Ontem, saí derrotada do trabalho. Acontece muito perguntar-me: «o que é que estou a fazer no meio destes apedeutas empedernidos?» Pior: é aquele tipo de ignorância longamente cultivada e apaparicada, não vá ela ressentir-se e desertar aquelas cabeças ocas. As coisas que se ouvem no recinto da acção, digamos, para disfarçar. E que se vêem fazer. Agora, há um que, quando menos se espera, descalça os sapatos e as meias, para que eu lhe aprecie os calos nas solas dos pés!! Bem eu lhe posso implorar: «ó menino, mantenha-se calçado!» Em vão. Ele quer mostrar os pés, e mostra. É a chamada escola centrada nos interesses dos alunos, muito do gosto da pedagogia eduquesa, que está completamente desfasada em relação ao verdadeiro interesse dos alunos. Os colegas também o instam a que tenha maneiras, mas ele logo se apresta a descansar os presentes, dissertando sobre maus odores corporais, que é coisa que o seu corpo desconhece por completo, posto que é inodoro.
Esta figura, quando se trata de actividades avaliativas, é acometida de doenças várias. A última foi uma conjuntivite fulminante. Mal lhe pus a folha à frente, ficou mal de um olho. Pediu para ir aos serviços de enfermagem, de onde veio munido de gotas. Ainda olhou na minha direção, para sondar se eu estaria interessada em medicá-lo, mas viu logo pelo meu semblante de poucos amigos, que tinha de procurar outra pessoa. Nisto, um colega, depois de rabujar, suspendeu a actividade avaliativa para lhe pôr as gotas. Muito dado às artes dramáticas, o bicho fez tal espalhafato, que parecia que lhe estavam a extrair os dentes sem anestesia. Posto isto, retirou-se para lavar os olhos, mas voltou à base para buscar algo para se limpar. Olhei para o percurso que ele estava a fazer, e vi dois rolos de papel higiénico perfilados sobre o armário, onde se guarda toda a papelada e dossiês. Enfim, todo o entulho típico desta extraordinária era digital. Lavado e limpo, informou-me que estava incapacitado para fazer a sua obrigação de aprendente, pois mal conseguia ver. Eu acenei com a cabeça e ele sentou-se, fechando os olhos.
Mas o que é que me fez ganhar o dia hoje? Quando me desloquei de uma sala para a outra, um aprendente diz-me: «Ah, já aí vem. Foi o que lhe valeu, porque eu já me preparava para a ir buscar, à outra sala, por uma orelha.» Acenei com a cabeça.
Acenar com o bestunto é, aliás, uma das minhas últimas técnicas em termos de boas práticas pedagógicas.