"Ou Travolta"nos
clássicos portugueses. Na semana passada, saiu uma notícia no Observador -
jornalzinho deprimente, só se safam as crónicas sobre literatura - acerca de
uma conferência nos EUA sobre Os Maias, em que
se apontava o racismo que permeia a obra. Desde logo, as associações
benignas em torno da branquitude e as negativas em torno da negritude. Os
comentadores do Observador, nacionalistas e negacionistas do Covid e, quiçá,
terraplanistas, atiraram-se às canelas da investigadora, espumando de fervor
queirosiano. Eu própria também espumei. Mas não sou negacionista, nem
terraplanista e só moderadamente nacionalista. Bom, hoje vem no Público a
notícia sobre o racismo nos Maias, segundo a professora universitária de
português e doutoranda de estudos "luso afro e creio que
brasileiros", nos EUA. Mais, vem a opinião de que Os Maias devem ter uma
nota pedagógica falando dessa faceta racista e - aqui é que eu fervo e espumo -
não se recomenda a proibição da leitura do romance. Deixa-me citar, que é melhor:
« “É um material para explorarmos
valores e comportamentos relacionados com a raça que existiam na época, mas que
continuam a se manifestar em vários aspectos da sociedade actual. Não vejo o
cancelamento de sua leitura como uma solução.”»
Ora bem, para além do
anacronismo, do ler uma obra do século XIX à luz das ideologias deste triste
século esquizofrénico, o que me põe de cabelos em pé é o desplante de sequer
conjeturar o cancelamento do livro. É que não sobrava livro nenhum! Ia tudo
para o galheiro. Os comentadores do
jornal Público, que são mais civilizados, apresentaram argumentos mais
sensatos, embora quase todos no sentido de defender o nosso Eça e os nossos
Maias. E eis que há até quem dê pistas sobre novas leituras:
«Espero com curiosidade que a investigadora
se debruce sobre o mérito e o racismo do Bocage e da "Ribeira" onde
ele enaltece épica e poeticamente o marsapo e as "Ações famosas do fodaz
Ribeiro, preto na cara, enorme no mangalho". Aqui sim, desde o título ao
último verso penso que há mais que abundante matéria para a investigadora e
dezenas de investigadoras descobrirem racismos em barda na sociedade portuguesa
anterior ao Eça que dariam para várias teses de doutoramento e agregação.»
No meio disto tudo, só o
adjectivo fodaz para me fazer rir.
https://www.publico.pt/2021/03/07/culturaipsilon/noticia/passagens-racistas-maias-justificam-nota-pedagogica-defende-investigadora-1953397?fbclid=IwAR0240juAu919yl-xRju1AoQpHIBb-GFf1yDNLZajGi5mhEhd46UdqFL0g4, consultado em 7 de março, 2021
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