- Como vai ser?
- Mista.
- Sim... Como???
- Mista.
Primeiro momento de arranque de cabelos e guincharia. E sermão. A praxe. Continuemos. Grande chefe cabeça de ventoinha elogia à esquerda e à direita. Os elogiados exibem sorrisos semi-bovinos. Mas a madre abadessa toda ela rescende a gado vacum. O costume. Tudo se compõe e segue um momento de acalmia.
- Os materiais... olhem os materiais... olhem os materiais.
- Como diz?
- Como digo? Ando a dizer há décadas! Olhem que, olhem que, olhem que... que eu já nem vos vejo...
Segundo momento de caldo entornado. A santinha do pau oco, de surda que é, quando o assunto não lhe agrada, isto é, sempre, fala com grande alarde, fazendo uma chiadeira horrível ao articular as sílabas. A outra santinha, a do pau anafado, profere frases leves, mas dá para ouvir o rilhar de dentes. Tudo volta à civilidade. Ao verniz.
- A fulaninha está destacada. Seguinte.
- A fulaninha está assoberbada. Assoberbada.
- Mas porque é que estás a falar pela fulaninha? Se a fulaninha está assoberbada, porque é que disse que não estava assoberbada? Ó fulaninha!
- Não estou nada assoberbada. A fulana é que está assoberbada.
- Mas qual fulana? Estamos todos assoberbados.
- Mas a fulana está mais!
- Deixa a fulana falar! É que é tudo a falar ao mesmo tempo. Assim ninguém se entende.
- Pronto. Confundi as fulanas. Não vejo motivo para...
- É que estou cansada. Olhem que... olhem que...
Novo escarcéu. E a fulaninha a desfiar o extenso rosário de incumbências. Todas elas de grande relevância. Sente-se o restolhar de orelhas caídas e pálpebras também. Aquele abaixamento de certas partes quando se está a ouvir das boas. Ou seja, das más. Há um desânimo disfarçado pelo arreganhar dos dentes. Está-se a comer, mas não é sopa, e cara alegre.
Cara alegre!! Como diz o outro, que não perde uma oportunidade de tergiversar: o povo é sereno!
Zdzisław Beksiński- A sad end to an interesting life | S t u f f (brighton.ac.uk), em 14 de julho, 2021
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