Acabou a semana. É tempo de ficar sozinha e focar-me só naquilo que me interessa. O telemóvel calado e longe da minha vista e o email também. Este novo ano começou tóxico. Aliás, o ano anterior findou batendo, igualmente, níveis perturbadores de toxicidade. Esta boa gente, com a qual tenho a desdita de me misturar, gosta de chafurdar no berraria e na imundície, quais leitões. Mal abrem a boca, autênticos canos de esgoto a céu aberto, tem que se levar a mão ao nariz!
Não faltava a toxina descapotável, entra em cena a toxina com dentes. Dentes à mostra, entenda-se. A criatura, para além de tóxica, ou melhor, como é tóxica, usa da falsidade, da má criação e da hipocrisia.
Em boa verdade, ela sempre foi dada a guincharias várias. Uma toxina guinchante, mas risonha. Como é dúplice, por um lado guincha e por outro ri, não vá aparecer alguém a quem não seja recomendável guinchar. Toxina de duas caras... ou mais! Aliás, acrobata que é, consegue guinchar e rir ao mesmo tempo. Como aquelas pessoas que entram em casa de costas, às seis da manhã, para, caso sejam surpreendidas, fingirem que estão a sair. Depois, tem-se na conta de grande perfeccionista, grande trabalhadora, incansável e, claro, incompreendida, posto que tanta competência mereceria destaque e elogio contínuo de todos em seu redor. Dito de outro modo: todos deveríamos ajoelhar perante a toxina e agradecer-lhe, de mãos postas, a graça de a ter entre nós. Porém, a competência já teve melhores dias - bem melhores!!! - e as atitudes desabridas desmotivam até o mais resiliente. Não há resiliência que aguente o frasquinho de veneno com pernas!
Para dizer a verdade, a criatura deveria exibir uma caveira e dois ossos cruzados na testa, para que todos pudessem fugir-lhe a sete pés e não serem contaminados. Mas é proibido!? Só podemos saber o que lá vai dentro, quando a pascácia abre a boca... Enfim! Não há nada a fazer. O operariado está condenado a aguentar com estas bestas, e outras, e cara alegre. Pessoalmente, aguentarei - se calhar - mas com cara de poucos amigos. E com muito cuidado também, porque as toxinas insalubres são muito ciosas do seu bom nome. (Pausa para me rir um bocadinho.) Agora que já me ri, será hora de fechar o computador e ligar o meu tablete. É hora de alguém me contar uma história para eu dormir.
https://midlibrary.io/styles/zdzislaw-beksinski, consultado em 26 de janeiro, 2024