Peço desculpa pelo vídeo que publiquei e tinha imagens chocantes. A Pailin costuma matar as rãs antes de as cozinhar. Aquela, nem tinha reparado, estava apenas atordoada. Os mais sensíveis podem ficar descansados que os estúpidos dos internautas não aplaudem a crueldade contra os animais.
Mas peço desculpa sobretudo à Pailin, minha amiga e companheira, por mais um insulto recebido. Se em vez de viver a vida dela, alimentando-se daquilo que caça e pesca, se limitasse a ir a um café da Baixa Lisboeta, por exemplo, e escolhesse uma lagosta exposta num confortável aquário, lagosta essa que, depois de ser enfiada viva em água a ferver, lhe aparecesse corada e quieta numa travessa, já não teria de ouvir voz de prisão. Eu própria serei um pouco selvagem. E bem. Cresci numa aldeia em que se matavam as galinhas cortando-lhes o pescoço e matando o porco com uma faca directa ao coração. Para não falar da carne que comemos e que provém de animais aprisionados toda a vida - curta - em pequenas jaulas, seguindo depois para o matadouro, onde recebem uma morte indolor, claro. Lembro-me de, no restaurante do meu pai, ver cabritos mortos e esfolados com alguns músculos ainda a tremer, com espasmos. Mas é a Europa, a civilização, o sítio onde o único animal acossado é o ser humano. Não se coloca o ser humano vivo numa frigideira quente, claro, mas ofende-se esse ser humano com palavras duras, virares de costas, desprezo, humilhações, abandono... esquecimento.
É a civilização.