A caverna platónica
«A propósito do desmoronamento do mundo moderno, Marx
afirmou: “tudo o que era sólido volatilizou-se”. A derrocada da tradição e a
profanação daquilo que era considerado sagrado significa o derreter dos
sólidos, ou seja, a falência dos antigos padrões através da aceleração das
mudanças. A sociedade assimila a cultura global do mercado e da tecnociência,
provocando abalos incontrolados ao nível da economia, da vida social, das
relações entre as pessoas ou da educação e conduzindo à desorientação, à
insegurança e à precariedade.
Na escola a autoridade e a disciplina estão fora de moda.
Por outro lado, o esforço e o trabalho não são politicamente corretos. Os
jovens devem ser motivados, envolvidos e seduzidos, de maneira a ir ao encontro
de um “aluno-cliente”, numa instituição que se pretende atualizar através do
modelo empresarial, onde só contam os resultados e as estatísticas, em
detrimento do conhecimento e dos valores.
Filhos da socialização eletrónica, os alunos chegam à escola
intoxicados pela parafernália tecnológica (computadores, cinema, tv, rádio,
internet, videojogos, telemóveis, tablets, etc.), condicionados por horas e
horas ligados aos ecrãs e entorpecidos pelos efeitos narcotizantes dos aparatos
que não largam nunca.
Daí que a entrada na escola, e na sala de aula, seja um
regresso à caverna platónica, um voltar ao mundo das sombras e à escravidão,
deixando para trás o mundo verdadeiro (universo digital) onde tudo acontece de
modo vertiginoso e intenso. A escola surge agora como uma prisão e a sala de
aula isola o indivíduo da vida (rede social digital). Quando a porta se fecha
dá-se a queda na escuridão e perde-se o contato com o real (sociedade
tecnológica).
O conhecimento passa a ser alvo de suspeição e o trabalho
docente é desvalorizado. A escola torna-se obsoleta e disfuncional.»
José Augusto Lopes RIBEIRO, em A Educação do Meu Umbigo,
Outubro, 2013
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