É um livro excelente que prova que há vida para além da morte. Não essa vida de fantasma ou de espírito ou de assombração. Vida mesmo, no sentido da acção. O livro relata uma série de histórias protagonizadas por cadáveres, essencialmente daqueles que em vida legaram o seu corpo morto à ciência, mas também daqueles que não tendo feito esse legado, eram, em tempos, roubados das suas sepulturas para acabarem sobre uma mesa de dissecação. Há também outras histórias. Muitas são as àreas em que os cadáveres podem ser úteis àqueles que ainda estão vivos. Uma dessas áreas é aquela em que temos um cadáver de coração pulsante, ou seja, alguém cerebralmente morto mas cujo coração ainda bate e por isso está, apesar de morto, em condições de salvar a vida de alguém com os seus órgãos.
A experiências em cadáveres são muito úteis para a investigação, tanto no campo da medicina, como noutros campos. O mais fascinante diz respeito às chamadas quintas de cadáveres. Já tinha lido um romance onde se falava nestas quintas e, por momentos, pensei que elas eram apenas fruto da imaginação do escritor. Mas não, elas existem. São campos onde se colocam os cadáveres, para se registarem as várias etapas da decomposição que ocorrem em diferentes situações. O objectivo de tal é ajudar a polícia e os patologistas a descobrir as condições em que alguém morreu em caso de assassinato. Ou, melhor dizendo, um dos objectivos.
Mary Roach escreve bem, com imenso humor e fornece muita informação sobre os cadáveres que não se limitam a permanecer inertes sob a terra. O livro começa assim: "A meu ver, estar morto não é muito diferente de fazer um cruzeiro. Passamos a maior parte do tempo deitados de barriga para o ar. O cérebro desliga. A carne começa a amolecer. Nada de novo acontece e as expectativas em relação à nossa pessoa são completamente inexistentes."
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