https://parreira.artstation.com/projects/eaRG5P
https://www.redbubble.com/i/poster/Angry-Face-Emoji-by-SeanyPoo/47959265.LVTDI
Confesso que pensei em fazer pós-doutoramento acerca de JRS, cheguei a comunicá-lo a um professor da UBI, que foi um dos arguentes da minha tese. Já pus de parte esta ideia por vários motivos, um dos quais é a pandemia. Qual era a minha ideia? A minha tese? A literatura de JRS situa-se no domínio da pós-ficção. Porquê? Veja-se o texto que aparece para apresentar o seu último romance: a inteligência, a emoção e a consciência animal. Isto é ficção? A mim vêm-me à memória textos semelhantes, de apresentação de livros de divulgação científica, da autoria de António Damásio:
E que livros escreve JRS? Eu traria para a minha tese apenas aqueles cuja personagem principal é o Professor Noronha, um académico cultíssimo, que domina as mais diversas áreas do saber, sendo esse conhecimento que lhe permite resolver os seríssimos sarilhos em que se mete. Ou melhor, em que se mete ele e uma mulher. Há sempre uma mulher, um pouco tonta, apesar de culta também, mas tonta. Não há como negar. Longe de mim fazer análises das personagens femininas destes romances, utilizando instrumentos metodológicos e concetuais que não se aplicam, de todo, a elas. Nestes romances, a meu ver, o objetivo único e último é fazer divulgação científica. A estrutura dos romances, thrillers, que li é simples: há um problema que põe em risco vidas, quiçá a própria humanidade, e o Prof. Noronha é chamado a resolver o problema. Ora, essa resolução depende inteiramente dos conhecimentos científicos de uma determinada área. Assim, para explicar os passos a dar para a solução do problema, o sábio professor vai desfiando teoria após teoria. E esta é que é a parte boa dos romances. Ali estamos nós, leitores, mortinhos por saber não quando é que as personagens se beijam - e elas beijam-se, infelizmente - ou se os dilemas familiares de Noronha têm um final feliz, mas por mais uma explicação sobre física quântica, biotecnologia, inteligência artificial, etc., etc.
Repare-se nos comentários no site da Amazon acerca de alguns os seus romances:
«Adorei a história e o embasamento científico e religioso que o autor explora. Na verdade o que mais me empolgou no livro foi exatamente este embasamento, as diversas revelações e comprovações dos fatos abordados, os fundamentos são reais.» cf. A Formula De Deus : Jose Rodrigues Dos Santos, Jose Rodrigues Dos Santos: Amazon.es: Livros
«The adventure takes place in Egypt, Iran, Tibet and Portugal, with the involvement of the CIA. The book presents an innovative view about the origins of the universe, based on recent physics theories.»
«Scientific background is pretty good but the story kind of weak.»
Como se pode ver, aquilo de que o leitor gosta é da parte do pano de fundo científico/scientific background. Aliás, a parte do romance de mistério, policial, de espionagem, enfim, thriller é referida por alguns leitores. É o caso do comentário abaixo, no qual se refere que, tirando a parte atinente à ciência e à filosofia, o romance de espionagem propriamente dito "foi o pior que li em trinta anos". Concordo.
«Interesting reflections on the intersection of science and philosophy sandwiched into the worst spy novel I’ve read in thirty years.»
cf. idem
Pergunto: se grande parte do romance consiste em explicações de carácter científico, em sentido lato, poderemos falar de ficção? Registe-se que no final do livro temos uma extensa lista bibliográfica. E, no início, onde outrora se lia história verídica, pode ler-se: «A informação científica que consta deste romance é verdadeira». cf. Santos, J.R., Imortal, Lisboa, Gradiva, 2019
Que ficção é esta? Bem, eu tentaria demonstrar que é pós-ficção e teria de definir pós-ficção. Aliás, o termo existe, há uns sites brasileiros que utilizam a palavra, mas não no sentido que eu lhe dou. Ocupar-me do sentido em que o temo pós-ficção é utilizado seria logo o início, que me levaria a descobrir e pôr em palavras o que é que eu entendo por pós-ficção.
Para terminar, uma palavra sobre a obra de JRS. Ele é um caso sério de vendas no mundo e de reconhecimento por parte de alguma crítica, por exemplo, em França.
Em Portugal, li uma vez um ensaio na revista Sábado, da autoria de um homem da literatura, que desancou forte e feio no romance em questão. Eu guardei o artigo, mas não sei onde! De facto, se vamos analisar as categorias da narrativa, não há como não descer o pau no lombo do escritor. A linguagem, por exemplo, é de uma pobreza franciscana. Não, claro, no que diz respeito à explanação científica. O Prof. Noronha pode ser um choninhas a beijar e na cama, mas é um professorzão. Explica de forma cristalina. É de fazer inveja. E é por causa destas aulas do Prof. Noronha que eu continuarei a ler os livros de JRS. Ele não é um homem de ficção. Mas na pós-ficção é de se lhe tirar o chapéu.
E termino. Fossem os romances de JRS ficção e não leríamos o seguinte nas páginas do Correio da Manhã:
« O mais recente livro do jornalista, ‘Jardim dos Animais com Alma’, tem sido alvo de muitas críticas por parte do setor agropecuário.»
Que obra de ficção suscita críticas do sector agropecuário? Estamos ou não estamos no campo da pós-ficção?? Hein?
Imagens:
https://www.boasleituras.pt/o-jardim-dos-animais-com-alma-de-jose-rodrigues-dos-santos/
https://www.manuseado.pt/produto/o-erro-de-descartes-de-antonio-r-damasio/