Tuesday, January 15, 2013

O pensamento pronto a vestir e a sociedade da incultura

Este era um blogue para falar sobre a morte. Por isso mesmo, passei a falar também aqui da vida. Em Portugal, as pessoas ou estão mortas, ou moribundas ou a cuspir no túmulo dos privilegiados. Os poucos que estão vivos, espera-se que morram depressinha, porque um morto não adoece nem faz despesa. Isto é, este é um país death-friendly.
 
Um bom português é um português morto ou um português emigrado. Um mau português é  um funcionário público. Um português típico - tragicamente típico - é o português que vê quem está no poleiro, quem precisa de ir para o olho da rua, é o português que espuma de raiva contra a súcia da função pública. É aquele português a quem ninguém come as papas na cabeça, pois é muito esperto, claro. É o português cheio de razão, porque faz parte do grande rebanho que professa o pensamento único, sempre muito atento aos privilégios dos outros. É o português que gostaria de estar ainda na década de 60 ou por aí. Um tempo em que não havia  estes privilégios de acesso a saúde e educação, em que o povinho era ignaro e morria cedo, uma benção para o estado do défice público.
O programa do português de pensamento único é exterminar os funcionários públicos. Este português iletrado e inculto usa a cabeça apenas para usar chapéu. Raciocinar é uma função que está tolhida, substituída que foi, há muito,  pelo ódio aos privilegiados. É a emoção negativa, mesquinha, de quem só está bem quando os outros estão mal. O problema é que são mais que as mães, estes desiluminados. Não há pachorra para as suas lamúrias, as suas cassetes.
Desactivei os comentários...  Isto é um muro das lamentações? É! Mas das MINHAS lamentações. Não há traseiro para aguentar as lamentações dos outros, menos ainda para os aturar a desejarem, plácidos, que eu, privilegiada, seja colocada no desemprego, para aprender o que são necessidades.
O português tragicamente típico olha sempre para baixo. Quer sempre nivelar por baixo. Quer que os outros estejam abaixo de cão, para ele poder sentir-se ao nível de cão. A mais não almeja, diga-se.  É muito acomodado este português: desde que todos, ou, no mínimo, o maior número possível esteja mal, ele já está bem. Vejam só!! Para este português trágico o importante é desanimar a malta... ! Que pobreza!
E agora para algo completamente diferente. O Paulo Guinote hoje está com os grandes a discutir o país. Finalmente, senhores professores, temos um dos nossos a falar. E a falar bem, como seria de esperar de um homem culto, letrado, que escreve, raciocina, investiga, lê. Grande Paulo Guinote!! Se não fosse o alento que vou buscar ao "nosso umbigo", já tinha morrido de tédio, desespero, falta de paciência e outras maleitas avulsas, próprias de um mundo de faz de conta, onde se fala muito e se pensa pouco. Aliás, não se pensa nada!