Thursday, January 22, 2009

Neve


Já nevou outra vez. E, como previ, dos três só eu resto. Fez ontem, terça-feira, uma semana que viajei de noite para uma última despedida. Ali estava quem me transportou tantas vezes completamente inerte. É assim a morte, a ausência de movimento visível. A viagem, pela noite adentro, fria e cheia de nevoeiro e, por isso mesmo, lenta, não decorreu sem história para contar. Já de regresso, na parte pior da estrada, estrada antiga e estreita, ocorreu algo de sublime! Sou coleccionadora de histórias! Na ida, naquele troço, tínhamos encontrado um nevoeiro baixo, rente à estrada. Porém, no regresso, o nevoeiro tinha subido, como se tivesse ido espreitar à janela do primeiro andar. Então, quando o carro passava, ele fazia uma tangente e como que se desfazia, mal-humorado. De repente, começámos a ver, ao longe, que havia alguma coisa na estrada, começámos a desacelerar, e os vultos foram tomando contornos. Seriam cães? Eram três. Dois recuados, um de cabeça erguida, na estrada. Estáticos. Três carneiros. Duas da manhã. Nevoeiro alto. Eu quase olhos nos olhos com o animal na estrada. Nem se moveu. Possivelmente, fugiram ao dono. Mas eu prefiro acreditar na mitologia da minha aldeia: os carneiros são a encarnação do espírito maligno da noite. Mensageiros do diabo...
Agora insiro a imagem. Lagoa comprida, Serra da Estrela. A paisagem mais sublime da Beira Interior!
Descansa em paz, meu amigo!

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