Tuesday, March 19, 2024
Dia do Pai
Friday, March 15, 2024
Sábado 00:40
Wednesday, March 13, 2024
Contributos para a nova Constituição da República!
Depois da visualização de vários vídeos do pdf - prof. dr. coiso - sinto-me autorizada para dizer às mulheres qual é o seu lugar no mundo. Ele, aliás, muito sapiente, sugere que se faça uma revisão da constituição da república, retirando dela todo o lixo socialista, para torná-la verdadeiramente útil e aplicável à realidade. Por exemplo, diz o sábio, na nova constituição deve ficar preto no branco, que o «lugar da mulher é em casa». Ah! E também deve conter um artigo proibindo expressamente as casas de banho mistas. O pdf é um génio! Para que conste, concordo inteiramente com o letrado vulto. Mais: na constituição, deveria haver apenas estes dois artigos, que levariam a um salto civilizacional sem precedentes. Ponham o insigne erudito a governar - e ele quer, ó se quer - e num ápice sairemos da cauda da Europa para nos refastelarmos no seu cocuruto.
Hoje mesmo, este farol de sabedoria, após ter sido desrespeitado por uma «rafeira gorda», como ele diz com piada e propriedade, claro, mostrou o comprovativo das suas competências em matéria de qualquer coisa que agora não consigo precisar. E eu acrescentaria, em sua defesa, o seguinte, que deveria constar também da nova constituição:
E fico por aqui. Termino, assim, com chave de ouro, ouro esse sob a forma de uma frase que deveria adornar também a nova Constituição!
https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/3241/4/Aula%202_Feminismos_Hist%c3%b3ria%20e%20Conceito%20de%20Genero.pdf, em 12 de Março de 2024
Friday, March 08, 2024
A Vingança Serve-se Quente
Friday, March 01, 2024
Sonhos que sonhei... onde estão?
A minha maquinaria orgânica anda a precisar, urgentemente, de ser oleada, pois não só me obriga a passar a noite em interacção com acabrunhantes personagens do quotidiano fabril, como, esta noite, me pôs a fugir de um galináceo.
Eu estava refastelada num banco de jardim, em Faro, rodeada de escuríssimos arbustos e obscuras flores. Era noite. Nisto, oiço:
- Encontrei-te meu amor.
E fechei os olhos. Este ia ser um sonho de encantar, de romance, o meu tipo de romance favorito: aquele que não acontece. De repente, ainda envolta em suspirantes delíquios, senti uma picadela no ombro. Uma senhora picadela, diga-se, de tal modo que me permiti deslizar para a realidade do meu quarto e averiguar o caso. Seria algum companheiro de cama que me agredira? Talvez uma das seis almofadas. Mas elas são tão fofinhas! Ou o equipamento informático (e não só) armazenado debaixo da almofada (inteligente!) do lado esquerdo: o tablet, o Kindle, o telemóvel, o comando da televisão, o comando da box, o comando do ventilador, o pacote de lenços, a caixa de rebuçados para o catarro, a caixa de Strepsils e, triste é dizê-lo, o mata-moscas. Seria possível uma tal agressão por parte de um destes amiguinhos nocturnos? Abri os olhos. Felizmente, continuava no jardim de Faro, mas tinha um bico junto ao meu nariz e dois olhinhos muito redondos a olharem para mim. Era um galo! Levantei-me, fazendo uma prece com os dedos em cruz e tentando, até, fazer a dança da chuva, junto a um canteiro. Mas o galo continuava ali, com as asas muito abertas e espanejantes. Mais: vinha, pata ante pata, de bico em riste, na minha direcção. Pior: ouviu-se, algures da figura da ave:
- Sou eu, amor.
- Quem? – Respondi. – Como se atreve?
E ele, teimoso, avança, esvoaçante e penugento, directo a mim. Foi quando decidi pôr-me em fuga, espavorida, pelas ruas da cidade.
As portas das casas reluziam, fechadas. Das janelas, espreitavam as cortinas, em desalinho de curiosidade. As ruas iam ficando mais estreitas e mais vazias. Éramos apenas eu, em correria, o galo, em esforço cacarejante, e os postes de luz, altos e hirtos, espalhando uma luz miúda.
Estava a ser muito cansativa aquela correria infernal. O bicho não se cansava. Mas, nisto, não só deixei de lhe ouvir o estampido das unhacas no empedrado das ruas, como vislumbrei o jardim onde estivera, há não muito, tão sossegada. Rumei para lá, a arfar. Sentei-me num banco e ouvi:
- Estou aqui, meu bem.
O galo? Olhei. Não. Era um homem, muito bem vestido, um pouco démodé, com um chapéu de feltro na cabeça, da qual se elevava uma frondosa pena.
- Hein? – disse eu.
- Hoje é dia de amá-la.
- A mim?
- Claro, meu benzinho fofo. Hoje é dia 29 de Fevereiro.
- Ah! Desculpe. Estou cansada. Fui atacada e perseguida por um galo. Doem-me os pés de tanto correr… Foi horríiiiiveele!
- Um galo? Olhe que não. O meu benzinho está aí desde que cheguei. Muito estranha. Eu chee..
- Não viu um galo? Uma ave imensa cheia de penas??
- Não, benzinho. A coisa mais parecida com uma ave, diga-se, sou eu, que me engalanei com uma pena para a homenagear.
- Pena de galo?
- De pavão. Pavão!
- Então está a dizer que eu sou mentirosa, que não aconteceu nada?
- Aconteceu sim, a fofa, assim que eu cheguei, ficou muito inquieta. Disse umas palavras misteriosas e depois foi para o canteiro aos pulos…
- Desculpe? Euuuu? Aos pulos?
- Sim. Era uma espécie de co… coreografia. Destruiu as plantas todas e arrancou os goivos pela raiz. Olhe!
- E não fez nada? SE eu fiz isso, por que razão não me agarrou?
- Por causa da poeira, amorzinho fofo. Veja como está cheia da terra.
De facto, havia sobre mim um imenso véu de terra e até algumas ervas. Não podia ser! Expliquei então que tinha sido a correria pela cidade, com as estradas cheias de buracos e com a criatura penugenta a levantar imensa poeira com as patas. E perguntei ao homem démodé, engalanado, se já tinha visto as unhas dum galo.
- Que pergunta, gatinha fofa. Venha aqui para a espanejar.
- Deixe-me. Não me espaneje! Vou embora.
- Fofa! Fofa, estamos a ter a nossa primeira discussão. Deixe-me estreitá-la em meus braços…
E arregalou os olhos, muito contente.
Abraçamo-nos. E, do jardim de Faro, fomos transportados para uma bela casa. Era um sítio antigo, de tectos altos, amplo, com uma sugestão de reposteiros de veludo grená e mobília escura e elegante. A roupa começou a sair do nosso corpo, espalhando-se pelo chão, que brilhava sob a luz de um candeeiro de cristal. Felizmente não ficámos nus, o que seria muito impróprio e indiscreto. Em vez disso, à medida que a roupa saía, íamos ficando cobertos de uma penugem longa e macia, que ondulava. E foi nestes preparos que iniciámos uma sessão de beijos, com os lábios unidos em ventosa, que terminou aos rebolões no chão. Entre beijos e cabeçadas nas paredes e mobiliário, sempre de rojo, com evidente benefício para o enceramento do parquet, corremos toda a casa descendo, até, compridas escadarias. Por vezes, parávamos, ofegantes, um pouco lilases até, já a arroxear, enchíamos os pulmões e, antes de continuarmos o deslizamento beijoqueiro e cabeceante, olhos nos olhos, eu dizia-lhe:
- Ai, querido. Que cabeçada!!
E ele, enlevado e esfuziante de paixão incontida, retorquia:
- Cabeçada? Eu não tenho cabeça! O meu bem fez-ma perder.
Mas tinha eu, e dorida. A testa, um verdadeiro catálogo dos abundantes galos que iriam despontar.
Aos primeiros minutos do dia 1 de Março, o meu homem elegante e démodé desapareceu. Foi-se. Eu fiquei só e pensei: o meu primeiro sonho de amor. E foi tão lindo!
https://br.pinterest.com/pin/216665432057912001/?nic_v2=1a2JU1DAN, em 27 de Setembro, 2020
NOTA: O ÚLTIMO TEXTO DEIXOU-ME TÃO ESQUISITA, QUE TIV NECESSIDADE DE TERMINAR O DIA COM ESTA HISTÓRIA DE AMOR....
O Professor Doutor Extremamente Desagradável
Hoje, dia em que estou particularmente melancólica, a remoer teses em torno de dualidades: centro e periferia, essencial e acessório, palco e bastidores, luz e sombra, verdade e faz de conta, ontem e hoje, etc., estala uma polémica na Internet. Uma de muitas, claro. Um momento: acabo de ouvir a frase «o homem envelhece e a mulher apodrece». Excelente! O professor doutor não deixa os seus doutoramentos por mãos alheias. Mais: «a essência da mulher é a beleza.» E, também, a mulher não tem a estatura intelectual do homem. E por aí fora.
O senhor prof. dr. declara que não é homofóbico, racista, xenófobo e misógino. Confirmo. Estive a ouvi-lo e, de facto, não é. Aquilo que ele diz, não é ele que o diz, é a filosofia. Desde a filosofia grega até aos dias de hoje. Conclui-se, pois, que tudo o que se possa dizer sobre a óbvia inferioridade das mulheres, e dos negros, e dos/das monta neles e monta nelas e, ainda, dos estrangeiros sem qualidades são meros factos. Uma jóia, este senhor.
Entretanto, chegada a casa, e tomados os medicamentos para poder ver e escrever, leio um comentário à douta pessoa e o meu dia, apesar de tudo, começa a findar bem (mais ou menos). Cito:
«Enquanto homem peço imensas desculpas e curvo-me perante todas as mulheres! A evolução natural da espécie masculina apresenta também anomalias evidentes - é o caso. E citemos Torga que parece que escreveu para esta criatura[o prof.dr.*]: "A intimidade desta vida de aldeia é um espectáculo ao mesmo tempo repugnante e maravilhoso. Estrume da cabeça aos pés. Entre o porco e o dono não há destrinça. Mas, ao cabo, esta animalidade toda, de tão natural, acaba por ser pura e limpa como a bosta de boi."!»
* O parêntesis recto é meu.
Fico sempre tão sensibilizada quando um homem - certamente bem abonado, ao contrário do dr. - se indigna, porque as mulheres foram enxovalhadas até à medula, por uma "bosta de boi"...
Muito obrigada, Miguel! Nunca uma citação da obra de Torga foi tão oportuna.
Imagem: https://www.studistorici.com/2018/09/29/guccione_numero_35/, consultado em 1 de Março, 2024