Wednesday, July 27, 2022

O Reencontro



Quando menos se espera, encontra-se aquilo que há mais de dez anos julgávamos perdido para sempre. Tudo começou com a perda dos meus óculos dentro da minha minúscula casa. Os meus preciosos óculos com tecnologia azul para proteger das radiações do computador. Procurei-os por todo o lado. Incluindo o frigorífico. Concluí, porém, que os devia ter posto no saco do lixo. Dei-me um mês, acreditando que ainda seria possível encontrá-los quando menos esperasse. 

Há duas semanas, estando eu com a swiffer a limpar o chão do meu quarto, tive um palpite de que poderiam estar debaixo da cama. Tentei até meter a mão debaixo da dita cama, mas foi só o que coube, a mão, porque há muito pouco espaço, e o braço não cabe. Então, certa de que os conseguiria encontrar, enfiei a swiffer de um lado e empurrei com força para o outro lado, para sair tudo o que eu, devido à limpeza, em vez de limpar, levo da beira da cama para mais longe. Feito isto, espreito o que saiu das profundezas do referido móvel. E nisto, no meio de lápis - 3 -, pacotes de lenços - 4 ou 5 - canetas - 3 -e afiadeiras - 3!! - surge um semicírculo preto. Puxei e era um chinelo de seda, que comprei na década passada, para ir  a Vila Nova de Gaia a um Congresso. Feliz, por saber que os meus chinelos de seda não tinham ficado no Hotel, vou do outro lado da cama e repito a operação de empurrar, na ânsia de ver o par do chinelo. Espreito e, entre mais uns lápis e mais uma afiadeira (como não hei-de ter os lápis todos rombos???), vejo uma coisa com uns brilhantes rosa... Era um outro chinelo que tinha perdido sensivelmente na mesma altura! Os meus chinelos de enfiar o dedo com brilhantes!! E arremeti novamente nas profundezas da minha cama para recuperar os dois pares de chinelos que julgava para sempre perdidos. E eles vieram, empoeirados, mas em todo o seu esplendor. Quanto aos óculos, nada. Nada! Mas, como estava em maré de sorte, pensei que seria melhor averiguar o que se passava debaixo da minha outra cama. Esta, sendo alta, encheu-me de algum orgulho, posto que o chão rescendia brilhante por baixo dela. Mas poderia haver novidade junto à cabeceira, encostada à parede, que surge como barreira, junto à qual se pode depositar o que quer que a vassoura possa levar à frente. Repito a operação de resgate de detritos e eis que sai disparado um chinelo. O chinelo de enfiar o dedo que eu procurava desde o início do tórrido Verão. Feliz por mais este reencontro, ajoelhei-me e retiro o outro chinelo com a mão. Nada de óculos. Mas tinha, finalmente, junto a mim os meus três pares de chinelos! Estes últimos, como tinham acumulado pouco pó, posto que só estiveram desaparecidos durante o Outono e o Inverno, entraram logo ao serviço: calcei-os. E é nestes momentos que eu compreendo que a felicidade não existe, existem é pequenos momentos de felicidade. Nem mais! 

Imagem: Beksinski 

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