Saturday, September 27, 2025

Sorry if I look a little lost


Busy digging out her own grave...

A caminhada solitária... mas sempre com possibilidade de ficar mais árida ainda... À mercê do virar de costas dos outros. Sozinhos a fazer planos de como conseguir dar mais um passo, ultrapassar mais uma contrariedade. Ninguém se rala. Ninguém ouve...

Saturday, September 13, 2025

Iryna Zarutska

 


Aqui a um ou dois minutos de morrer. Já ferida de morte: esfaqueada pelo monstro atrás dela. Ninguém se levantou para a ajudar. O assassino saiu do comboio com a faca a pingar sangue. Ela, depois, tapou a cara com as mãos, apoiando-se nos joelhos. Não saberia o que lhe tinha acontecido. Foi tudo muito rápido. Depois foi caindo no banco, sempre encolhida, e dele caiu para o chão, a vida a fugir-lhe. Depois, durante uns segundos, não aconteceu nada, até que uma enorme quantidade de sangue, de repente, correu para a área de embarque de passageiros. Muito sangue. Veio-me à cabeça a imagem do filme Shining: a parede a cobrir-se de sangue.
Entretanto, chega um homem e uma mulher e outro homem, para ajudá-la. Pessoas que estavam longe do sítio onde ela estava. Os que estavam perto nada fizeram. Mas ela morreu. Foi num instante. Um dia de trabalho. A hora da saída. O chegar ao comboio. Sentar-se, colocar os auriculares e concentrar-se no telemóvel. Atrás dela, um homem tira uma faca, levanta-se e atinge-a três vezes no pescoço. Depois sai do comboio, a faca a escorrer sangue.  Na imagem, o momento em que ela olha para perceber o que estava a acontecer. Depois, mais nada: sozinha, numa carruagem de um país estrangeiro, perante a indiferença dos outros passageiros, foi caindo, mais e mais até morrer...  


 https://x.com/EndWokeness/status/1966897158763819084/photo/1, consultado em 12 de Setembro, 2025

Tuesday, September 09, 2025

Supertramp


Sou daquelas pessoas que adora Supertramp. Adoro! Andava algo esquecida deles, mas, de repente, morre Rick Davies: voz inesquecível. 
Lembro-me de um dia, em Coimbra, 6.ª feira, ia apanhar o comboio para ir para a casa da minha tia (obrigada, tia, pela ajuda que me deste). Ia apressada. Saí da faculdade diretamente para uma ruela da parte mais antiga de Coimbra. Aquelas ruas estreitas que as minhas colegas e amigas não frequentavam, e me pediam para eu evitar. Elas iam para o comboio no autocarro. Eu ia a pé, por gosto e porque não tinha dinheiro para autocarros. Era inverno, a noite estava instalada. Rua isolada e noite escura: há coisa melhor? Nisto, pela janela de uma casa, aos berros, fazia-se ouvir uma canção dos Supertramp. Eu adorava e tive de parar para ouvir tudo, aos berros, repito, uma barulheira imensa e linda. Foi um momento mágico! Depois, para não perder o comboio tive de correr o mais que pude para chegar a horas à estação...

Descansa em paz, Rick Davies!

Thursday, September 04, 2025

O Regresso Às Jaulas

 


Sábado. Começa a cair a noite. É hora de eu começar a viver.

Ontem tive um pesadelo. Estava num sítio terrível: uma sala com janelas grandes, vidros sujos, estores assimétricos, muitas cadeiras e mesas com coisas escritas. Havia também papéis escritos nas paredes. Muitos papéis. E computadores: velhos! Cheirava a poeira antiga e cheirava também a sujidade acre. Eu entrei na sala e já lá estava gente. Uma gente grotesca e sem dentes. Uma tinha uns grandes cornos e uns óculos cor-de-laranja. Outra tinha uma cara muito comprida, cerca de um metro e meio. Ou até mais. Mas o nariz era pequeno, pelo menos naquela cara grande de queixo imenso. Havia também uma com três olhos. Não! Quatro. E tinha uns óculos para os quatro olhos. Mas não tinha boca. Tinha um rosto que era um excesso de olhos: mudo. Uma era apenas uma poça de gordura com um olho perdido na imensidão mole e oscilante. Uma ria muito, muito, muito, e abanava os braços. A outra estava tão quieta, que parecia morta. Havia também um homem: sentado e absorto dedilhando os testículos. A que estava sentada ao meu lado tinha um rosto hediondo e indecifrável e um hálito apodrecido: como se tivesse um cadáver debaixo da língua. Eu tentava sair daquela sala, tentava falar, gesticular, pedir socorro. Cheguei a dizer, com esperança que me expulsassem: “odeio-vos”, “detesto-vos”. Espetei uma unha na testa da da cara a perder de vista. Nada. Disse à do hálito fétido: “metes-me nojo!” Nada. A dos quatro olhos, tinha dois cravados nos testículos do homem. Os outros dois dormiam. A que estava quieta caiu no chão. Estava morta. Mesmo. A dos cornos levantou-se e pisou-me de forma horrenda: fazendo saltar os seus dois pés sobre os meus. Abri a boca, mas não gritei. O tempo tinha acabado, deixando o som do meu grito fora do meu pesadelo.

Era aqui que eu devia ter acordado. Era aqui que eu devia ter aberto os olhos e visto a normalidade habitual: expectável. Era aqui que eu devia ter saído definitivamente daquele sítio mal frequentado. Mas não. Era dia. Era verdade. Aquela gente é a gente que eu conheço. Tal e qual. O habitual. O como sempre. Eu estava /estou aqui mesmo. É este o cheiro quotidiano de todos os dias. A gente grotesca = normal. Tudo. Desde o excesso de olhos ao excesso de cara. Desde o excesso de fealdade ao excesso de muita fealdade. E a burrice? A burrice está mesmo aqui ao lado. Lambendo os beiços. Bebendo café.

Ninguém vai sair desta sala horrenda. Estamos habituados uns aos outros. Somos espectadores uns dos outros. Ninguém prescinde de ninguém. Daqui a nada, uma jumenta, quadrúpede mesmo, vai dizer: “Podemos começar?” E começamos a falar. A empestar o espaço com palavras. Quando o expediente terminar, vamos sair do sítio medonho, com a certeza que no mundo há alguém que não nos suporta. Não nos respeita. Que nos humilha. Que nos ouve, só para mostrar que não nos ouve. Que nos arrancará os olhos as vezes que forem necessárias. E nos arrancará cabelos e, pior, nos encherá de perdigotos. Alguém que não hesitará em atacar-nos as canelas ou até a barriga das pernas. Alguém que terá prazer em morder-nos a ponta do nariz e em espetar-nos uma faca metafórica (e não só) nas costas (ou noutro sítio qualquer). Alguém que, quando ri, é para rir de nós. Alguém que nos quer encher a barriga de nomes. Podemos contar sempre com esse alguém. Esse alguém e outros alguéns, companheiros dedicados de gigantescas orgias de ódio. As personagens fixas dos meus pesadelos quotidianos: dia após dia lá estão, sempre, infatigáveis e um nadinha mais velhos e mais flácidos e mais repulsivos: medonhos!

PS: Este ano juntou-se à comunidade um jumento obeso, muito dado à electricidade estática no traseiro, quando em contacto com cadeiras de plástico. É um pirilampo gigante, embora seja minúsculo, especialmente na área da cabeça. Pior: é viciado em confidencialidade. Olha quem! Mais viciado que ele só o Correio da Manhã. Pobre jerico!

«Ande junte-se aqui, puxe da cadeira, sente-se, para ver como lhe tratamos da confidencialidade e do resto…». 

https://web.facebook.com/photo/?fbid=444119281884237&set=gm.7865982576817042&idorvanity=350579061690802, consultado em 23 de Julho, 2024 

Wednesday, September 03, 2025

Lisboa... 3 de Setembro

 

Um dia triste... 

https://web.facebook.com/photo/?fbid=29793205196944855&set=gm.9788223721237636&idorvanity=3887632791296788, , consultado em 25 de Março, 2025