Wednesday, November 16, 2016

A ignorância arrogante


Quando penso que já ouvi tudo, e estou, por isso, imune, sou subitamente soterrada por uma torrente de ignorância alarve. Nem sei bem se estava, de facto, onde era suposto. Pela conversa, estava numa tasca de aldeia, manhosa, à hora em que os clientes já estão ébrios, embriagados, enfim: emborrachados. A frase mais benigna e lúcida foi «Salazar devia voltar para a nossa salvação. Eu nunca vivi em ditadura, mas os "antigos" dizem que ele era bom.» Pela amostra, imagine-se o resto. Claro que o tom e o volume com que estas frases foram ditas é condizente com o seu conteúdo: era uma berraria insana, uma gritaria, um caos! Eu, caladinha que nem um rato. É escusado. Quando a ignorância abre a garimpa, os outros baixam as orelhas. Assim fiz. Não há argumento possível, não há luz, não há nada que consiga penetrar tanta treva, tanto obscurantismo, tanta burrice. E ainda estou a meio da semana e no próximo sábado tenho dentista. Só tarde poderei sentar-me, puxar de um livro e ser salva.

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