Saturday, September 27, 2025
Sorry if I look a little lost
Saturday, September 13, 2025
Iryna Zarutska
Tuesday, September 09, 2025
Supertramp
Thursday, September 04, 2025
O Regresso Às Jaulas
Sábado. Começa a cair a noite. É
hora de eu começar a viver.
Ontem tive um pesadelo. Estava
num sítio terrível: uma sala com janelas grandes, vidros sujos, estores
assimétricos, muitas cadeiras e mesas com coisas escritas. Havia também papéis
escritos nas paredes. Muitos papéis. E computadores: velhos! Cheirava a poeira
antiga e cheirava também a sujidade acre. Eu entrei na sala e já lá estava
gente. Uma gente grotesca e sem dentes. Uma tinha uns grandes cornos e uns
óculos cor-de-laranja. Outra tinha uma cara muito comprida, cerca de um metro e
meio. Ou até mais. Mas o nariz era pequeno, pelo menos naquela cara grande de
queixo imenso. Havia também uma com três olhos. Não! Quatro. E tinha uns óculos
para os quatro olhos. Mas não tinha boca. Tinha um rosto que era um excesso de
olhos: mudo. Uma era apenas uma poça de gordura com um olho perdido na
imensidão mole e oscilante. Uma ria muito, muito, muito, e abanava os braços. A
outra estava tão quieta, que parecia morta. Havia também um homem: sentado e
absorto dedilhando os testículos. A que estava sentada ao meu lado tinha um
rosto hediondo e indecifrável e um hálito apodrecido: como se tivesse um
cadáver debaixo da língua. Eu tentava sair daquela sala, tentava falar,
gesticular, pedir socorro. Cheguei a dizer, com esperança que me expulsassem:
“odeio-vos”, “detesto-vos”. Espetei uma unha na testa da da cara a perder de
vista. Nada. Disse à do hálito fétido: “metes-me nojo!” Nada. A dos quatro
olhos, tinha dois cravados nos testículos do homem. Os outros dois dormiam. A
que estava quieta caiu no chão. Estava morta. Mesmo. A dos cornos levantou-se e
pisou-me de forma horrenda: fazendo saltar os seus dois pés sobre os meus. Abri
a boca, mas não gritei. O tempo tinha acabado, deixando o som do meu grito fora
do meu pesadelo.
Era aqui que eu devia ter
acordado. Era aqui que eu devia ter aberto os olhos e visto a normalidade
habitual: expectável. Era aqui que eu devia ter saído definitivamente daquele
sítio mal frequentado. Mas não. Era dia. Era verdade. Aquela gente é a gente
que eu conheço. Tal e qual. O habitual. O como sempre. Eu estava /estou aqui
mesmo. É este o cheiro quotidiano de todos os dias. A gente grotesca = normal.
Tudo. Desde o excesso de olhos ao excesso de cara. Desde o excesso de fealdade
ao excesso de muita fealdade. E a burrice? A burrice está mesmo aqui ao lado.
Lambendo os beiços. Bebendo café.
Ninguém vai sair desta sala
horrenda. Estamos habituados uns aos outros. Somos espectadores uns dos outros.
Ninguém prescinde de ninguém. Daqui a nada, uma jumenta, quadrúpede mesmo, vai
dizer: “Podemos começar?” E começamos a falar. A empestar o espaço com
palavras. Quando o expediente terminar, vamos sair do sítio medonho, com a
certeza que no mundo há alguém que não nos suporta. Não nos respeita. Que nos
humilha. Que nos ouve, só para mostrar que não nos ouve. Que nos arrancará os
olhos as vezes que forem necessárias. E nos arrancará cabelos e, pior, nos
encherá de perdigotos. Alguém que não hesitará em atacar-nos as canelas ou até
a barriga das pernas. Alguém que terá prazer em morder-nos a ponta do nariz e
em espetar-nos uma faca metafórica (e não só) nas costas (ou noutro sítio
qualquer). Alguém que, quando ri, é para rir de nós. Alguém que nos quer encher
a barriga de nomes. Podemos contar sempre com esse alguém. Esse alguém e outros
alguéns, companheiros dedicados de gigantescas orgias de ódio. As personagens
fixas dos meus pesadelos quotidianos: dia após dia lá estão, sempre,
infatigáveis e um nadinha mais velhos e mais flácidos e mais repulsivos: medonhos!
PS: Este ano juntou-se à
comunidade um jumento obeso, muito dado à electricidade estática no traseiro,
quando em contacto com cadeiras de plástico. É um pirilampo gigante, embora
seja minúsculo, especialmente na área da cabeça. Pior: é viciado em
confidencialidade. Olha quem! Mais viciado que ele só o Correio da Manhã. Pobre
jerico!
«Ande junte-se aqui, puxe da
cadeira, sente-se, para ver como lhe tratamos da confidencialidade e do resto…».
Wednesday, September 03, 2025
Lisboa... 3 de Setembro