Outro: Membros? Quais membros?
Eu: Os membros…ora, os associados… o Marcelino e os outros
da quadrilha…
Outro: Ah! Diz-me dessas. Continua.
Eu: Interrompeste-me o raciocínio desnecessariamente…
Outro: Estavas a dizer que os membros se reuniam…
Eu: Exacto! Reuniam-se atrás de cortinas ou guardanapos,
para manter o segredo… vê tu!
Outro: Mas assim, atrás dos guardanapos, tanto podiam estar
a falar com os membros como com qualquer um…
Eu: Não! Primeiro confirmavam que era um membro, depois é
que se colocavam atrás de qualquer coisa … reposteiros, guardanapos, panos de
cozinha….fraldas!... e depois é que falavam…
Outro: Fraldas?
Eu: Que surpresa! Como se o Marcelino não gostasse de pôr
fraldas e pespegar-se em frente a um espelho
a dizer gugu-dadá e a babar-se…
Outro: Lembro-me bem! Mas pôr uma fralda não é o mesmo que
colocar-se atrás de uma fralda…
Eu: Coisas da Sétima Onda… mente aberta, por favor!
Outro: Seja!
Eu: Eeeeeeeee … deixa ver… que me desconcentraste
escusadamente. Falavam, então, under cover, como diriam os ingleses. Mas o secretismo não residia só em taparem-se
para falar! A coisa era assim: supõe que me querias falar de um assunto… tinhas
que falar de seis assuntos até chegares ao assunto propriamente dito, que era o
sétimo…
Outro: Vamos tentar… vamos exemplificar… vamos falar de….
eh…eh… pesca, que está o tempo quente…
Eu: Pesca? Verdade…
foi aquele do nariz … aliás, que não tinha nariz, porque o Marcelino lho pescou
com um anzol, durante uma tertúlia sobre filosofia….
Outro: A mania que
ele tinha de pescar durante tertúlias filosóficas! Bem me lembro… o outro, com o nariz
atarraxado de fresco e o Marcelino… zás!!
Eu: Uma tragédia! Mas o outro acabou por assumir a falta de
nariz… só ficou com dois buracos no meio da cara…
Outro: Credo!
Eu: Pois! E sempre ranhosos…!
Outro: ugh!
Eu: Foi ele – se me permites que acabe o meu raciocínio
- que arrebatou o Marcelino p’rá Sétima
Onda…
Outro: Já me cheirava!
Eu: Mas vamos então treinar a técnica dos sete assuntos.
Outro: Avança com o primeiro…
Eu: Não! Vamos fazer as coisas como deve ser… passa aí uma
coisa para nos cobrirmos…
Outro: Ainda mais essa… não há necessidade…
Eu: Há, sim senhor. Vamos para trás das persianas.
Outro: Mas ficamos olhar uma para o outro na mesma…
Eu: Pois ficamos… mas ninguém pode olhar para nós… essa é
que é a grande diferença.
Outro: Mas não está aqui ninguém…
Eu: Não custava nada fazermos a coisa como deve de ser… mas,
assim queres… assim tens.
Outro: Fechamos os olhos! Qual é a melhor maneira de não
ver?
Eu: Seja! Vamos então começar…
Outro: ….
Eu: Recordar é viver…
Outro: Um…
Eu: Tens que contar baixo. Assim toda a gente vai perceber a
nossa técnica!!
Outro: Isto é só um treino… depois é que vamos à séria! Dá o
segundo tema.
Eu: já dei: tens que contar baixo é o segundo tema.
Outro: Tema??? Que raio de tema é esse?
Eu: Aí é que está a dificuldade! O membro da Sétima Onda tem
de ter raciocínio rápido.
Outro: Quatro!
Eu: Quatro?
Outro: Cinco!
Eu: Pára! Pára! Ponto de ordem!
Outro: Seis!
Eu: Não, não, raios!! Só dei ainda dois temas: recordar é
viver e conta baixo.
Outro: Sete!
Eu: Estás surdo?
Outro: A surdez é de facto uma condição inimaginável… Mas os
implantes cocleares …
Eu: Acabou a Sétima Onda! Ouviste? E abre os olhos!
Acabou…finito!
Outro: Gostei, sim
senhor. Agora vamos para detrás da persiana e digo eu os temas.
Eu: Acabou. Não há cá mais temas nem sétimas ondas… inferno!
Outro: Pronto. Vamos voltar ao Marcelino… o que ele gostava
de filmes pornográficos!
Eu: Era só para melhor perceber a perfídia de tais filmes!
Outro: Era, era! Gostava pouco, gostava…!
Eu: Eu acho que é de realçar as suas boas qualidades…
Outro: Quais??
Eu: Foi ele que indicou o caminho às tropas no 25 de Abril…
Outro: Isso é verdade. Subiu para o blindado…se bem me
lembro… e lá vai ele a dizer aos militares… siga à direita, agora à esquerda… o
sítio da revolução é ali à frente.
Eu: No fundo, um oportunista. Ele nem era de revoluções…
Outro: Antes da revolução não era, mas depois passou a ser…
como todo o mundo!
Eu: Por pouco tempo… passados dias, com o belo ripanço em
perigo…já estava farto de revolução até aos olhos.
Outro: Como todo o mundo… quer dizer… os ignorantes!
Eu: Alto lá! Há …
Outro: Vamos mudar de assunto. Ai aquela dos pauliteiros de
Miranda no palácio de Buckingham…
Eu: De Mirandela…
Outro: Isso são as alheiras! Os pauliteiros são de Miranda.
Eu: Ai, a minha cabeça! Não foi aí que o embaixador da … do…
ai… a memória de galinha… da Holanda…
Outro: Não era da Holanda. Era da… ui….que não me lembro…
raios… era da Polónia…
Eu: Pronto. Mesmo que não fosse, passa a ser. Dizia eu, que
o embaixador da Polónia morreu de apoplexia com as trapalhadas da diplomacia
portuguesa?
Outro: Não. Ele foi hospitalizado com os desmandos da
diplomacia portuguesa, mas foi quando apanhou o Marcelino em Veneza, disfarçado
de empregado de mesa, a servir a alta sociedade aristocrática e clerical…
Eu: E a ouvir os conselhos do bispo de… ai…é escusado… do
bispo…pronto… sobre a forma como as senhoras devem lavar as partes íntimas sem
pecar…
Outro: Não me lembro disso… mas lavar as partes
íntimas…pudibundas é pecado?
Eu: É, segundo o bispo, se os dedos tocarem as partes sem
sabonete…
Outro: Sem sabonete?
Eu: Quando a pessoa está a lavar-se deve usar sabonete, se
não usar… o que é está a fazer com a mão nas partes?
Outro: Está a pecar. Claro! Que bem visto! Olha que se
aprende muito com a ficção…
Eu: Verdade cristalina!
Outro: E foi então aí que deu o badagaio ao embaixador da
Polónia…
Eu: Um piripaqui…como dizem os brasileiros. Nunca mais
tossiu.
Outro: E como é que acabou aquela grande confusão…confusões…
Eu: Depende de que confusão se está a falar! Não faço ideia…
Outro: Quem é que andava com um capote alentejano numas
grutas… num calor de morrer?
Eu: O Marcelino, certamente. Só ele para se agasalhar na
canícula alentejana…
Outro: Não era propriamente para se agasalhar… era para se
disfarçar.
Eu: Olha, só me lembro que o Marcelino estava a nadar na sua
bela piscina e ela deu de si…
Outro: Deu de si? Como?
Eu: Ruiu. Abateu. O Marcelino ficou a nadar em seco… acho
que contundiu algumas costelas… mas posso estar a ser atraiçoada pela minha
péssima memória…
Outro: Anda que se não contundiu aí as costelas…
contundiu-as noutra parte qualquer…
Eu: As canelas…. Lembraste do advogado americano que lhe macerou as canelas por baixo da mesa do
hotel?
Outro: Se lembro…. Aí houve exagero…. Aquilo foi malhar até
mais não…
Eu: Não se faz… a um pai de família… casado… político… e que
dava o seu melhor… no fundo… era isso.
Outro: Ele tinha dois filhos…
Eu: E sobrinhos!!
Outro: E….
COFFEE BREAK
Eu: Chiça que nunca mais vinha o coffee break. Estou esvaída!
Outro: É muita actividade cerebral….
Eu: O meu com uma gotinha de aguardente…ó faxavor!
Chlép!
Bibliografia:
António Vitorino D’Almeida, Coca Cola Killer, Lisboa, Oficina do Livro, 2008 (reedição)
António Vitorino D’Almeida, Tubarão 2000, Lisboa, Oficina do Livro, 2009 (reedição)
António Vitorino D’Almeida,
Portugal Definitivo, Lisboa, Clube do
Autor, 2012
Wednesday, July 03, 2013
Was ist mit mir geschehen?*
«Als Gregor Samsa eines Morgens aus unruhigen Träumen erwachte, fand er sich in seinem Bett zu einem ungeheuren Ungeziefer verwandelt»
Kafka, Die Verwandlung
* O que é que me está a acontecer?
O que é que nos está a acontecer?
Tuesday, July 02, 2013
Obviamente!
Entretanto, apesar do nonsense da tarde política... com cerimónias de posse e de demissão em simultâneo... apesar de se sentenciar mais uma demissão...entretanto eu, emocional, puramente emocional, gostei de ouvir: Não me demito, não abandono o meu país!
Gostei.
Wednesday, June 26, 2013
Bem...
O esgoto estava sufocante. Que
lugar desagradável, até parece impossível. Tinha eu saído do chiqueiro e
pensava, inocente, que a coisa não podia piorar.
Ali estavam as baratas tontas ( ou seja, não são caras,
são baratas e tontas), caladas que nem múmias. Para quem não conhece, esclareço
que as baratas tontas não querem incomodar ninguém. Nem pensar. Nisto, entra o
rato das botas, pisando algumas patas e
elas, claro, pediram desculpa por terem colocado sulcos sob as botas do rato. O
rato, contente, deu um guincho. Nisto, entra o animal mais repugnante da
infraestrutura escoadora: Pépe le pew, ( leia-se piú, para efeitos de hilaridade,
se for caso disso…) a doninha fedorenta. Porém, como anda a treinar para o jogo
de futebol entre esgotos, que põe pépes le pews
casados contra pépes le pews solteiros, entrou rápido, fez um flique
flaque à direita e saiu ao pé coxinho. As baratas tontas taparam os narizinhos
e suspiraram violentamente, mas com respeitinho, como é seu hábito. O rato das
botas, entretanto, como se apanhou de amores pelos ratos dos computadores, a
que chama “mauces”, para luzir o seu
inglês, pôs-se a passar as patas pelo teclado de um Toshiba. Este, ressentido,
posto que só gosta de ter as teclas dedilhadas com competência, pôs-se aos espirros e pregou-lhe com um vírus no focinho. Todos se riram,
menos o vírus, claro, por ficar alojado em tão ruim defunto. Bem, estávamos
todos nisto, à espera que tocasse, quando entra a madre abadessa com um galo na
cabeça. Um galo mesmo, de Barcelos. Ela tem dois. Põe um na cabeça e outro no
fogão, em cima de um naperão ( ou naperon, como preferirem). Bem, depois de se ter certificado que todos
tinham observado o seu vistoso enfeite, saiu também, mas com pena. Ela é do
tipo de macaca que gosta de ocupar os galhos todos, a puta. Bem, passado um
pouco, entram os dois intrusos, aqueles tontos torpedeiros, patéticos, que
sorriem quando não devem, falam quando deviam estar calados e estão calados
quando deviam falar. Fazem tudo ao contrário. Claro que ficaram no esgoto,
quando deviam ir fustigar-se com um pau de marmeleiro. Ou uma chibata. Nisto,
aparecem duas avestruzes que queriam vender qualquer coisa inútil. Ninguém
comprou. Tratou-se foi de os correr à bordoada e consta até que ficaram um pouquinho
doridos. Faltava ainda a cereja
em cima do bolo. Mas, como não havia cerejas, pôs-se uma uva. Ora, como já se fazia tarde, demos as
mãos e entoámos uma canção do saudoso
Demis Roussos, o good bye my love good bye.
E é nisto que se fica a saber que os resultados do processo de
ensino-aprendizagem não eram famosos. Ficámos todos embasbacados. Pépe le pew (piú), entretanto regressado de
algures, teve um ataque de soluços, mas
não se sabe bem porquê. Consta que se engasgou.
Foi logo proposto que se fizesse um PowerPoint. Bem, o PowerPoint não
caiu bem em certos gotos. Nisto, tocou a
campainha. Estava na hora de sair do esgoto e regressar à vida. Bem, …
(Não se pode dizer que as reuniões não são produtivas... Bem... )
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