Eu tinha talvez 4 ou 5 anos. A aldeia era uma como todas as aldeias naquele tempo e naquela geografia, era só natureza: árvores, montes, rios, lindas paisagens e casas modestas. A minha casa tinha alguma cor, digamos assim, mas a minha mãe era uma disciplinadora. A avó não. Por isso, eu ia com ela, de noite, aquelas noites de Inverno, para ficar a dormir na casa dela. A mãe deixava. Porém antes de deitar, íamos fazer serão junto à lareira do senhor e da senhora António/a. Era uma casa escura, apenas iluminada pelas labaredas do lume que nos aquecia. A conversa deles deveria ser interessante, mas eu não a compreendia. Limitava-me a sentir-me bem. Riam todos muito e eu ria também.
O senhor António era o que falava menos, mas ouvia com atenção. A minha avó e a senhora Antónia tinham stocks inesgotáveis de histórias, mas a minha avó era a que falava mais. Eu ficava à espera que o momento de ouvir: "vamos dormir neta, que já são horas" não chegasse.
Estou aqui e estou a ver-nos. Claro que já todos morreram. Do grupo só eu estou viva, ainda. Eu pequenina e loira com os olhos no fogo a sentir-me feliz, o senhor António ora calado, ora a rir. A avó a falar alto cheia de energia e a senhora Antónia atenta e pronta a desatar às gargalhadas, com o abanador de palha na mão, ora abanava o lume, ora abanava no meio das próprias pernas. Não sei se com malícia ou inocência. Que interessa?
Foram os serões da minha infância. Tão banais mas que me faziam tão feliz!
Saturday, May 19, 2007
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