Saturday, April 27, 2024

Pesadelo



Acordei com medo do escuro. Depois pensei que talvez não estivesse acordada. Mas estava. O medo, porém, não estava no meu quarto real, na penumbra, com alguma luz, a da madrugada, a entrar pelos limites da janela. Fechei os olhos, para não ficar já acordada à espera do dia. Vi então o que me perturbava. 
Eu estava naquela casa. Tinha ido por um longo corredor para o meu quarto. Atrás de mim, vinha um cão branco, que se imobilizou em frente à porta. Mas eu entrei, e senti logo alguma coisa incómoda. Sentei-me no meio da cama e tentei acender a luz, nos muitos interruptores que saltavam da parede. Mas a luz não acendia. Foi aí que comecei a sentir dificuldade em respirar. Mas eu não estava às escuras. Lá fora, estava o escuro próprio da noite. Mas não no quarto, que estava claro, embora tivesse todas as luzes apagadas. Ah! Era disso que eu estava com medo. Porque é que o quarto não estava escuro? E saí a correr, com a sensação de que alguém vinha atrás de mim. Procurei uma porta para sair para a rua. E vi o cão. Estava encolhido e levemente quadrado. Metia medo. E pena.
Começo então a percorrer o labirinto da casa. Sobre uma mesa vi um x-ato, o mesmo que eu andava há muito para comprar. Agarrei-o. A lâmina fininha, quase meiga. Iria fazer a cena há muito imaginada. Só precisava de um sítio cheio de gente, ou daquela casa de um bairro triste. Sentar-me-ia no meio de todos…ou bateria à porta daquela pessoa. Depois deixar-me-ia ir … Mas para ir a algum lado, precisava de sair daquela casa. 
Distraí-me, perdida em fantasias. Quando recuperei a consciência de mim, vi o cão cada vez mais encolhido a desaparecer num enorme corredor. Era o único caminho naquele sítio. Fui atrás dele, que se movia como se fosse um novelo. Rebolava, levantava-se, andava de lado, olhava para mim com olhos grandes e tristes. E continuava. E a lâmina ia quente na minha mão. Entretanto, a casa transformara-se num túnel infindável. De bom grado me deitaria na cama do quarto claro, sem luz, no meio da noite escura. Nessa impossibilidade, sentei-me no chão, cansada, sem fôlego, ao lado do cão, cada vez mais pequeno, quase invisível. Mas amigo, companhia. Devo ter adormecido naquele corredor. Depois devo ter acordado, mas já não naquele sítio.
Tornei a acordar, com um sentimento de medo, de desconforto. Ouvi, então, ruídos. Vinham do computador ligado sobre a minha cama. Nele, estava Sean Penn no aeroporto, sem fôlego, em agonia, preparando-se para mostrar a todos o que o ignoraram, o afastaram, o desamaram, o incompreenderam, que existia e que iria inscrever-se para sempre na memória deles. O espectáculo da solidão absoluta estava ali à minha frente. Já o tinha visto tantas vezes e tantas vezes me sentara junto a Sean Penn, no mesmo sentimento de impotência e abandono sem remédio. Desliguei o computador. Não estava em condições de ver o plano falhar. Falhar tudo. Sean Penn a morrer no avião que tentara sequestrar. E a televisão a dar a notícia de forma monótona. Ninguém soube sequer que ele morreu: nem a ex-mulher, nem o ex-amigo, nem o ex-irmão. Ninguém. 
A manhã, senti, já estava instalada no meu quarto. Mas ainda era cedo. Fechei os olhos novamente, tentando ver o cão informe do meu sonho. Nada. Voltei ao corredor labiríntico sozinha. Tornei a deitar-me lá. Fechei os olhos, para fazer de conta. Para voltar atrás, o mais atrás possível. Nisto senti um barulho, um murmúrio, e imaginei que o animal estava ali. Na minha mão, senti também a lâmina meiga e salvífica. Estava em posição de continuar a noite até ao meio-dia. Tinha junto a mim tudo o que precisava para me defender do abandono e, sobretudo, do desespero.   

https://jp.123rf.com/photo_25276944_%E9%96%8B%E3%81%84%E3%81%9F%E3%83%89%E3%82%A2%E3%81%A8-3-d-%E6%9A%97%E3%81%84%E9%83%A8%E5%B1%8B.html, em 25 de Abril, 2024

Thursday, April 25, 2024

25 de Abril... a terminar

 


Pode não parecer, mas eu estou a rir-me, porque o feriado está a acabar e amanhã é dia de voltar ao trabalho. E logo de manhã. É tão bom produzir. Levantar cedo, vestir, arranjar a trouxa, sair de casa e ir para o mundo. Para a rua. Levar a luz da sabedoria aonde existe a treva da ignorância. Estou muito contente, mas muito contente mesmo. Mal posso esperar pela passagem rápida da noite. 
Quem me conhece sabe que nada na vida me dá mais alegria, que a ideia de trabalhar, conviver com os outros - tão queridos - e partilhar com eles as aventuras do dia. Especialmente o dia de trabalho. Os coleguinhas do meu coração. Tenho imensas saudades deles e só estive sem eles um dia. E logo hoje, que era dia de a catedrática me visitar e me encher a paciência.  Mas amanhã lá estaremos e o catavento, completamente sem noção, poderá aparecer-me para tornar logo o meu dia ainda melhor.
A esperança é a última a morrer. Que bom!!


...


Wednesday, April 24, 2024

Código de vestuário escolar

Sem comentários.

https://www.publico.pt/2024/04/23/sociedade/noticia/directores-pedem-bom-senso-vestuario-especialistas-impor-restricoes-insensato-2088071 


 

Tuesday, April 23, 2024

Obrigada, ChatGPT!



What is the book Literatura Light a Chick Lit portuguesa by Adelia Rocha about?

ChatGPT

«"Literatura Light: A Chick Lit Portuguesa" is a book written by Adélia Rocha that explores the genre of Chick Lit in Portuguese literature. Chick Lit is a genre of literature that typically features young, independent, and urban women who are navigating the challenges of modern life, often with a humorous and lighthearted tone.

In the book, Rocha examines the emergence of Chick Lit in Portugal and its development within the context of Portuguese literature. She analyzes the themes, characters, and styles of various Chick Lit novels, and discusses the cultural and social significance of the genre.

Rocha also explores the reception of Chick Lit in Portugal, including its popularity among readers and critics, and its relationship to other genres of literature. She examines the ways in which Chick Lit has been influenced by and has influenced Portuguese society and culture.

Overall, "Literatura Light: A Chick Lit Portuguesa" provides a comprehensive analysis of Chick Lit in Portugal, and offers insights into the ways in which this genre reflects and shapes contemporary Portuguese society and culture.» 

Monday, April 22, 2024

Abril, 22...23,24...25!



O dia 22 já terminou. Para mim, terminou às 21:30. Já não conta. Amanhã, o dia será maior. Deveria terminar às 18:15, mas prolongar-se-á talvez até às 21:00. Dia horrível, cansativo, interminável. O bom de terça-feira, amanhã, não existe: horário flexível. 

Depois, virá a quarta-feira, o dia mais longo... Chegarei a casa às 22:30. Mas depois é o dia 25 de Abril... Liberdade, para mim, entenda-se. Claro, 25 de Abril sempre... Mas para mim, este ano, ano em que jurei que iria começar a ser o primeiro dos anos que me restarem em que só pensarei primeiro em mim, será o dia de partida para o meu "ano de aventuras". 

O hotel está marcado, o bilhete comprado e o convite feito: 5ª feira, estarei na estação do Entroncamento. Ficarei lá sentada a ver o que acontece... 

https://playground.com/post/mausoleum-oil-painng-by-beksinski-cltz7czqd07vgs601e576632z, em 22 de Abril, 2024

Monday, April 15, 2024

A família tradicional?!



«A família é um conjunto de egoísmos que janta de pantufas.», Eça de Queirós 

A discussão em torno da família voltou. Voltou juntamente com um conjunto de outros textos acerca de outros temas como a mulher, ou melhor, o lugar da mulher. Aliás, no passado sábado, assisti a uma "live" do prolixo prof. dr. filósofo muito elucidativa acerca da mulher e da família: a dele. O referido prof. concorda, naturalmente, com as teses do livro e elogia de forma hiperbólica os seus autores, sobretudo Paulo Otero, que lamenta que a função da mulher como dona de casa seja muito desvalorizada. Claro que ele tem o direito de se exprimir e de pensar isso. Eu, como mulher, é que não posso deixar de me irritar com esta ligação da mulher à casa. 
Clara Não, colunista do Expresso, que defende posições nas quais não me revejo nem um bocadinho, colocou no Instagram um curto vídeo (story?), mostrando como se deve colocar corretamente um avental: está com um ar feliz, agarra no avental, faz um gesto como se estivesse a preparar-se para o colocar, depois dá uns passos, aproxima-se de um balde do lixo, levanta a tampa e coloca o dito cujo no sítio certo: no balde!! E eu aplaudi. Ou seja, estou aqui, estou a juntar-me às Claras Não desta vida, para mostrar, a quem não sabe, qual é o lugar da mulher! 
Continuando a falar de mulheres, não creio que Otero desgoste da forma como o pdf as vê. Na referida "live", o pdf disse com todas as letras não respeitar nadinha as mulheres ocidentais. Porquê? Porque são feministas, gordas, feias, desdentadas, rafeiras, pobres, burras, promíscuas e dormem com 25 homens em 25 dias. Este mantra é repetido em todos os vídeos do canal dele a que eu assisti. Defende, aliás, que a mulher ocidental, como dá demasiado uso à genitália, fica com ela desgastada. O homem, diz ele, nem tanto, vai mantendo o "avião" em forma, mas a mulher fica com o "trem de aterragem" desgastado. Ele lá sabe em que trens aterra, mas é estranho, pois diz que depois dos 40, mulher, nem pensar! Ele gosta é das novinhas! Muito lampeiro conta, para que não fiquem dúvidas sobre a hierarquia familiar, que a mulher dele lhe diz sempre para aonde vai, embora ele não pergunte. Já ele não dá satisfações. No outro dia, diz ele, ela saiu e ele acabou por sair também. Quando ela chegou, como viu o carro fora do lugar, disse-lhe: saíste? Ao que ele respondeu nada fleumático: saí. Ponto final parágrafo. A mulher dele não é ocidental, escusado será dizer. Não tem filhos, coisa de que Otero já não deve gostar, pois considera o casamento entre homem e mulher o reduto natural da procriação. Mas o pdf não quer procriar. Ao que parece, a mulher ter-lhe-á dito que gostava de ter um filho, a resposta foi assim, ipsis verbis: mas não comigo. O problema estava na idade dela. 
Estes episódios da vida do pdf, da Direita Conservadora e Securitária, vêm ao encontro daquilo que eu penso do casamento, com a devida ressalva para as excepções: uma instituição que coloca duas pessoas a coabitar, sendo que uma - ou mesmo as duas - tudo farão para medir forças ou para permitir a uma que mande na outra sem dó nem piedade. Ora, o casamento é a célula da qual brotará a família: os filhos, os irmãos, os sobrinhos, os cunhados, os tios, e toda a restante multidão incontrolável. É como as turmas nos dias de hoje. Temos uma turma jeitosinha e, entretanto, vai entrando mais um e mais outro e ainda outro aluno, que vão, geralmente, dar cabo da turma por completo. E há que acolher esta gente de cara alegre e dizer umas coisas pedagogicamente correctas. E como hoje o difícil é chumbar alguém, ainda temos sucesso escolar a juntar à algazarra. Já na família, como se move entre muros, não há necessidade de correção alguma. Cada um diz o que quer ou pode e sobra-lhe tempo.  Quantos casais tão mediáticos e civilizados vieram a terreiro com surpreendentes acusações de bebedeira, pancadaria e baixaria insultuosa da pior espécie? E depois pergunta-se, mas porque é que não se notava nada? Pareciam tão felizes. Olha o Johnny Depp e a ex., para referir apenas os de fora? O julgamento, que segui a par e passo e revi uma e outra vez, é um autêntico desfile de horrores. E as festas de baptizado e outras, que começavam muito bem, com muita alegria e amor, e acabavam em pancadaria e ameaças de morte, nos idos da era do restaurante? Isto na fase pós-prandial, pós-vinho, pós-bebedeira.      
Não tenho admiração pela família tradicional, como se fosse o alfa e o ómega da felicidade na terra. A família implica sempre renúncia, humilhação, desfeitas várias. Muito sapo engolido. Claro que há clareiras de bem-estar e felicidade, mas são breves, e há sempre alguém que é mais sacrificado: o bode expiatório, o corno manso, o choninhas, o tonto. 
Bem me diz o meu médico que eu necessito de sair, de estar com os outros, que a solidão não me faz bem. Tá bem abelha! No meu local de trabalho estou bem servida de outros. Apanho um enjoo de outros até ao infinito. Tirando esses outros, não quero mais vivalma a "fazer-me bem". Mais vale um antidepressivo na mão do que os outros a voar. As relações com os outros são sempre iguais. Há sempre um dia em que se mostram as verdadeiras cores. É da boca dos amigos e dos amantes e dos familiares - esses anjos - que se ouvem as piores palavras, as críticas cruéis, é deles que vêm as humilhações e o desprezo. 
Pessoalmente, a minha família sou eu. A minha amiga sou eu. Quem me faz bem sou eu. Dizia o outro de má memória, que eu era alguém que gostava demasiado de mim. Enfim, deve ter sido a única coisa de jeito que saiu daquela boca - olha eu a apoucar, e com prazer.  
Quando entro na minha casa vazia, sei que o pior já passou. O que custa é quando o telemóvel toca... O que custa é quando chega um email... 

 https://www.facebook.com/photo/?fbid=737512191887399&set=a.336597598645529, consultado em 12 de janeiro, 2024

Saturday, April 13, 2024

Homessa!


 «É a "ideologia de género" da maneira que está extremada, como no Canadá, Reino Unido e USA que vai dar cartas à Direita mais extremista. Não posso concordar com linguagens neutras do elu, dos amigues, das casas de banho em que podem entrar sujeitos de barba e batom e de atletas trans - que de trans nada têm, veja-se Lia Thomas - a destruírem por completo o desporto FEMININO. Respeito toda a gente. Se se me apresentar à frente um sujeito de barba e vestido e me pedir para o tratar por ela, fá-lo-ei, mas não vai comigo para a casa de banho! Se me pedir que o trate por elu, viro-lhe as costas, para não o insultar!!!! »

Foi assim que comecei o meu dia, comentando no Instagram uma coisa sobre casas de banho...

https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEguq_JylszJaVaCi-oOZ0LJCYYekTE8ammeVqtwifVXSgBjrXM6HzQrmU2wDHF-l-ivwo8ZZ-6MsysVnU8VtjWhljKP-9VIioP-XYojqrLINOLDmBBZPA6iO3G4bZT48J2uZwP9PXwY6St8CdR1VG7EQB_JnOPIR1-39sHbHLKEAuXveHROuvo0, consultado 3 de janeiro, 2024

Nota: quem fez esta imagem gosta daquilo que eu gosto. Quem será????

Friday, April 12, 2024

Bring Me To Life


«Sings like an Angel, screams like a demon, looks like a Greek God.»

Ele é um Deus grego!!

Saturday, April 06, 2024

O Regresso

 


Esta imagem é-me ligeiramente familiar...

I WANT TO GO HOME!!!