Thursday, December 03, 2009

poema à duração

os teus cabelos tomaram a cor vermelha
e enloureceram

as tuas cicatrizes multiplicaram-se
e ficaram depois impossiveis de encontrar.

A tua voz foi estremecendo
tornou-se mais firme, sussurrou, tremeu
transformou-se numa melopeia
era o único som na noite de todo o mundo
por fim calou-se, a meu lado

os teus cabelos lisos encresparam-se
os teus olhos claros escureceram
os teus dentes grandes ficaram pequenos
a pele bem esticada dos teus lábios
adquiriu o aspecto de um desenho suave, delicado e macio

no teu queixo sempre liso
descobriram os meus dedos uma depressão que nunca lá estivera

e os nossos corpos em vez de um ao outro fazerem doer
uniram-se fácilmente num só

enquanto na parede do quarto
à luz da lanterna vinda da rua

se moviam as sombras das arbustos dos jardins da europa
as sombras das árvores da américa
as sombras das aves nocturnas de toda a parte.

PETER HANDKE

(M., obrigada por me teres enviado este poema. É lindo!)

Friday, October 09, 2009

BREATHLESS!

De cortar a respiração. A preto e branco. Sábado, pp. 116, 117. O homem de olhos claros está sentado numa cadeira. Tem um lenço no pescoço, a cabeça está levemente inclinada e encostada à cadeira. A pose é de abandono. Os olhos claros, límpidos, olham-nos fixamente. Dois jovens, lado a lado. Ela hirta, como um manequim numa loja. Ele não o está menos, mas os olhos dele são mais expressivos. Um homem de barba, com dois cães junto de si, está sentado numa cadeira, tem os olhos entreabertos, a cabeça está inclinada e encostada à cadeira. Parece levemente embriegado e sorri, muito levemente. Uma família: o pai sentado, a mãe sentada, a filha de pé, os olhos abertos fixamente, as mãos, rígidas, pousadas sobre a mãe e o pai. Três jovens, irmãs, a do meio, muito direita, com as mãos no colo, olhos entreabertos, conserva um semblante rígido. Depois, uma criança, rapaz, sentado numa larga cadeira. Grande de mais para o seu corpinho, vestido com um fato, à homem. Inexpressivo, os olhos são dois pontos que se destacam na cara, não se vê se estão abertos ou fechados. Tem uma mão presa no braço da cadeira. A outra, em cima da perna, segura uma flor. Depois, ainda, mais uma criança, rapariga, dorme, sentada sobre uma cadeira. Em seu redor, bonecas: quatro.
Quase todos estão mortos. Posam uma última vez para a fotografia, aquela mesma fotografia que servirá para que aqueles que os amam os possam recordar, ainda vivos (embora mortos),com os seus cães, família, mãe e pai, irmãs, bonecas e uma flor. Enfim, aquelas coisas que os mortos não têm, lá no sítio,chamado terra dos mortos, para onde vão.
Podia, mas não coloco as imagens. No meu cemitério, respeitam-se aqueles que partiram e, embora estes mortos estejam lindos de morrer, não serão aqui exibidos. Que descansem em paz!

Friday, September 11, 2009

Das Parfum : The Girl with the Plums

Raramente um filme consegue ultrapassar um livro, mas este...! Há neste filme momentos de perfeição. A realização é brilhante. A representação é brilhante! O ambiente...a música, a música chega a parecer irreal. É sublime! Jean Baptiste Grenouille é perfeito! Isolar uma cena é difícil, mas esta mulher morta...inerte... estática...bela ...é a melhor! O Perfume - História de um Assassino. Romance, filme, música: GENIAL!! Daqueles filmes que se vêem mil vezes - no mínimo - sempre de garganta apertada, contendo a respiração e admirando, uma e outra vez, a beleza... a imensa beleza!

Tuesday, September 01, 2009

Oh, a vida, outra vez!


Acabou o mês de Agosto! Há coisa mais triste?

Sunday, August 09, 2009

NÃO TENHAS MEDO DO ESCURO


Claro que não. Não tenho medo do escuro. Tivesse eu medo do escuro, do vazio (ninguém me liga!), da noite, e até dos ladrões, e estava bem arranjada! Por outro lado, não gostasse eu de falar sozinha, dançar sozinha e de fazer grandes orgias livrescas e...estava bem arranjada! Ou seja, começo a falar deste livro, agradecendo as palavras bem intencionadas do título!

Que livro! About death all over! Que surpresa! É um livro que começa com chave de diamante e fecha com chave de diamante. Pelo meio, há portas cujas chaves são de prata, também há bronze...e ouro, também: a chapadona na tromba do homem que era um poema vivo foi uma porta aberta com chave de ouro. Foi de mestre. Deus sabe que ele estava a pedi-las!

Comecei a leitura com algumas ideias sobre o que ia encontrar. Uma obra literária escrita por um professor de Literatura e que, ainda por cima, é meu co-orientador de tese, é dose!! Esperava muito do que está escrito sob o ponto de vista de Edite. Esperava encontrar uma Edite: professora; amante de poesia; culta; bem nascida; doente - não tanto, mas também, a proximidade da morte deve deixar-nos pensativos, sensíveis e atentos. Esperava encontrar aquele ambiente: de cultura; de grande música; de grande poesia. Etc. Mas não esperava, de modo algum, aquilo que faz deste romance algo de único que é... deixa-me cá ver... a sua essência (estou a ser choninhas) . Seja, a sua essência: e qual é ela? A irrealidade!? A ambiguidade!? A paradoxicalidade (?)!? Vejamos, o livro é uma tragédia ou uma comédia? Qual é a mensagem? (OK, parece que já não se usa ver qual é a mensagem) Eu, para ser sincera, depois de o ler e de parar de rir, e de recuperar o fôlego, e de me recompor, cheguei à seguinte conclusão: "Deus afinal parece que existe e morrer é bom!!" Nada que eu não tivesse já intuído. Isto quanto à mensagem! E as personagens? Estão vivas? Estão mortas? Estão delirantes? Estão embriagadas? - Aquele tio bebe e come de mais, e não são só papos de anjo!!- São reais? São imaginárias? Há no mínimo uma que é completamente irreal, ou mesmo surreal: a auxiliar de acção educativa da Escola Secundária de Amarante. Todos os professores do secundário concordarão comigo, ao lerem esta passagem:

« - Venha comigo, senhora doutora, venha comigo. Vou levá-la ao Conselho Executivo: é por aqui, por favor. Por aqui...» (p. 166)

Que tal? Já foram encaminhados assim por alguém? Isto, recordo, quanto a personagens irreais. Claro que há pessoas muito vivaças a passearem-se por aqui e por ali, isto após o seu passamento. Mas isto não sabemos se é da ordem do irreal ou não. Só o saberemos após o nosso próprio passamento! Mas, dizia eu, este romance pretende o quê? Divertir-nos? Consegue fazê-lo. Diz-se na contracapa que «é um romance de mistério, uma homenagem à poesia portuguesa e uma reflexão sobre o valor da vida e o poder da arte.» Mistério, sem dúvida. Todo ele é um mistério! A homenagem à poesia, também. Mais que isso, é uma chamada de atenção para o que é, de facto, poesia, que não tem nada a ver com algumas garatujas que aparecem amiúde como tal. Poesia não é um empilhar de palavras enigmáticas na vertical, nem, tão pouco, uns versos toscos daqueles que fazem sempre rimar mão com coração e tia com melancia. Irritante, a ideia de que todos sabem escrever poesia!! Da última vez que li, no Jornal de Letras, os poemas das novas promessas "do sector", fiquei com os cabelos em pé durante uma semana! Mas, em frente. O poder da arte, concordo. Mas, quanto ao valor da vida, já tenho algumas dúvidas. Não podia ser de outro modo, tendo falado, lá atrás, em ambiguidade. De que valores se fala neste romance? O que acontece verdadeiramente neste romance? Qual é a história? Uma professora que está doente e....(omito informação, não posso dizer tudo),... mas será que ela está mesmo doente, ou está tão doente como o senhor de barbas está... (omito, quem leu sabe o que falta nos espaços!).. ou está tão doente e morreu tanto como a japoneira/ cameleira está fixa no seu lugar, como é próprio das japoneiras! (aqui não omito, porque já se sabe, através da contracapa, que a japoneira andou em bolandas, assim como se sabe que a defunta desapareceu!) Quem estudar o livro vai ter que me contar a história, porque eu li e não a sei contar. ´

Agora para uma coisa totalmente diferente. Eu não esperava um livro cujo tema principal (e único?) fosse a morte! Eu não esperava aqueles incidentes do Pórtico e da Cúpula, ou seja, a primeira e última partes do romance respectivamente. Não esperava aquela agilidade humorística da linguagem, não esperava aquelas personagens excêntricas. A própria Edite, depois de ..., estava tão mais animadinha! Há depois uma série de frases e situações memoráveis... absolutamente do outro mundo. Termino com uma delas.

Começo por esclarecer que, como é dito na contracapa, «um cadáver desaparece». Mas, claro, torna a aparecer. Esse cadáver é o de Edite e o seu tio e irmão esperam-no para lhe fazerem o enterro. A passagem que transcrevo dá conta do estado de espírito do tio e do irmão ao saberem que o corpo foi encontrado:

«Ria-se baixinho, o tio Henrique:
- A Edite voltou da pândega - dizia ele.
E ria-se de novo. Depois assobiava.
Eu acabei por comentar:
_ Se calhar, era melhor não ter voltado.
Pensava eu no caixão - nesse caixão onde ela devia estar: ia dar de caras pela primeira vez com o cadáver da minha irmã. E isso inquietava-me. Talvez por este motivo conduzia eu agora devagar - não com a pressa do início da viagem.
Entretanto, o tio Henrique olhou para mim, antes de declarar:
- Ó Maurício, deixa-a cumprir com os seus deveres de morta, coitada...» (p. 56)

Excelente!

(Magalhães, Gabriel, Não tenhas medo do escuro, Lisboa, Difel, 2009)

Sunday, July 19, 2009

Metrópolis (Fritz Lang; música: Michael Nyman, Time Lapse)

Assim somos, assim nos fazem, assim nos fazemos. Boa matáfora dos tempos que correm, em que, preferencialmente , para nos manipularem, nos despojam de toda a individualidade. Porém, também nós nos aquartelamos no nosso orgulho, no nosso enorme ego, separando-nos por isso dos outros. Fazemos a nossa caminhada cabisbaixos, sós e, pior, sem rumo! A morte, no entanto, aguarda. Ela,e só ela , dará um sentido e porá um fim ao nosso desatino.

Friday, June 26, 2009

Michael Jackson


Estranho, como a notícia da sua morte me abalou. A dele e a de outros. Lembro a morte do vocalista dos Queen. Fui-me abaixo!! Mesmo. Dá para acreditar? No fundo, os chamados amigos, familiares, amados, amantes, aqueles que conhecemos e com quem contactamos ao vivo e a cores, aqueles que tantas vezes enchem a nossa vida de algo parecido a felicidade, são também os que nos desiludem e magoam. Faltam-nos quando precisamos deles e abandonam-nos sem dizer ADEUS! Um belo dia, o dia da nossa angústia e desalento, o dia em que estamos fragilizados, tristes, a gritar AJUDEM-ME!, eles não estão lá, os nossos amigos, familiares, amados, amantes! Mas estão lá os discos, as músicas, os livros, as personagens, os escritores, os filmes, os nossos actores favoritos, as telenovelas, os actores, a televisão, o jornalista que gostamos de ouvir.
Estão lá o Garfield, o Sinhozinho Malta, o José Rodrigues dos Santos, o Peninha, O Jeff Goldbloom, a viúva Porcina, O Carlos da Maia, o Ega, o Zé Carioca, Ravelstein, Mr. Ripley, Gabriel Garcia Marquez, Johnny Depp, Astérix, Berlioz, O conde de Abranhos, Mira Pireza, Tom Jobim, Queen, Hugh Grant, Mr. Bean, o rato Mickey, etc., etc, etc. Estava lá também Michael Jackson, e continuará a estar. Todos eles fazendo-nos companhia com o seu trabalho e com a história das suas próprias vidas. Tudo para nos distrair! Para nos ajudar a passar o tempo. Quando um deles morre, é verdadeiramente o nosso verdadeiro amigo, familiar, amado, amante que morre. É assim que sinto. Por isso, hoje, faço luto. Estou triste. Sinto saudade!
I love you! Rest in Peace :'(

[Clip] Michael Jackson - Leave Me alone

He's dead!
Thank you MJ for your songs, for your voice, for your message.
Thank you for being black! Thank you for being white!
I'm happy you're DEAD( I weep as I write this )! No more decay! No nothing!
REST IN PEACE!!! I love you!

Monday, May 18, 2009

A boa poesia satírica que nos ajuda a carregar a vida!

Poema do alegre desespero

Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,
ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.
Compreende-se.
E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,
e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.
Compreende-se.
Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,

será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.

Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.
E o nosso sofrimento para que serviu afinal?

António Gedeão…

Saturday, May 02, 2009

Porque hoje é sábado


O sábado é o meu dia preferido. Marca a saída da semana - o barulho imenso e incómodo - e está separado de uma outra semana pelo domingo. O sábado é uma barreira, um parêntesis, uma trincheira, um abrigo. Porém, há sábados com as janelas abertas sobre os outros dias. Detesto janelas abertas. Deixam entrar a realidade...

Friday, May 01, 2009

Cockney Rebel..Sebastian..Graphics by raYTurner

lá lá lá láá lá lá lááá....!
Sebastian, - Sebastião o símbolo do saudosismo português. Encontrei-te, não no nevoeiro, mas no grande espaço da Internet. Que saudade, que saudade imensa! I'm haunted, I'm gratefully sad and lonely...!

«...your lips rubi blue never speak a sound...!»
Rubi blue... azuis como um rubi... ! Lindo! Lindo!

Velvet Goldmine - Sebastian

« ...his eyes rubi blue don't speak a sound...»

Thursday, April 23, 2009

Dia dos Livros


Não poderia deixar de escrever daqueles que são a minha companhia silenciosa e dócil. Aqueles que me dizem palavras sempre que delas preciso. Os meus livros. Aqueles - os únicos - que enchem a minha vida de colorido. Aqueles que contêm as pessoas amáveis que me contam histórias, partilham a sua vida, as suas emoções o seu espaço. Agora também como investigadora! Mas prefiro apenas ler...!
O Perfume.
História de um assassino!
Para quê o subtítulo? Ele não sabe o significado do verbo assassinar. Ele apenas vive no mundo dos aromas, dos odores e quer apenas uma coisa: ser amado! O mesmo procuro eu. E na impossibilidade, procuro conforto, algum esquecimento... e muito riso!

Wednesday, March 25, 2009

Deus Lhe Pague - Chico Buarque

Deus Lhe Pague
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague



Monday, March 23, 2009

Beethoven - Moonlight sonata (Luz de luna)

Uma obra que traduz toda a beleza calma da noite, quando as luzes pintam quadros na fachada dos prédios! Quando o ruído baixou para níveis humanos, quando os corpos procuram a cama, os olhos se fecham...quando não há vozes, gritos, ordens para cumprir. Quando os raios tórridos do sol dão lugar à luz fria da lua. Quando só há paz.... o próprio...quando os sonhos se perfilam para encher o sono dos que dormem...
A beleza...a beleza... imensa....!

Sunday, March 08, 2009

A origem do mundo 2 - cont.


Por norma, tendo a não colocar no meu blogue imagens com pessoas mortas. Tenho algum material, não é difícil cologi-lo a partir dos jornais. Mas para mim a morte é o conceito de morte, a sua inevitabilidade.
Aqui, porém, trata-se de um enterro, um enterramento, solitário. Para mim, é uma imagem de uma beleza incomparável. Reparem na ausência de gente, na paisagem, na mulher extremamente magra, no corpo da criança envolto num pano branco...Reparem também na ausência do sentimento de tragédia... no despojamento quase total...
Por esta criança, colocarei um ramo de flores, quando for inaugurada a Igreja aqui ao lado da minha casa.
Descansa em paz, meu amor!!!

A origem do mundo


Resumo, a mais não me atrevo. Feira do livro. Página de livro: mulher nua. Gustave Courbet. Alarido: «Ai Jesus, as partes pudibundas de uma mulher. Tapem os olhos às crianças.» Cruz, credo, etc. Vem a PSP: «Retirar que é pornográfico!» Estes são os factos (mais ou menos). Depois as opiniões:
«Ai que horror, a ignorância do povo!»
«Estamos no século 21!»
«O povo tem razão. As crianças a verem a ...a ...a coisa ...de uma mulher? Isso é certo?»
Etc.
Depois vêm os jornais e os articulistas:
Miguel S Tavares (argh!): «O povo tem razão! Aquilo não se devia colocar à vista das crianças!»
Depois vêm os bloguistas:
«Se uma criança vê a ...a ...a....coisa de uma senhora, explica-se à criança que aquilo é a ...a...a ...coisa de uma senhora.»
«E se fosse isto que a criança visse na capa de um livro?» - o isto são fotografias -ESPLENDOROSAS - de nu frontal masculino!
«Explicava-se à criança que "isto" é o....o ...o... coiso dos senhores.»
«Eu já levei outras obras de Courbet, como o seu quadro o funeral de....»
Aqui entro eu:
« O Courbet tem pinturas de funerais? Oh, meu Deus... funerais (e babo-me, ligeiramente)»

De facto, tem uma obra, BURIAL AT ORNANS, que representa um funeral. De reparar: o número de pessoas, o ar delas, as cores escuras, a ausência de luz, a cova aberta, etc.

Talvez daí, alguém se tenha lembrado de introduzir uma série de fotografias - e não pinturas - que retratam morte e violência extrema e tenha perguntado: « o que é mais aceitável como capa de um livro, o nu ou a morte, a violência?» A pergunta é pertinente. Eu reflectiria sobre o tema, se estivesse com cabeça para tal. Não estou, infelizmente. Porém, entre as fotografias de violência e morte estava uma que me hipnotizou, pelo seu despojamento, a beleza...tudo! Mas essa será objecto de um outro "post".

Saturday, February 28, 2009

Pictures of Mickey Rourke

I came for you...lá..lá...lá...lá..lá..lá...lá...lá... I came for you...

Mickey Rourke

Mickey Rourke! Afinal não morreu como actor, nem como homem. Está vivo e LINDO! Tem um rosto que mudou, que registou mudanças, que contou histórias vividas. Mas continua lindo! Sexy! Atraente! Para mim, ele é verdadeiramente o vencedor do òscar de Melhor Actor.
« I LOVE YOU!!»

Tuesday, February 10, 2009

A morte segundo Alberto Pimenta: POEMA

artur hipólito morreu com 62 an
os, 20 anos após ter feito 42, mas
na altura quem diria?

heitor fragoso morreu atropelado.
foi levado para o hospital, mas es
queceram-se duma parte do corpo
no local do acidente.

manuel testa morreu sem se ter c
onseguido habituar a este modo
de mal-estar no mundo.

arnaldo rodrigues caiu a um bur
aco da canalização e nunca mais
foi visto.

jeremias cabral pôs termo à exist
ência por motivos desconhecidos.
zeca gomes morreu em defesa da
pátria mas a pensar noutra coisa.

antónio de oliveira morreu igual
a si mesmo: triste sinal dos te
mpos!

bernardo leite pôs-se a pensar na
morte e não conseguiu voltar a
trás.

ivo gouveia tinha uma agência f
unerária e escolheu para si um
caixão representativo.

guilherme silva fechou-se no sót
ão, para morrer num lugar eleva
do.

luís dimas respirava saúde, agora
respira um hálito de eternidade.

antónio garcia, o coveiro, teve u
ma síncope e caiu dentro da cov
a que estava a abrir.

bento nogueira engasgou-se com
um pedaço de carne e desapare
ceu do nosso convívio.

paiva de jesus enforcou-se.
joão baptista viu o cunhado lev
antar-se do caixão e teve uma sí
ncope.

lourenço pinheiro estava a ver a
trovoada e um relâmpago entrou
lhe por um olho e saiu-lhe pelo
outro.

jorge velez de castro finou-se
após uma longa vida de sacrifí
cios, toda dedicada ao bem-comu
m. e foi assim: depois de ter inge
rido o seu sumo de laranja, foi c
onduzido para a cadeira de rep
ouso pelo enfermeiro de confian
ça. nela se conservou, de boca en
treaberta e olhos fechados, até
às onze horas. às onze horas, o e
nfermeiro de confiança aproxim
ou-se com a intenção de o condu
zir ao banho. pondo delicadamen
te a mão nas costas da cadeira,
disse: são horas do banho, senhor
director. como este não desse si
nal de ter ouvido, o enfermeiro
de confiança, com a costumada jo
vialidade, debruçou-se e repetiu:
são horas do banho, senhor direc
tor. posto isto, empurrou a cadei
ra até ao balneário, passou um br
aço pelos rins outro por baixo d
os joelhos do director, e assim o
levou para a água, só então se da
ndo conta de que ele já não vivia.

zé maria, o peidolas, foi expulso
da vida pela autoridade compet
ente.

joão gaspar foi um nobre e val
oroso homem que morreu heroi
camente no campo da honra. p
az à sua alma.

raul santos deitou-se um dia e p
or mais que o sacudissem nunca
mais se levantou.

alfredo penha caiu tão desastrada
mente da cama que nem é possív
el dar pormenores da sua morte.

joaquim perestrelo morreu no me
io da missa, qual quê! ainda a m
issa não ia a metade!

sousa dias morreu de pé, mas en
terraram-no deitado, como toda a
gente.

Wednesday, February 04, 2009

Eu


Esta sou eu, no dia em que decidi não procurar mais novas "amizades"! É um facto, as pessoas não me fazem "companhia", falam em abstracto...aborrecem-me. Acabou! Fico com as minhas histórias e as minhas memórias!
Vasco Pulido Valente disse recentemente que preferia estar morto a continuar a aturar o país e as suas gentes.No século passado, Evelyn Waugh, por sua vez, ficou impávido e sereno perante a possibilidade de coisas como a bomba atómica porem em risco a sobrevivência da própria humanidade. Muito falavam os intelectuais na passagem do sec. 19 para o sec. 20 sobre a desumanização do mundo massificado. Curiosamente, falavam caro, para o indivíduo comum, ignaro, preocupado com a vidinha, não os compreender. Hoje, os tiques intelectualóides de carácter abstracto enjoam. Há os "cultos" (!) de telejornal e os "cultos" dos debates - excelentíssimos (sic., ou sick! arghh!)da TVE. Ninguém quer falar de si. É banal! Na viragem do sec. 20 para o sec. 21 começa a falar-se na inteligência emocional, na base biológica das emoções, na importância, portanto, das emoções. Pois bem, o Homem Comum, retrógado e intupido de uma espécie de horror àquilo que não é ideia, intelecto, continua avesso ao progresso, ao verdadeiro progresso do seu tempo, que vai no sentido não da "inteligência" toda poderosa, mas da inteligência emocional. São pessoas paradas na chamada Modernidade cultural, pomposa e avessa ao comum, pessoas que não se aperceberam que o paradigma racional entrou em falência e que vivemos não a Modernidade, mas a Pós-Modernidade. Este horror à vidinha, que O'Neill tanto desprezava, está fora de moda! Não é à toa que os portugueses não cultivam a biografia e menos ainda a autobiografia. Têm horror a si próprios! Aqui, há que fazer justiça a Maria Filomena Mónica, prestigiada investigadora (elitista) portuguesa, que não teve problema em escrever a sua biografia. Curiosamente, ou talvez não, houve quem tivesse ficado desgostoso com o facto dela não ter procedido a um enquadramento histórico mais rigoroso. Lá está! A Professora a escrever sobre ELA e a cáfila intelectualóide preocupada com os enquadramentos!! Prefiro, mil vezes, as mensagens tontas escritas em "linguagem sms" dos jovens, naquela altura em que ainda têm algo de humano para contar, do que as da maioria das pessoas da minha idade, no que têm de "pensamento" pretensamente profundo! Elas, aliás, também se horrorizam com a minha toleima quotidiana e prosa crua e sem enfeites. OK! So what?
Deixei este texto por publicar, devido a uma espécie de pudor, de medo de que fosse lido e pudesse ofender! Como se alguém viesse ler e como se eu não tivesse direito a dizer o que sinto, aqui no meu blogue, no meu diário virtual! Acaso as minhas palavas não são contestadas, cara a cara, com violência? Acaso alguém se importa comigo, e com as prováveis ofensas que me possa dirigir? Quem aqui lê o que escrevo é porque, de algum modo, tem curiosidade acerca de mim. Nem que seja para irritar, faço falta a quem vem ler o que aqui escrevo. Pois bem, lerá a realidade sem politicamente correcto! Por falar, detesto o politicamente correcto, o faz de conta, as palavrinhas mansas. Não sou pela deselegância ou falta de respeito, de todo! Sou pela verdade, pelo menos, o mais possível! Quando o X me disse: «Estou a falar-te do essencial, e tu perguntas-me como estou?» Do essencial? O que é o essencial, segundo este visionário? A importância das relações sexuais na saúde física e mental do ser humano!!! Ah, e quantas vezes já me falou destas essencialidades?? Desde que nos conhecemos e já lá vão muitos anos. O problema é que as outras pessoas que tenho conhecido também só querem falar "do essencial"! IRRA! QUE TÉDIO!

Monday, February 02, 2009

The Who, Roger Daltrey - I am free.

So I am... Forever and ever...! And...that? NO MORE...!

Sunday, February 01, 2009

Problema de Expressão (Clã)

Desistimos das palavras. Somos tão expressivos como defuntos. Cada um na sua sepultura cuida apenas de manter as flores arranjadas. Já nem gestos fazemos. Assim somos....

Sunday, January 25, 2009

Psycho 1960 (opening)

Eu e a minha irmã na Net e ao telemóvel. No You Tube. Psycho, a banda sonora, para comemorar. A minha irmã também gosta das coisas de que eu gosto! Mais ou menos...!

Thursday, January 22, 2009

Neve


Já nevou outra vez. E, como previ, dos três só eu resto. Fez ontem, terça-feira, uma semana que viajei de noite para uma última despedida. Ali estava quem me transportou tantas vezes completamente inerte. É assim a morte, a ausência de movimento visível. A viagem, pela noite adentro, fria e cheia de nevoeiro e, por isso mesmo, lenta, não decorreu sem história para contar. Já de regresso, na parte pior da estrada, estrada antiga e estreita, ocorreu algo de sublime! Sou coleccionadora de histórias! Na ida, naquele troço, tínhamos encontrado um nevoeiro baixo, rente à estrada. Porém, no regresso, o nevoeiro tinha subido, como se tivesse ido espreitar à janela do primeiro andar. Então, quando o carro passava, ele fazia uma tangente e como que se desfazia, mal-humorado. De repente, começámos a ver, ao longe, que havia alguma coisa na estrada, começámos a desacelerar, e os vultos foram tomando contornos. Seriam cães? Eram três. Dois recuados, um de cabeça erguida, na estrada. Estáticos. Três carneiros. Duas da manhã. Nevoeiro alto. Eu quase olhos nos olhos com o animal na estrada. Nem se moveu. Possivelmente, fugiram ao dono. Mas eu prefiro acreditar na mitologia da minha aldeia: os carneiros são a encarnação do espírito maligno da noite. Mensageiros do diabo...
Agora insiro a imagem. Lagoa comprida, Serra da Estrela. A paisagem mais sublime da Beira Interior!
Descansa em paz, meu amigo!

Monday, January 19, 2009

Eyes Wide Shut - Masked Ball

A beleza da noite, das máscaras, do FEIO...!? Como gostaria de ser heroína numa cena parecida, ao som de uma melodia parecida. Como tudo é banal!!
Agora o sol despontou, no meio deste Inverno radioso e frio. Vou tapar as janelas. Preciso de ausência de luz...!

Friday, January 09, 2009

Neva na Covilhã

A neve é o único tom de branco que suporto!
Hoje nevou na Covilhã. Neve mesmo, daquela que cobre tudo. Iniciou ao cair da tarde e, ao anoitecer e pela noite dentro, foi-se tornando mais intenso. Andei uma hora à neve, à noite, sem destino. Passavam por mim carros lentos. Não se via ninguém. Que bom! Lembro-me do último nevão, num dia de regresso a casa, trazida por alguém que, neste momento em que escrevo, poderá ter já partido para nunca mais voltar. Como são as coisas! Quando me falaram da sua viagem eminente, lembrei-me dessa viagem sob a neve e sobre a neve. A minha avó também vinha. Ele tem estado na minha mente, é das poucas pessoas por quem tenho afecto e GRATIDÃO! É Inverno, claro, há frio polar. Dizem! Para mim, este nevão só tem isto de nostálgico, é lembrar-me do outro e dessa viagem que fizemos juntos: eu, ele e a minha avó. A neve é cada vez mais rara na cidade, muito provavelmente, da próxima vez que nevar, só já estarei eu dos três. Talvez!
Amanhã volto, para inserir uma imagem.