Saturday, December 31, 2016
Sixteen/seventeen
A minha secretária está quase vazia. Faz hoje um ano, estava em contagem decrescente, não para a meia noite, mas para o dia 8 de Janeiro. 31, 1, 2, ... 8: concluí o meu Doutoramento. 2016 foi, por isso, um ano memorável para mim. Encerrou dez anos de estudo - mestrado, doutoramento - durante os quais se foram consolidando rupturas. Umas vieram de mansinho. Outras eu tentei que não acontecessem. Outras não me ralei nada que tivessem ocorrido. Agora, já não há nada a fazer. Vou avançando sozinha. Mudei. Estes dez anos fizeram-me mudar. Sou mais eu. Por um lado, perdi a paciência para o que não tem remédio: acabou, enterra-se. Por outro, aprendi a calar-me e a disfarçar a impaciência perante as cenas cada vez mais tristes da minha "vida" "profissional".
Não posso dizer, como John Stewart, « I'm not going to silence myself to comfort your ignorance». Eu calo-me quase sempre. Por falar em ignorância, li hoje o excelente artigo de Pacheco Pereira acerca dos "novos ignorantes", no Público. E não poderia estar mais de acordo com a seguinte frase:
«(...) um dos aspectos mais agressivos desta nova ignorância [é] o ataque ao saber, ao conhecimento certificado, em nome de um igualitarismo da ignorância.»
https://www.publico.pt/2016/12/31/sociedade/noticia/a-ascensao-da-nova-ignorancia-1756629
Aliás, tenho ainda bem presente o gozo, a troça de sua excelência, acerca do assunto que estava a ser tratado com base, claro, em textos de especialistas na matéria. Quando se pensa que a coisa não pode piorar ... E eu, que a dado momento ainda tentei argumentar e levantar a voz, acabei por me calar e assistir apenas ao triste espectáculo.
O que é que lamento? Lamento que tanto livros como filmes - narrativas, histórias - cada vez me surpreendam menos. É tudo muito previsível, muito visto. Mas, como a ficção não me anima e já esgotei George Gissing, virei-me para o ensaio e para novos temas. Estou a acabar uma história da higiene: The Dirt on Clean: An Unsanitized History de Katherine Ashenburg. É bom saber que tomar banho já constituiu, em tempos, uma agravante em caso de crime. Aliás, tomar banho era coisa de gente nada recomendável. (Nota mental: não posso dizer isto a suas excelências, pois elas vão dizer que eu bebi antes do desempenho das minhas tristes funções laborais.) O que é que me fez vibrar (mais ou menos, claro, tendo em conta as minhas parcas capacidades vibratórias)? Breaking Bad! Mr White, Bryan Cranston. Série excelente: história bem escrita, bem pensada, bem interpretada, intensa. Inesquecível. E voltei a sonhar e a lembrar-me de tudo.
Pessoalmente, o que é que interessa pessoalmente? Aquilo que já escrevi é pessoalmente. A minha vida é cada vez mais a minha pessoa. E a minha casa. Este ano espero poder dedicar-me a ela. A fazer dela novamente o sítio limpo e confortável onde me sinto bem. Tem custado, mas é urgente que, depois de me refazer a mim, de me recompor, me vire para a minha casinha e a ponha linda e limpinha como ela merece e eu gosto. Em dez anos acumulei muito papel, muita folha e ainda não consegui desfazer-me de tudo. Tem que ser este ano: prometido!
Que horas são? 22.35. Vou tomar café.
Saturday, December 24, 2016
Sozinha em casa
É o meu primeiro Natal sozinha. A família está reunida na aldeia. Estamos todos bem, portanto. Já recebi mensagens e enviei algumas também. E quando há "comunicação", há informação e há que aprofundar os temas na Internet. Está lá, cá, tudo. O vate publicou, e bem, e houve faladura, e mal. Lembrei-me de Eco. De facto, a Internet é um equalizador de primeira: o escritor e o escrevente, o poeta e o versejador, não interessa, é tudo igual. E eu, se tivesse juízo, não me ralava nada com isto. Mas não consigo, irrita-me. Que cada um escreva e publique o que quiser, segundo aquilo que é próprio do tempo, da pós-pós-modernidade, como escrevia alguém um destes dias, mas que não se confunda o "corredor de fundo com o fundo do corredor"! É o mínimo.
Já desabafei, posso então deixar agora que o espírito natalício desça sobre mim. Não é difícil: estou quentinha na minha cama. Tenho pastéis de Tentúgal e vou permitir-me tomar um outro café (não com whisky, como gostaria, por causa dos antibióticos). Para além disso, estou a meio da autobiografia de Walter White, isto é, Bryan Cranston, a personagem inesquecível de Breaking Bad, a melhor série de todos os tempo: sem exagero! Depois, como esta é noite mais longa do ano, terminá-la-ei com um filme de época directamente do Youtube.
E desejo muitos parabéns ao Menino Jesus, que nasceu há precisamente 2016 anos. :)
Monday, December 19, 2016
Pictures of my own
Esta é uma bela canção para exprimir tristeza por uma amiga que morreu e com a qual nunca falei, nem conheci. Eu sabia que ela estava muito doente e a sofrer e a lutar pela legalização da eutanásia. Mas eu pensava que, apesar da sentença de morte (esta doença é assim mesmo), ela era eterna, porque eu gostaria que assim fosse. Afinal, Laura Ferreira dos Santos morreu mesmo. Cheguei a escrever-lhe, mas não tive coragem de enviar o e-mail. Agora já não posso fazer nada. Aliás, posso apenas tentar recompor-me pela perda de alguém que gostaria de ter conhecido, com quem gostaria de ter falado, enfim… posso apenas fazer o luto.
Saturday, December 17, 2016
Monday, December 12, 2016
Normalidade
Está tudo bem, tudo no seu devido lugar. Bob Dylan recebeu o prémio, enviou o discurso e sentiu-se muito honrado: fez bem. Houve comparações com Shakespeare quanto à génese da sua obra, que este também não estaria preocupado em escrever Literatura. Pudera! Ainda não se falava em Literatura. Houve também referências à escrita que comenta a realidade, que é entendível por todos, etc., etc., ao contrário dos Literatos, aqueles à séria, os façanhudos, que deixam a realidade para os jornalistas e ... os cantores, e as telenovelas... e a Margarida Rebelo Pinto, etc..
Claro que estou a fazer uma série de misturas. Estou cansada, tenho desculpa. Depois, quem se preocupa hoje com o rigor, quem se rala em chamar os bois pelos nomes? Quase ninguém. Pois se se perspectiva que "pós-verdade" possa ser a palavra do ano... Ah! António Guerreiro falava no outro dia em pós-literatura. Vejam só! Não entendi bem aquilo que ele quis dizer, e não irei investigar tão cedo, posto que se aproxima o Natal, a festa da pós-família.
Agradeço ao Nobel, contudo, o facto de me ter dado assunto para escrever este texto. As últimas semanas têm sido demasiado típicas: violência verbal, psicológica e ignorância boçal. O normal. E eu não estou com disposição para escrever sobre a normalidade...
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