Sunday, December 25, 2011

Victor Borge- Monti Csardas


Paizinho, a mãe envia-te a tua música preferida. Junta as avós, a tia Maria, o tio Jaime, o tio Bernard e tio Ângelo e divirtam-se. Beijinhos, Belarmina e Lela.

Saturday, December 17, 2011

Sodade!


Morreu Cesária Évora. Para mim, Cesária é Cabo Verde, e Cabo Verde é os melhores amigos que tive na vida. Aquelas pessoas que são verdadeiramente marcantes, que nos empurram para a frente, que nos levantam, nos animam. É pensando neles e em Cabo Verde que desejo a Cesária Évora - à sua voz doce - que descanse em paz!
Saudade!!

Monday, December 05, 2011

Monday, November 28, 2011

Mariza- Oh gente da minha terra



“No fundo, nós somos todos fadistas: do que gostamos é de vinhaça e viola e bordoada.” Eça de Queirós

Tuesday, November 22, 2011

Bocejo


Não eu, claro! E se o faço, é sempre com a mão elegantemente a cobrir a área onde a acção decorre. Aquela triste acção que nos deixa de dentes à mostra e língua encolhida, queixo pontiagudo e olhos cerrados. (Um mal nunca vem só!)
Falo de uns pobres energúmenos, mais especificamente de um que emite bocejos enormes, como rugidos. Volta e meia, lá está ele de boca aberta a expulsar um vendaval estrondoso. É uma coisa feia de ser ver, de se ouvir e creio que, para quem está mais perto, deva ser também péssima de se cheirar. Hoje, a besta rebentou com a sala onde estávamos. A tarde estava uma merda, porque não há tardes junto à besta que não sejam uma merda. E nisto ele começa a abrir a boca num bocejo de dimensões bíblicas. Então, com a trepidação da coisa, as paredes tremeram e o tecto fendeu-se. Alguém o abafou com um casaco, para impedir a ventania trepidante. Impossível. Num momento, sentiu-se a sala a erguer-se no ar e depois a desabar sobre nós.
Aqui estamos, nos escombros da coisa, presos, cobertos de destroços e algum muco misturado com pó. E a besta, a besta nojenta, insaciável, prepara-se, de boca escancarada, para implodir a cidade. Não ficará pedra sobre pedra. Mas a besta ficará. As bestas ficam sempre! Chiçaaa!!

Wednesday, November 02, 2011

A morte


No Domingo fui à missa de corpo presente de um colega meu. Há quanto tempo não saía ao Domingo! Escusado será dizer que ficar em casa é uma medida para me proteger da medonha da humanidade. Finda a missa, ficámos à espera que o caixão fosse transportado para o carro que o levaria ao cemitério. Eu fiquei sozinha num canto do último banco da igreja. Nisto, o caixão passou. Dei-me conta, como se fosse a primeira vez, de que estava ali guardado o corpo de alguém que jamais seria visto. Fui a primeira a sair. Como a minha casa tem vista para a igreja, ainda espreitei o cortejo fúnebre através da janela. Depois pensei, também como se fosse uma revelação, ontem, o H. ainda comeu na sua casa, junto dos seus, hoje já não volta a casa. Hoje, os seus voltarão a casa sem ele, porque ele vai ficar no cemitério com os outros mortos. A morte é, então, essa ausência de tudo. De movimento. De luz. De refeições com a família. De deitar entre os lençóis. Nada de novo, claro. Mas, para mim, foi como se eu não soubesse antes que era assim. Aliás, daquilo que lembro da morte do meu pai, aquilo que custa é o momento em que se sai do cemitério e se deixa lá aquela pessoa que costumava estar em casa. A casa não é lugar para os mortos! Claro que não. Mas para mim foi tudo uma espécie de revelação. A morte é surpreendente. Foi esta a conclusão a que cheguei.
H., descansa em paz, coleguinha querido. O mesmo para a mãe da CF, que morreu ontem.

Friday, October 21, 2011

A morte de Kadafi...


... ou Kafka revisitado. O mundo está mesmo um lugar perigoso, como costumava dizer Vasco Pulido Valente.
Primeiro, Kadafi era um revolucionário, depois era um líder carismático, depois era um louco sanguinário acumulando com o líder carismático, depois, ficou só o louco sanguinário. Depois tornou-se o homem mais procurado da Líbia. Depois, foi encontrado e morto. Agora, já morto, há todo um aparato para saber como morreu, qual a bala que o vitimou, se terá sido espancado, etc. O mundo fica chocado perante a violência da sua morte. Depois da morte, o funeral deverá ser sigiloso, ficando o corpo em sítio incerto. Acabou a história. Espantoso! Se calhar tudo isto faz sentido, mas eu não vejo qual. E, por isso, nem mais uma palavra sobre Kadafi. Prefiro dar uma palavrinha sobre Kafka: a vida tem-me ajudado a compreender o universo das suas histórias. Todos os dias há uma história kafkiana para contar.

Thursday, October 06, 2011

Steve Jobs


Hoje morreu alguém que modificou a forma como vivemos. Morreu uma daquelas raras pessoas que fez algo de verdadeiramente relevante. Uma verdadeira celebridade, num mundo de celebridades instantâneas, de faz de conta. No dia em que se anuncia o Nobel de Literatura, um poeta sueco de 80 anos, um poeta mesmo, à séria, confirmado por quem de direito no mundo literário, anuncia-se a morte ( detesto a palavra desaparecimento!) de Steve Jobs, o génio informático da Apple. Tal faz-me pensar na diferença entre as ciências experimentais e as ciências humanas. Ninguém ousaria fazer-se passar por um informático, um empresário, um comunicador nato, um génio como Steve Jobs. Mas por poeta, por escritor, o que não falta são impostores. No outro dia lia eu, na net, um texto profusamente ilustrado, de um pobre tonto, kitsch até ao tutano, que dizia, comparando-se a Fernando Pessoa, aspirar à eternidade dos seus escritos. Depois, não é qualquer um que produz um computador. Mas qualquer um produz um "poema" e, pior, arranja editora para lho editar e, pior ainda, arranja lojas que se pensavam sérias para lho vender. Isto menoriza as Letras, as Humanidades? Não, na essência. Mas dificulta a afirmação de uma área de excelência como a poesia, a escrita, a Literatura.
Se misturo a morte de Jobs e o Nobel da Literatura, é porque acordei para ouvir as duas notícias em simultâneo e ambas me afectaram. Uma deixou-me triste. A outra deixou-me feliz. Misturo-as aqui, porque não vejo porque separar aquilo que se admira. E eu tenho uma profunda admiração por aqueles que conseguem ser diferentes e únicos num mundo de plágio, imitação, contrafacção, fraude. Por isso, aqui, em simultâneo, envio um abraço ao Nobel da Literatura, por ser grande e verdadeiro e uma flor grande, e algumas lágrimas, a Steve Jobs. Por ser inimitável!!

Friday, September 23, 2011

Lindsey Buckingham - Big Love (live)



Sou fiel às minhas obsessões! Depois de uma noite de terrível insónia, mas também de sonhos intensos, curtos e esparsos, dos quais não guardo memória, mas guardo a sensação do prazer. E novamente LB, novo e menos novo, sempre lindo. E a imagem final: huuuummmm um homem de voz potente e com o seu instrumento... (expirar!)

Lindsey Buckingham "Big Love" Live Acoustic Performance



E agora, o original, versão acústica! De cortar a respiração!! Homem lindo, ainda por cima, faz lembrar o Colin Firth! bizou, bizou!

Sunday, September 18, 2011

Hitmeister D - Looking Out For Love (Official Video)



Lindo, lindo, lindo! De ressuscitar mortos: eu pelo menos ressuscitei!

Thursday, September 15, 2011

Só dos Mortos Devemos Ter Ciúmes


Só dos mortos devemos ter ciúmes; acordar
de entre as pedras doentes dolorosos
que da beira das arribas nos atirem ao porto
onde enfim se encontre a nossa angústia.
Só eles lutam palmo a palmo pelo espaço
em que já vertical erguemos nosso braço
em busca de que sumo ou de que céu. É que só eles
nos retiram da cama de que por nós foi feita
a escolha: a macieza intensa que julgámos
eterna, que nos parecia tão cordatamente
entregue à nossa própria suma sumaúma.
Só os mortos, horror, inda que vivos, vivem
paredes meias com os nossos dedos, logo afastam
os momentos ferozes que tocássemos, e as nuvens
por sobre o mar dos olhos: é bem feito,
dizem os meninos. Pois que dos vivos vivos
a vida nos desvia e nisso nos conduz, assaz
encaminhados pelo que vamos querendo.
Só os mortos nos mordem, nos apontam
a dedo frio e tenso, entorpecem desejos
e, pois pior, só eles nos expulsam
do vero som dos sinos numa entrega
às palavras baldadas do comércio.
A luta clara que sonhada fosse
pela mão dada e limpa que nos dessem
tropeça, polvo, com misérias nossas
e enterra-te na pérfida, agoniada leira
onde dominam eles nossas bocas e o sangue
que nelas perpassasse. Só os mortos,
invisíveis, letais, pesados entes,
nos disputam a vida, e só por fim nos matam.

Pedro Tamen, in "Agora, Estar"

(Lindo!)

Wednesday, September 07, 2011

O Regresso


Voltei, finalmente, de Ulan Bator. Estou, portanto, de regresso à rotina. As reuniões já começaram, todas poderosas, e vão continuar. A escola tornou-se nisto: um sítio onde se fazem reuniões e actividades (!). A indisciplina e o barulho tornaram-se parte da coisa. São problemas menores. A gente habitua-se. A partir de dia 15, à laia dos martelos ambulantes do filme The Wall, os professores dirigir-se-ão às salas e farão o que for humanamente possível. Entretanto, o desemprego alastra e os que não vão ser desacatados no exercício da profissão fazem aqueles que o vão ser sentirem-se ridículos. De que se queixam aqueles que têm trabalho? De nada. Há que fazer silêncio. Faça-se! No Sábado e no Domingo, volto a viajar... para esquecer.

Saturday, August 13, 2011

Vieram de mota?


Há quem diga que as mulheres se vão tornando transparentes com a idade. Isto, obviamente, porque já ninguém olha para elas. E, claro, só somos visíveis quando nos vêem. Há também quem diga que as mulheres maduras (!) não gostam do seu pescoço. Eu não gosto do meu pescoço. Está dito, para memória futura.
Serei uma mulher madura? Uma mulher de 45 anos é uma mulher madura? Uma mulher que depois de fazer 45 anos nunca mais deixa de fazer anualmente 45 anos, é uma mulher madura? Parece que tenho de concluir que já sou uma mulher madura. Hélas!! Um mal nunca vem só, é caso para dizer.Porém, sim, porém, eu sou visível...Ainda não deixei de ser notada pelos cavalheiros com um bom par de olhos na cara. E confesso que não desgosto, ao contrário de antigamente. Já não acho sinal de boçalidade terminal quando algum labrego passa de carro e me grita: "Olha a loiraça boazona". Também não achei parvoíce, quando no outro dia um labrego bateu as palmas para me fazer levantar a cara, para me apreciar. Eu, claro, como até estava à espera de um colega para irmos trabalhar, levantei a cabeça para ver se era ele. Não era. Era, sim, a minha beleza (ih ih) espampanante a despertar a curiosidade da rapaziada de barba rija. Dito isto, há que salientar o facto dos mocinhos estarem a uma confortável distância da minha pessoa, não podendo, por isso, apreciar a mercadoria de mais perto. Mas, oiçam, também há quem me tenha visto de muito perto, perturbadoramente perto e tenha dito pausadamente à minha passagem: ma ra vi lho sa!! Eu até olhei em redor, para ver se estava ali mais alguém. Juro que é verdade. Não sonhei. Hoje, porém, foram batidos todos os recordes no que toca à parência, à idade e à visibilidade de senhoras maduras. Atentem!
Eu e a minha colega e grande amiga, mais velha que eu, fomos a uma florista comprar uma coroa de flores. O senhor atendeu-nos, disse que levava as flores para o velório, depois falámos de doenças, concluímos que os nossos pais tinham todos morrido com a mesma doença e, no fim, diz-nos ele: "Vieram de mota?" Eu olhei para a minha colega, ela olhou para mim (ambas estávamos com cara de enterro), depois olhámos ambas para o senhor, para ver se ele estava a dizer uma graça, até que ele apontou para o sítio onde nós tínhamos estado à espera dele e vimos uma mota. Pois bem, ele pensava que aquele fosse o nosso transporte. Nós rimos, e o senhor disse: "Então, podiam bem ter vindo de mota, qual é o problema?" Problema nenhum, claro, eu e a minha colega, as duas velhas "charras", a acelerar de mota e capacete nos queixos pelas ruas da Covilhã. Invisíveis, nós?? No way!

Tuesday, July 26, 2011

Flores para Amy


O Zizi pediu para eu pôr flores para o seu amor: Amy Winehouse. Eu ponho, em seu nome e no meu. Amyyyyyyyyyy!? Estas flores são tuas.

Morreu Amy Winehouse


Morreu. De quê? Que interessa. Chegou o seu dia. E ela, pelos vistos, pressentiu-o. É linda a canção em que ela deambula por um cemitério. Teve uma vida curta, intensa, com sucesso, com o outro lado do sucesso, também. Fez a sua vontade. Teve o seu amor: Blake. E deixou canções lindas, com aquela voz belíssima que ela tem...

Monday, July 18, 2011

My Precious!!




Eu tenho estado já há séculos sentada a ver portfolios. Temo até pelo calejamento irreversível da minha parte traseira. Para me fazer companhia, tenho o Senhor dos Anéis em modo muda o disco (compacto) e toca o mesmo. Os dia têm sido aborrecidos (íssimos) e sem novidade, fora os trabalhos que me caem no correio electrónico. Hoje porém, deu-se um happening no meu quotidiano monótono, fastidioso e calejante de partes sensíveis do meu ser. Estava eu muito bem, trep trep trep no computador, quando entra um insecto desembestado e em excesso de velocidade, passando-me uma tangente perturbadora. E nisto ouvi “tumba”: o bicho tinha batido com os cornos numa parede (huuummmm, ando um tanto grosseirota). Depois ouvi “pumba”: o bicho tinha caído de costas no chão, ainda com uma patita ou duas a dar e dar. Não que eu tenho visto, só ouvi e imaginei o fim da história. O cadáver aliás está algures na minha casa em parte incerta. Voltando atrás, no momento em que oiço “pumba”, oiço também o Gollum no filme a dizer de forma arrastada: mmmmyyyyy preciouuussss. E achei giro. Embrutecida, de tanta actividade cerebral, não me ocorreu mais nada senão dizer três vezes: Gollum, Gollum, Gollum. E voltei às correcções.

Wednesday, July 06, 2011

Maria José Nogueira Pinto


Cheguei a casa, liguei o rádio, a TSF, para ancher a minha casa das vozes boas do costume, aquelas que me fazem companhia, e oiço a notícia da sua morte. Não sabia que estava doente. Tinha-a visto há pouco tempo na televisão. Estava debilitada? Eu não notei. Vi-a, como sempre, segura e senhora de si. Fiquei triste. Estava habituada a sabê-la viva e queria que assim continuasse. Queria manter o meu mundo de rostos e de vozes, o meu mundo virtual, aquele que é mais real e me conforta, queria mantê-lo, dizia, intacto.
Tudo vai desaparecendo...até as emoções. Descanse em paz!

Tuesday, June 28, 2011

O Angélico morreu


Horário do Fim

Morre-se nada
Quando chega a vez

É só um solavanco na estrada
Por onde já não vamos

Morre-se tudo
Quando não é o justo momento

E não é nunca
Esse momento

Mia Couto

( em: http://www.citador.pt/poemas.php?op=10&refid=200811100105)

Não era esse momento...!

Thursday, June 23, 2011

A Vida


A minha vida passa cheia de coisas que desacontecem.

Tuesday, June 07, 2011

Poema


meu amor

flor tenebrosa

aqui ficam os nossos medos

descritos a quem descria

hoje não te trago as tuas flores

venho só

Fafe, Educação do meu Umbigo

Nota: Que alívio ter encontrado este poema de palavras simples, ideias límpidas, com um início tenso, um final feliz: "venho só". Não há como estar só. Isso mesmo procurava eu, algo que me afastasse do pesadelo trágico e cómico anterior (do riso, etc.). Com este poema dou um passo em frente. Para trás fica o sonho mau, que para mim, que sou viciada em sonhos, significa um sonho em que aparecem, ainda que desfiguradamente, as pessoas reais, tangíveis, que me magoam.
!

Thursday, May 12, 2011

Poema do Fafe


por isso
partiste
porque nada ouvias e na tua face
a noite crescia quando partiste
viajava aos
meus olhos uma catedral imensa
rumorosa e confusa das manhãs claras
reparava em
todos os sons
e havia sons que eram escadas
outros que pareciam luzes
e alguns que ainda não eram sons quando partiste
todos
edificaram a noite
que ficou uma catedral de silêncio
sem escadas nem luzes
nem faces que nos meus olhos viajassem
quando partiste

Fafe (Educação do meu Umbigo)
!

Thursday, May 05, 2011

A Oeste Nada de Novo


Ontem percorri um caminho curioso. Por onde quer que olhasse, havia peles de cobra ocas. Como sou uma mulher do campo, soube logo que uma família de víboras tinha passado no local para a mudança de pele. Mas uma delas deixou também os olhos: negros, maquilhados, malévolos, sinistros. E eu, que nem costumava desgostar de cobras, agora odeio-as, mas apenas às que têm olhos negros, maquilhados, sinitros e enganadores. Porém... pensando melhor...nada de novo!

Sunday, April 03, 2011

A Noite Passada


Foi uma bela noite, a que passou. Todas as noites são belas. Mas a noite passada, embora bela, não me trouxe ninguém. Ninguém veio assombrá-la. Tornarei a ver a senhora alta e velha - era velha, eu podia vê-lo, apesar da escuridão - coberta de rendas negras, parada em frente à minha cama, como uma estátua, segurando nas mãos um ramo de flores brancas, resplandescentes? Que saudades dela e das suas flores nocturnas e irreais.
Há dias, ou melhor, há noites, vagueava eu por uma cidade decadente, quando me deparei, por três vezes, com um cortejo de oito mulheres, umas altas, outras baixas, todas vestidas de preto, com a cabeça coberta por véus espessos. Lá iam como estátuas, fazendo silêncio, interrompendo o meu deambular pela cidade velha, decrépita e decadente. Depois de desaparecerem, procurei-as, em correrias imensas, pisando lama e cacos velhos. Em vão. Não tornei a vê-las. Depois veio o dia e, como se sabe, é impossível encontrar o que quer que seja de belo e inesperado de dia. O dia horrível, impertinente e feio. Espero pelas noites passadas, presentes e futuras. Porque, como já referi, todas as noites são belas!

( A fotografia é minha, não a roubei da net)

Saturday, March 26, 2011

The Walking Dead


« A solidão é essa morte imensa
onde os mortos não cessam de viver»

Echevarria qualquer coisa, sorry, "O Livro dos Mortos"
!

The Walking Dead: a utopia de um mundo distópico



Esta foi a melhor série televisiva que me lembro de ver. E a melhor obra sobre zombies, ou mortos vivos, ou "mortos que caminham". Mas isto deve-se, talvez, ao facto de eu não ver nestas personagens algo do mundo da ficção. Pelo contrário: assim somos nós, ou eu, pessoas mortas que deambulam às ordens de quem manda e cujo único sinal de "vida" é o instinto de sobreviência que nos leva, como the walking dead, a procurar alimento. Pois se estamos mortos, paralisados por um mundo dito democrático, mas que nos quer inertes e passivos, pois se temos as capacidades de raciocínio, mentais, anestesiadas, que podemos fazer senão comer, comer como animais, andar e comer para nos agarrarmos à vida, porque a morte é tabu. Verdade: a morte é um tabu absurdo. Não nos deixam viver, mas não nos deixam morrer: suicídio? É uma coisa proscrita! Eutanásia? Proscrita! Há que viver, viver sempre...apesar do desprezo com que nos tratam, os senhores que mandam no mundo! Nunca viram "mortos a caminhar"? É certamente porque não se viram ao espelho. É certamente porque não olham para os outros. É certamente porque não se perguntam porque é que para um país estar rico, as pessoas têm de estar pobres. É certamente porque não se questionam sobre os paradigmas económicos que se bastam a si próprios, não servindo as pessoas (ou só algumas), mas servindo-se delas. Exemplos de mortos que caminham?
- os pobres
- os miseráveis
- os que não têm abrigo
- os que procuram emprego
- os que frequentam as escolas para de lá sairem embrutecidos e ignorantes
- os bodes expiatórios
- os privilegiados(= têm emprego, ainda)que são submetidos a avaliações insanas, para se darem conta da sua menoridade
- os que vivem em barracas
- os boçais
- os lambe-botas
- os paus mandados
- os que "apenas" obedecem a ordens
- etc.

Voltando à série. Houve quem dissesse que não tinha gostado do fim, porque não se sabia o que acontecia. Claro que não se sabia, mas é possível saber-se e nem é um exercício muito difícil. Primeiro, não há apenas um fim em aberto, tudo na série fica em aberto, no que toca aos humanos: o homem e o filho que ajudam o xerife, morreram? O racista que ficou algemado a uma barra de ferro, morreu? O infectado pala doença dos mortos que caminham, deixado sozinho, a seu pedido, morreu? E os mortos vivos, será que vão viver, ou caminhar para sempre? Mesmo quando se lhes acabarem os vivos, seu alimento? Bem. Certo é que a ciência falha: morre o cientista e explode o centro de pesquisas avançadas. Os sistemas de comunicação falham, os rádios, os telemóveis ficam sem rede. Os carros amontoam-se sem combustível. Ou seja, não se procure na tecnologia e na ciência resposta para os problemas da humanidade: pois se a ciência não conseguiu sequer evitar a eclosão da doença dos mortos vivos!! O que sobra, neste mundo distópico? Mortos ambulantes, cidades arrasadas, paralisia e um grupo de vivos aparentemente, mas só aparentemente, repito, unidos, que tenta escapar ao caos a bordo de uma camioneta cujo depósito de gasolina não é ilimitado. É um final infeliz? Triste? Negativo? Não, pelo contrário. A série termina, acho eu, com uma bela utopia: um punhado de humanos, com contas para acertar, fugindo numa camioneta frágil, pelo meio de uma cidade destruída e perseguidos por mortos que só querem comê-los. Não é lindo?
!

Saturday, March 12, 2011

Japão


Faz pensar. Põe as coisas em perspectiva. Faz-me sentir mesquinha. Sem palavras.

Sessenta segundos de silêncio pela catástrofe no Japão.

(............................................................)
!
!

Thursday, March 10, 2011

O regresso de Ulan Bator


Regressei ontem, ou hoje, não sei. O tempo altera-se sempre que venho de Ulan Bator. O tempo cronológico e o outro. Em Ulan Bator o tempo é ausência de horas e neve. Fiquei estacionada numa daquelas casas redondas, sujas, apreciando tudo, a beleza, e bebendo chá temperado com banha oxidada. Invadida de frio até à alma. A alma aliás ficou por lá, à minha espera. À espera da próxima viagem, da próxima fuga. Saudade! Saudade de andar pela montanha, sozinha, mas com a minha alma, apreciando a paisagem, o frio, a sujidade, a pobreza, o eco dos meninos do esgoto, a beleza de pesadelo em Ulan Bator.

Saturday, February 19, 2011

Eco


Acabou o dia, cheio de ecos...! Tive de voltar a ligar o computador. Preparar um chá, bolo. Aquietar-me. Tapar os ouvidos. Voltar à minha noite linda e calma. Sem vozes. Sem nada. Duas da manhã. Se o sono for bom para mim, vai deixar-me acordada dentro de um sonho lindo.

Monday, February 14, 2011

Monotonia



Olho em redor e vejo viciados em monotonia, em fotocópia, burocracia. Os viciados no mesmo. Pessoas que apenas seguem pelo caminho já aberto, sinalizado...pateado. Pessoas medrosas de ousar, que olham em redor e fazem a coisa segura, repetida, copiada: extensa. É um batalhão de monótonos de cabelo branco e barriga obesa...até ao vómito.
Salva-me o sonho...nocturno: magnífico! Ontem subi uma montanha de casas - o morro. Lá fui, sempre a subir e a cruzar-me com homens maus, muito altos, de músculos fortes. E eu sempre a subir, pelo meio dos homens maus e dos prédios altos de formas e cores diferentes. Havia uma casa revestida de pêlo longo, permanentemente excitado pelo vento. Tudo cores, subida, casas alucinantes, homens maus com muitos músculos e eu só a olhar e a encher-me de felicidade e excitação. A subida terminou, noite dentro e noite escura, lá bem no alto, com uma feira e carrosséis à beira mar. Terminou numa paisagem de luzes reflectidas nas ondas a espumar na praia: por todo o lado era roupa, mobiliário, bolos, anéis, pernas de frango assado, rissóis, perfumes, maçãs, laranjas, cadeiras de palha, queijos, feirantes transpirados (que eu já conhecia de outros sonhos)e carrosséis de alta tecnologia, enormes, monstruosos, emitindo ruídos mecânicos muito acima do barulho das ondas do mar!
A minha monotonia são os sonhos nocturnos...com muita cor e muito mar...!

imagem: https://www.facebook.com/photo/?fbid=825793139725970&set=a.336597598645529, consultado em 20 de setembro, 2024

Wednesday, February 02, 2011

Requiem...!


Cá estou eu...que exacro manifestações, a dar a cara (enfim, é a que tenho) contra o sistema de avaliação BUROCRÁTICO, moroso, feito por pares, ou seja, fomentador de um péssimo anbiente entre colegas. A escola morreu! O professor que pensa por si próprio agoniza! Mas crescem aqueles que se agarram a minúsculas migalhas de poder! Razão tinham os intelectuais do fim do século XIX. Quem os leu não se surpreende com o que está a acontecer...mas nem por isso deixa de sofrer!

Sunday, January 09, 2011

A perfeição


Quero agradecer ao autor desconhecido da imagem do texto anterior. É uma imagem bela, pefeita. É uma obra de arte. Quero ainda agradecer a todos os homens belos que se deixam fotografar, para que o dia seja mais leve e luminoso. Agradeço, muito, a beleza imensa...!

Morte em Nova Iorque


A morte violenta ainda continua a chocar, a fascinar. A ficção quotidiana surpreende. Era uma vez um homem velho e homossexual e baixo e sem charme, mas simpático.Era uma vez um homem novo, belo, alto, com charme e, parece, heterossexual. Simpático, também. E modelo. Encontram-se, por qualquer motivo que desconheço. Tornam-se namorados, ao que dizem os amigos de um. Não, não se tornam namorados, dizem os amigos do outro, pois ele é heterossexual. Dizem as notícias que foram para Nova Iorque em lua-de-mel. Que estavam muito felizes. Um, o mais velho, adora N.I., quer que as suas cinzas sejam espalhadas sobre a cidade. Mas, dizia eu, estavam felizes, o homem velho e homossexual e o homem novo e heterossexual, a viver a sua improvável e espantosa lua-de-mel na cidade grande, quase capital do mundo. Lua-de-mel num hotel de luxo e intercontinental. Ontem, porém, a TSF dá-me a notícia da morte assassinada do homem velho e sem charme: agredido e mutilado. O outro, o modelo alto, esbelto e, parece, heterosexual, vestiu-se bem e disse que o outro não tornaria a descer do quarto do hotel. Pouco depois, a TSF disse-me que o homem hetero tinha sido hospitalizado e estava sob controlo policial. Tinha os pulsos cortados. O homem, não a polícia. Assim termina esta história de amor improvável, de um homem que amava um jovem belo, que o abandonou num quaro de hotel agredido e mutilado, possivelmente por ele mesmo. Não se sabe. Não se sabe quem é o assassino. Só se sabe quem é o presumível assassino: o jovem belo e hetero, ao que parece. Consta também que a cidade, bela e branca de neve, continua acordada pela noite dentro, como de costume, indiferente às histórias de amor e morte que a escolhem como cenário.
Descansa em paz, Carlos Castro!

PS: que a história não se centre na "orientação sexual" de cada um. Que não se queira que sejam só os heterossexuais a julgar ter licença e legitimidade para viverem as suas histórias de amor.