Sunday, December 31, 2006

2007


2006 morreu. Que pena! Penso que fui feliz em 2006. Por mim, seria uma mulher parada no ano passado.

Tuesday, December 26, 2006

Natal no cemitério

Invejo a paz dos cemitérios na altura do Natal. Na confusão de luzes, de compras, de carros, de pessoas em correria obrigatória para lugar nenhum, de ceias nocturnas que têm imperativamente de se realizar, invejo a paz dos cemitérios. É bom imaginar um sítio sereno onde apenas se agitem arbustos sob a luz do luar.

Wednesday, December 06, 2006

Imagens

Tentei, em vão, introduzir uma imagem. Não consegui. Foi como que a morte de um desejo meu.

Saturday, December 02, 2006

Ao meu pai

Queria ter começado por falar da morte do meu pai, mas ainda não sou capaz. Vou esperar por um outro dia, para recordar todos aqueles dias de pesadelo até a morte redentora ter vindo gentilmente para o salvar.

Monday, November 27, 2006

Mário Cesariny

Morreu Mário Cesariny o poeta do surrealismo português. Que descanse em paz. Não tenho jeito para elogios fúnebres. De algum modo, aqui sentada em frente ao meu computador, penso no poeta agora silencioso e livre de todo o sofrimento. Imagino-o inerte no espaço exíguo que o contém, fruindo o nada num qualquer cemitério, aberto à escuridão da noite. Chove e possivelmente não há sombras em parte nenhuma. É uma paisagem lunar ainda que não haja lua. Já o disse, acho os cemitérios sítios insuportavelmente belos. Cesariny, ao fim dos seus mais de 90 anos, faz parte dessa beleza sombria. Algures, alguém, de certo, lê, neste momento, um poema seu.

Friday, November 03, 2006

Cadáver de Coração Pulsante

Para mim a morte é um assunto sério, mas não muito sério. Gosto de falar da morte, de visitar cemitérios, de ir a enterros, velórios. Tudo o que está ligado à morte me atrai. Mas não gosto de falar de doenças, estas são propiciadoras da morte, mas não são a morte. Não me atrai o sofrimento que envolve a morte, de todo. Quem está morto já não sofre, pelo menos que se saiba... Não sou mórbida, apenas gosto dos temas ligados à morte. Quando chego a um lugar desconhecido o único sítio que me apetece visitar é o cemitério. Um cemitério infunde uma paz absolutamente incomum. Gosto de livros que falam da morte sejam de ficção ou de carácter ensaístico. A expressão "cadáver de coração pulsante" encontrei-a no livro de Mary Roach, A Vida Misteriosa dos Cadáveres.
É um livro excelente que prova que há vida para além da morte. Não essa vida de fantasma ou de espírito ou de assombração. Vida mesmo, no sentido da acção. O livro relata uma série de histórias protagonizadas por cadáveres, essencialmente daqueles que em vida legaram o seu corpo morto à ciência, mas também daqueles que não tendo feito esse legado, eram, em tempos, roubados das suas sepulturas para acabarem sobre uma mesa de dissecação. Há também outras histórias. Muitas são as àreas em que os cadáveres podem ser úteis àqueles que ainda estão vivos. Uma dessas áreas é aquela em que temos um cadáver de coração pulsante, ou seja, alguém cerebralmente morto mas cujo coração ainda bate e por isso está, apesar de morto, em condições de salvar a vida de alguém com os seus órgãos.
A experiências em cadáveres são muito úteis para a investigação, tanto no campo da medicina, como noutros campos. O mais fascinante diz respeito às chamadas quintas de cadáveres. Já tinha lido um romance onde se falava nestas quintas e, por momentos, pensei que elas eram apenas fruto da imaginação do escritor. Mas não, elas existem. São campos onde se colocam os cadáveres, para se registarem as várias etapas da decomposição que ocorrem em diferentes situações. O objectivo de tal é ajudar a polícia e os patologistas a descobrir as condições em que alguém morreu em caso de assassinato. Ou, melhor dizendo, um dos objectivos.
Mary Roach escreve bem, com imenso humor e fornece muita informação sobre os cadáveres que não se limitam a permanecer inertes sob a terra. O livro começa assim: "A meu ver, estar morto não é muito diferente de fazer um cruzeiro. Passamos a maior parte do tempo deitados de barriga para o ar. O cérebro desliga. A carne começa a amolecer. Nada de novo acontece e as expectativas em relação à nossa pessoa são completamente inexistentes."