Wednesday, October 16, 2013

Lucidez 1


A caverna platónica

«A propósito do desmoronamento do mundo moderno, Marx afirmou: “tudo o que era sólido volatilizou-se”. A derrocada da tradição e a profanação daquilo que era considerado sagrado significa o derreter dos sólidos, ou seja, a falência dos antigos padrões através da aceleração das mudanças. A sociedade assimila a cultura global do mercado e da tecnociência, provocando abalos incontrolados ao nível da economia, da vida social, das relações entre as pessoas ou da educação e conduzindo à desorientação, à insegurança e à precariedade.
 

Na escola a autoridade e a disciplina estão fora de moda. Por outro lado, o esforço e o trabalho não são politicamente corretos. Os jovens devem ser motivados, envolvidos e seduzidos, de maneira a ir ao encontro de um “aluno-cliente”, numa instituição que se pretende atualizar através do modelo empresarial, onde só contam os resultados e as estatísticas, em detrimento do conhecimento e dos valores.


Filhos da socialização eletrónica, os alunos chegam à escola intoxicados pela parafernália tecnológica (computadores, cinema, tv, rádio, internet, videojogos, telemóveis, tablets, etc.), condicionados por horas e horas ligados aos ecrãs e entorpecidos pelos efeitos narcotizantes dos aparatos que não largam nunca.
 

Daí que a entrada na escola, e na sala de aula, seja um regresso à caverna platónica, um voltar ao mundo das sombras e à escravidão, deixando para trás o mundo verdadeiro (universo digital) onde tudo acontece de modo vertiginoso e intenso. A escola surge agora como uma prisão e a sala de aula isola o indivíduo da vida (rede social digital). Quando a porta se fecha dá-se a queda na escuridão e perde-se o contato com o real (sociedade tecnológica).
 

O conhecimento passa a ser alvo de suspeição e o trabalho docente é desvalorizado. A escola torna-se obsoleta e disfuncional.»

 

José Augusto Lopes RIBEIRO, em A Educação do Meu Umbigo, Outubro, 2013

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