Thursday, December 20, 2007

Maria José



A morte ronda os que amamos: família, amigos, colegas. Não sou pessoa de festas, comemoração de dias feriados, casamentos, baptismos e outros pretextos para as pessoas se juntarem. Sou uma espécie de corvo. Fico perto das pessoas nos momentos de ... dor. Sou pessoa de velórios, enterros e missas de sétimo dia.
Recentemente morreu uma colega, a Maria José. Não era minha amiga particular, nem pessoa da qual estivesse muito próxima. Era, no entanto, uma pessoa que me merecia todo o respeito pela sua discrição e simpatia. Há muito pouco tempo antes da sua morte, tinhamos estado sentadas lado a lado, a trocar impressões sobre a escola de hoje. Banalidades!? É possível que sim, porém foi um momento em que estivemos juntas, pela derradeira vez, falámos e estabelecemos laços. Será um momento que sempre recordarei. Por motivos - outras mortes, embora simbólicas - de que não falarei não estive presente para um último adeus. Mas fá-lo-ei, se não morrer antes, claro.
Deixo, por isso, aqui umas flores para ti, minha amiga. Espero poder brevemente poder oferecer-te outras, verdadeiras, com cor, volume e aroma. Descansa em paz!

Monday, December 10, 2007

Tomorrow Never Dies

Unless we die...then... who cares? Beautiful song! It makes me feel so desperately alone...

Sunday, October 14, 2007

Morrer

A revista Sábado de de 27 de Setembro, trazia um artigo sobre o suicídio: DOUTOR SUICÍDIO. Nele se fala de Ton Vink, professor de Filosofia, holandês, que é conselheiro da eutanásia. Vink prefere a palavra "auto-eutanásia" à palavra suicídio. Que faz este senhor? Dá conselhos sobre como morrer bem, àqueles que não aguentam ou não querem viver mais.
Todos os dias alguém nos mata um pouco com uma palavra assassina, usada para aniquilar. Mas se a vida nos pesa, ninguém nos pode aliviar. É crime. A vida é sagrada. Vink e outros dão aconselhamento sobre métodos para ter uma morte doce. Aconselhar não é crime. Ainda bem!

Sunday, September 02, 2007

Drop Dead Gorgeous


É este o nome da colecção de fotografias de Daniela Edburg. A fotógrafa quer aliar o "glamour" à morte. Tendo por idéia base os alimentos e outros produtos de consumo que podem levar-nos à morte, Daniela fez uma série de fotos onde recria quadros e cenas famosas de certos filmes aos quais adiciona o tal produto.
A revista Sábado mostra-nos as seguintes obras da colecção: Morte por algodão doce, Morte por bolo, Morte por gomas, Morte por Canderel, Morte por tupperware, Morte por Oreos e Morte por bananas.
É essa morte que aqui deixo como ilustração. A fotografia recria uma cena do filme "Os Pássaros" de Alfred Hitchcock. Acho-a, bem como as outras, absolutamente genial!
A propósito, não sabia que as bananas podem matar... A morte pode, afinal, ser tão doce.

( Revista SÁBADO, Nº.174, p.94)

Tuesday, August 07, 2007

Cemitério de aldeia


Há quem diga que o cemitério está desleixado, cheio de ervas daninhas. E está, mas eu acho que as ervas daninhas lhe dão uma beleza adicional. Porque é que as flores do campo não hão-de crescer livres, por entre as campas? São flores na mesma. Verdadeiras, lindas e sempre prontas a homenagear quem ali descansa.

Wednesday, August 01, 2007

Alkan: Marche Funèbre, Op. 26

A marcha fúnebre de Alkan é arrepiante... e bela. Belíssima!

Mozart - Marche funèbre

É linda de morrer....!

marche funebre

Adoro a marcha fúnebre. Esta é a de Chopin. É linda, triste, mágica!

Tuesday, July 31, 2007

Cemitérios


Nenhum dos meus amigos gosta de cemitérios. Acham-nos sinistros! É para lá que se vai quando se morre. Ninguém parece apreciar a sua última morada. Que ingratidão!
Lembro-me do primeiro enterro a que assisti e me ficou registado na memória. Tinha morrido uma amiga. Depois de acomodada no caixão, com rendas e flores, foi depositada na igreja. O velório durou a noite inteira. Ficámos sentados nos bancos duros a noite inteira, fazendo também algumas incursões pela noite, para espantar o sono. Contaram-se anedotas, claro! Contam-se sempre anedotas nos velórios, se bem que, os novos espaços dedicados à função sejam de tal modo apertados, que se perdeu este venerável hábito da piada à boca da urna. Afinal, não convém rir na cara do defunto. A piada fúnebre deve manter uma certa compostura. Há quem diga que esta é uma forma de canalizar as emoções e atenuar a tensão. De facto, o ser humano parece estar sempre tenso! Por isto ou por aquilo, por tudo ou por nada, o ser humano está sempre a acumular tensão. Continuando, fez-se portanto o velório pela noite dentro. O enterro, no entanto, era no Norte, a uns 400km do lugar onde o corpo se encontrava. Não me lembro se tomámos o pequeno almoço e partímos ou se almoçámos e partímos. Não sei. Foi há muito tempo. Sei é que chegámos ao cemitério quando a noite começou a cair. Chovia também. Uma chuvinha miúda e persistente na escuridão cada vez mais plena do início da noite. Parece que estou a ver: chove, há um muro branco ao fundo, há lápides a escurecer na noite, o caixão ergue-se e depois vai sendo descido para o jazigo, agora vê-se só um triângulo do caixão e tudo fica imóvel. Em redor, as pessoas protegem-se da chuva. São poucas pessoas. Estão incomodadas com a noite e com o cemitério. E lá estou eu também, fascinada e agradecida pelo enterro à noite e à chuva. Torno a ver e continua tudo parado: o caixão ainda não desceu, só é visível um ângulo de madeira castanha e uma pega de metal, a escurecer no fim escuro da tarde.
Descansa em paz, minha amiga!!

Monday, June 25, 2007

Pertencer

Tornei-me membro de um site à minha medida. Ali encontro pessoas e temas que me fascinam. Ali poderei falar daquilo que me apaixona, com pessoas que me entendem. A morte não é um tema lúgubre, sinistro, que só interessa a pessoas perturbadas. A morte é apenas o fim da vida, o seu último capítulo, última cena. Alguns grandes escritores, tão grandes que encaravam a morte com naturalidade, terão feito questão de representar o seu último acto em grande estilo. Oscar Wilde, por exemplo, que depois da prisão passou a viver na miséria, fez questão de beber champanhe no seu leito de morte, após o que, pobre como era, terá dito: "oh não! Estou a morrer acima das minhas possibilidades!"
Agora tenho a minha tribo. Eles entendem-me!

Wednesday, June 20, 2007

Eutanásia

Começa-se a falar da eutanásia em Portugal. Penso que desta vez é a sério. Um médico, a fazer a sua tese de mestrado, recolheu, através de inquérito, a informação de que 40% dos oncologistas são a favor da eutanásia em doentes terminais. Já há quem estejsa aterrorizado com a possibilidade da legalização.
O que é a vida afinal? Porque é que, como dizia um poeta, "temos que viver até morrer?" Parece que da vida só interessa garantir que se nasce - logo, não ao aborto, sob hipótese alguma - e que se morre quando chega a hora para tal - logo não à eutanásia e não ao suicídio, sob hipótese alguma. Depois, entre um extremo e o outro vale tudo: vidas miseráveis, falta de condições, descriminações várias, desemprego, horizontes estreitos, violência, indignidade, doença, sofrimento, dor. Não importa! "A vida por si só já é uma dádiva maravilhosa", dizem alguns! Ridículo!
Eu quero viver apenas enquanto me for humanamente possível. Penso que dificilmente viverei "até morrer". Creio bem, que morrerei antes desse dia...

Saturday, May 26, 2007

Exposição

A morte é vista de várias formas em diferentes épocas. O morto inspira sentimentos diferentes em tempos e culturas diferentes. Às vezes é reverenciado, outras não. Tudo depende. Mas não é dos mortos que quero falar... É daquela exposição grotesca, pseudo-didáctica, que tem corrido mundo.
Corpos de mortos, devidamente tratados, expondo toda a sua anatomia. É educativo, dizem. É cruel, digo eu. São corpos de indigentes chineses, corpos não reclamados. Gente que não foi amada por ninguém, enquanto viveu, gente anónima... gente que não viveu e que não poderá sequer morrer, isto é, habitar o mundo dos mortos. Ficar aconchegada sob a terra por toda a eternidade. Em vez disso, tornaram-se estátuas, figuras mudas, insepultas, suportando o olhar anónimo de quem as observa ora com fascínio, ora com horror.
É às pessoas reais que já foram, que quero dizer: descansem em paz!

Saturday, May 19, 2007

Fazer serão

Eu tinha talvez 4 ou 5 anos. A aldeia era uma como todas as aldeias naquele tempo e naquela geografia, era só natureza: árvores, montes, rios, lindas paisagens e casas modestas. A minha casa tinha alguma cor, digamos assim, mas a minha mãe era uma disciplinadora. A avó não. Por isso, eu ia com ela, de noite, aquelas noites de Inverno, para ficar a dormir na casa dela. A mãe deixava. Porém antes de deitar, íamos fazer serão junto à lareira do senhor e da senhora António/a. Era uma casa escura, apenas iluminada pelas labaredas do lume que nos aquecia. A conversa deles deveria ser interessante, mas eu não a compreendia. Limitava-me a sentir-me bem. Riam todos muito e eu ria também.
O senhor António era o que falava menos, mas ouvia com atenção. A minha avó e a senhora Antónia tinham stocks inesgotáveis de histórias, mas a minha avó era a que falava mais. Eu ficava à espera que o momento de ouvir: "vamos dormir neta, que já são horas" não chegasse.
Estou aqui e estou a ver-nos. Claro que já todos morreram. Do grupo só eu estou viva, ainda. Eu pequenina e loira com os olhos no fogo a sentir-me feliz, o senhor António ora calado, ora a rir. A avó a falar alto cheia de energia e a senhora Antónia atenta e pronta a desatar às gargalhadas, com o abanador de palha na mão, ora abanava o lume, ora abanava no meio das próprias pernas. Não sei se com malícia ou inocência. Que interessa?
Foram os serões da minha infância. Tão banais mas que me faziam tão feliz!

Friday, March 09, 2007

Viver


Ando mais morta que viva...! Vale-me o facto de estar de bem com a morte, senão...! O mal de andar quase morta é a falta de ânimo para escrever todas as histórias que tinha e tenho para contar aqui. Vou outra vez ao Spectrum, buscar uma imagem. Toda aquela calma acalma-me, faz-me viver.

Sunday, January 14, 2007

Outros poemas


Primeiro quero dizer que a imagem que incluí no outro dia, foi tirada de um site brasileiro, Spectrum.
Há poemas de amor e há outros poemas. Não conheço muitos poetas que escrevam sobre os mortos, embora conheça alguns que escrevam sobre a morte. A morte na poesia é uma coisa banal. Há a ideia de ligar o amor, o acto físico do amor à morte. Não o compreendo, mas faço de conta que sim. Claro que sim! Amor e morte têm tudo a ver, digo eu. Mas penso, o amor só tem a ver com a morte se quisermos falar da vontade que temos de morrer, quando algum amor acaba, embora continue intacto no nosso coração. Aí o amor é morte ou vontade de morrer, de não ser, de desistir, de "dexistir".
Mas falo de mortos, do livro de poesia de Fernando Echevarría. Comprei-o devido ao seguinte verso: "A solidão é essa morte imensa/ onde os mortos não cessam de viver". Li este verso numa crítica ao livro. Por isso, aqui deixo mais uns versos, para que aqueles que como eu têm na morte uma referência da sua vida possam saber que este livro existe e é simplesmente belo.

O corpo dos defuntos é enigmático:
não tem além de si nem dentro.
Nada se lê no seu volume. O pacto
substante que sustenta o pensamento
cedeu lugar a um vácuo
a dar somente para estar cedendo.
O corpo dos defuntos é enigmático
porque o enigma, nele, perdeu seu peso.

ECHEVARRÍA, Fernando, Sobre os Mortos, Porto, Afrontamento, 1991, p.63