Thank you!
"É necessário um diálogo entre vários saberes, os da biologia, das ciências sociais e das humanidades, para que possamos tirar partido dos conhecimentos (...)." Etc.
"Para que a ciência e a tecnologia sejam compreendidas, é necessário um diálogo abrangente de saberes. É necessária uma cultura, da qual a ciência faça parte. É preciso quebrar o estranhamento que a ciência causa e abraçá-la na nossa cultura, ansiando por uma continuidade e comunhão de conhecimento. A cultura é o cimento da humanidade e tanto a ciência como outros saberes devem coligar-se em favor do nosso bem-estar."
David Marçal tenta, num excelente artigo que escreve no Público, explicar o lugar da ciência, criticando, a partir de alguns exemplos, a ignorância que tem sido manifestada, com especial relevo para o momento actual, acerca do conhecimento científico. As reacções em relação à vacina são bastante reveladoras - o presidente de um certo país diz que a vacina transforma as pessoas em jacarés. Mas o que mais me chamou a atenção foi a referência a outras áreas do saber, dado que alguns cientistas consideram as ciências sociais e as humanidades pouco menos que totalmente inúteis. E não são. Há grandes sociólogos e filósofos, entre outros, que dão um contributo fundamental para compreender o mundo em que vivemos. Mais: fornecem conceitos que nos situam e nos permitem espreitar a complexidade daquilo em que estamos inseridos.
Muito se fala de o medo e a obediência serem o alicerce em que se erguem as ditaduras. A obrigatoriedade de usar máscara, respeitar o distanciamento social, etc., são vistos por muitos como formas de manter os cidadãos acorrentados e numa espécie de exercício para a obediência total aos políticos. Esses, parece-me, são os cidadãos verdadeiramente amedrontados.
Pessoalmente, como sofro de uma repulsa miudinha por uma série de coisas, pelo-me pela mascarinha e o gel. Como detesto beijos e aproximações, não podia estar mais satisfeita com o abençoado distanciamento. O confinamento é para mim, há muito, a minha forma de vida. E não poder viajar para fora do meu concelho? Que bom! Não posso, por isso, servir de exemplo de alguém que usa todas estas estratégias de proteção e de cara alegre. Tapada e cheia de vincos e não raro afogueada, mas alegre. Se tenho medo? Claro que tenho medo. Não há nada que eu tema mais que as doenças, aqueles estados de fragilidade que nos fazem ir para o hospital ou andar de médico em médico, que é o material de que se fazem os meus pesadelos. Já de morrer... who cares? Mas, dito isto, saio e faço o meu trabalho e não recuso nada. Olhem-me na 4.ª feira, sozinha na sala X, a trabalhar no meu computador no meu local de trabalho! Não estou paralisada com medo da doença ou da perspectiva de que os políticos no governo estejam a preparar-se para impor uma ditadura. E não estou porque acredito na ciência e as medidas sanitárias são "impostas" pela ciência. Depois, num mundo em que há políticos duma ignorância confrangedora e de personalidade repulsiva até ao vómito, em Portugal, o mais alto magistrado é alguém que eu admiro, de que eu gosto, em quem eu tenho confiança. Por outro lado, eu só assomo à realidade de vez em quando, o que é mais do que suficiente. À medida que a minha idade avança e que as minhas lutas e angústias são cada vez menores, assim vai diminuindo o meu medo de seja o que for.
Venha o que vier, estou cada vez mais perto de esgotar a minha esperança de vida. Quero lá saber do medo...
A ciência entre a ribalta e o estranhamento | Ensaio | PÚBLICO (publico.pt), consultado em 27 Dezembro, 2020
Há que dizê-lo com toda a frontalidade: que dia de trampa!
A hora de deitar, apesar de tudo, costuma ser moderadamente feliz: pelo menos não tenho que ver a fronha de mais ninguém. Claro que há quem goste "de acordar mais um dia, é sinal de que estamos vivos", dizem, com evidente alarvidade. Pessoalmente, prefiro deitar-me. Já que estou viva mais um dia, pelo menos que possas vestir um pijama, tomar um banho - não por esta ordem . e deitar-me na minha cama, que é a minha peça de mobiliário preferida.
O outro tonto perdeu completamente o sentido do ridículo. E falando em ridículo... a criatura a beber chá e a comer bolachinhas, produzindo uns ruídos estrondosos e muito satisfeitos, cheios de lambidelas nos lábios. Foi a coisa mais interessante, aliás, deveras interessante, dos últimos tempos. Onde quer está uma coisa que vale a pena apreciar, quando menos uma pessoa se precata...
Agora, o cavaleiro da triste figura vai fazer o seu último acto. O estilo estapafúrdio, ignorante, preconceituoso e obscurantista, muito obscurantista, não vai contudo desaparecer. Os estapafúrdios vieram à luz do dia, sem vergonha na cara, muito ufanos da sua "frontalidade", do seu politicamente incorrecto. Entre o medonho politicamente correcto e o sinistro politicamente incorrecto, venha o diabo e escolha.
Mas, para já, respira-se melhor.
Há gente a rir à minha volta. Gente a falar. A falar em conjunto. Eu não posso refugiar-me no meu computador acidentado. Vou escrevendo isto, para parecer que estou ocupada. Sempre a escrever. Alguém se vira para mim. Deve ter-se dado conta de que há mais alguém por ali. Mas eu estou ocupada. Busy. Tenho imensa coisa para fazer.
Zoom, Meet, Teams! Adoro, bem melhor do que estar ao vivo. Eu própria, salvo raras excepções, posso fazer-me representar. Esconder-me. Há Coisa melhor?
No trabalho, em grupo restrito, em figura de gente, com a cara ao léu...
A minha maquinaria orgânica anda
a precisar, urgentemente, de ser oleada, pois não só me obriga a passar a noite
em interacção com acabrunhantes personagens do quotidiano fabril, como, esta
noite, me pôs a fugir de um galináceo.
Eu estava refastelada num banco
de jardim, em Faro, rodeada de escuríssimos arbustos e obscuras flores. Era
noite. Nisto, oiço:
- Encontrei-te meu amor.
E fechei os olhos. Este ia ser um
sonho de encantar, de romance, o meu tipo de romance favorito: aquele que não
acontece. De repente, ainda envolta em suspirantes delíquios, senti uma picadela
no ombro. Uma senhora picadela, diga-se, de tal modo que me permiti deslizar
para a realidade do meu quarto e averiguar o caso. Seria algum companheiro de
cama que me agredira? Talvez uma das seis almofadas. Mas elas são tão fofinhas!
Ou o equipamento informático (e não só) armazenado debaixo da almofada (inteligente!)
do lado esquerdo: o tablet, o Kindle, o telemóvel, o comando da televisão, o
comando da box, o comando do ventilador, o pacote de lenços, a caixa de
rebuçados para o catarro, a caixa de Strepsils e, triste é dizê-lo, o mata-moscas.
Seria possível uma tal agressão por parte de um destes amiguinhos nocturnos? Abri
os olhos. Felizmente, continuava no jardim de Faro, mas tinha um bico junto ao
meu nariz e dois olhinhos muito redondos a olharem para mim. Era um galo! Levantei-me,
fazendo uma prece com os dedos em cruz e
tentando, até, fazer a dança da chuva, junto a um canteiro. Mas o galo
continuava ali, com as asas muito abertas e espanejantes. Mais: vinha, pata
ante pata, de bico em riste, na minha direcção. Pior: ouviu-se, algures da
figura da ave:
- Sou eu, amor.
- Quem? – Respondi. – Como se
atreve?
E ele, teimoso, avança,
esvoaçante e penugento, directo a mim. Foi quando decidi pôr-me em fuga,
espavorida, pelas ruas da cidade.
As portas das casas reluziam,
fechadas. Das janelas, espreitavam as cortinas, em desalinho de curiosidade. As
ruas iam ficando mais estreitas e mais vazias. Éramos apenas eu, em correria, o
galo, em esforço cacarejante, e os postes de luz, altos e hirtos, espalhando
uma luz miúda.
Estava a ser muito cansativa
aquela correria infernal. O bicho não se cansava. Mas, nisto, não só deixei de
lhe ouvir o estampido das unhacas no empedrado das ruas, como vislumbrei o
jardim onde estivera, há não muito, tão sossegada. Rumei para lá, a arfar.
Sentei-me num banco e ouvi:
- Estou aqui, meu bem.
O galo? Olhei. Não. Era um homem,
muito bem vestido, um pouco démodé, com um chapéu de feltro na cabeça, da qual
se elevava uma frondosa pena.
- Hein? – disse eu.
- Hoje é dia de amá-la.
- A mim?
- Claro, meu benzinho fofo. Hoje
é dia 29 de Fevereiro.
- Ah! Desculpe. Estou cansada.
Fui atacada e perseguida por um galo. Doem-me os pés de tanto correr… Foi
horríiiiiveele!
- Um galo? Olhe que não. O meu
benzinho está aí desde que cheguei. Muito estranha. Eu chee..
- Não viu um galo? Uma ave imensa
cheia de penas??
- Não, benzinho. A coisa mais
parecida com uma ave, diga-se, sou eu, que me engalanei com uma pena para a
homenagear.
- Pena de galo?
- De pavão. Pavão!
- Então está a dizer que eu sou
mentirosa, que não aconteceu nada?
- Aconteceu sim, a fofa, assim
que eu cheguei, ficou muito inquieta. Disse umas palavras misteriosas e depois
foi para o canteiro aos pulos…
- Desculpe? Euuuu? Aos pulos?
- Sim. Era uma espécie de co…
coreografia. Destruiu as plantas todas e arrancou os goivos pela raiz. Olhe!
- E não fez nada? SE eu fiz isso,
por que razão não me agarrou?
- Por causa da poeira, amorzinho
fofo. Veja como está cheia da terra.
De facto, havia sobre mim um
imenso véu de terra e até algumas ervas. Não podia ser! Expliquei então que
tinha sido a correria pela cidade, com as estradas cheias de buracos e com a
criatura penugenta a levantar imensa poeira com as patas. E perguntei ao homem
démodé, engalanado, se já tinha visto as unhas dum galo.
- Que pergunta, gatinha fofa.
Venha aqui para a espanejar.
- Deixe-me. Não me espaneje! Vou
embora.
- Fofa! Fofa, estamos a ter a
nossa primeira discussão. Deixe-me estreitá-la em meus braços…
E arregalou os olhos, muito
contente.
Abraçamo-nos. E, do jardim de
Faro, fomos transportados para uma bela casa. Era um sítio antigo, de tectos
altos, amplo, com uma sugestão de reposteiros de veludo grená e mobília escura
e elegante. A roupa começou a sair do nosso corpo, espalhando-se pelo chão, que
brilhava sob a luz de um candeeiro de cristal. Felizmente não ficámos nus, o
que seria muito impróprio e indiscreto. Em vez disso, à medida que a roupa
saía, íamos ficando cobertos de uma penugem longa e macia, que ondulava. E foi
nestes preparos que iniciámos uma sessão de beijos, com os lábios unidos em
ventosa, que terminou aos rebolões no chão. Entre beijos e cabeçadas nas paredes e
mobiliário, sempre de rojo, com evidente benefício para o enceramento do
parquet, corremos toda a casa descendo, até, compridas escadarias. Por vezes, parávamos,
ofegantes, um pouco lilases até, já a arroxear, enchíamos os pulmões e, antes
de continuarmos o deslizamento beijoqueiro e cabeceante, olhos nos olhos, eu
dizia-lhe:
- Ai, querido. Que cabeçada!!
E ele, enlevado e esfuziante de paixão
incontida, retorquia:
- Cabeçada? Eu não tenho cabeça!
O meu bem fez-ma perder.
Mas tinha eu, e dorida. A testa,
um verdadeiro catálogo dos abundantes galos que iriam despontar.
Aos primeiros minutos do dia 1 de Março, o meu homem elegante e démodé desapareceu. Foi-se. Eu fiquei só e pensei: o meu primeiro sonho de amor. E foi tão lindo!
https://br.pinterest.com/pin/216665432057912001/?nic_v2=1a2JU1DAN, em 27 de Setembro, 2020
Começou. Novidades todos os dias. A máscara deixou-me cheia de vincos na cara, por vezes impedia-me de ver. Quando a tirei, ao fim do dia, estava vermelha e afogueada. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Amanhã estarei mais horas com ela. Pode ser que haja algo de bom...
Impõe-se dizer que a máscara contribuiu muito positivamente para a estética do indivíduo. Nunca me tinha apercebido, que havia tanta gente bonita no meu local de trabalho. Eu própria até rejuvenesci e fiquei com menos queixos. Não quer dizer, contudo, que o panorama á minha frente se recomende. Alguém fala de ajuntamentos e falta de cumprimento das medidas, com a máscara pendurada na orelha. Com a boca ao léu, portanto, lançando sadios - esperemos - perdigotos para o espaço. À revelação de tão impróprio comportamento por parte de quem se ajunta, retruca uma perfeccionista dos equipamentos, que é assim que, não tarda, estamos todos confinados. A retrucante, porém, tem o nariz fora da máscara enquanto se indigna. Depois, embora estejamos num local onde deve imperar o silêncio, as duas justiceiras falam altíssimo, como se tivessem medo que a máscara impedisse a correcta audição das pérolas tonitruantes que lhes resvalam dos beiços. Engano. Lá vem a grande chefe pedir silêncio, de forma algo tímida, mas irritada e irritadiça. Em vão. A converseta continua animada, e o nariz em riste prenuncia a exibição, não tarda, do buço que por baixo dele se aninha.
imagem do Google
"Apesar dos factos em contrário, a verdade é que a Covid é a maior ameaça à humanidade desde a invenção da gaita de foles. À cadência actual de mortos por dia, Portugal arrisca ficar desabitado em 10 mil ou 15 mil anos. "
https://observador.pt/opiniao/o-portugues-nao-vai-em-grupos-as-regras-da-contingencia/, em 13 de setembro, 202o
Não se aprende nada com o AG, mas rio-me muito. E não há nada mais importante.
Respondendo agora à pergunta da imagem. Agora sou o gato 4 com uma pontinha do gato 9. Amanhã, sou o gato 2, com uma grande ponta do gato 7. Chuif!
Lembro-me de uma vez, já há uns anos, ter corrido a notícia, numa certa plataforma da Internet, de que um certo membro tinha morrido. Instalou-se a consternação. Os lamentos foram bastos e grandes. O defunto era uma boa pessoa. Boa? O defunto era extraordinário. Extraordinário? O defunto era sublime.
Eu, que não o conhecia, esbocei, solidária com os membros enlutados, algum pesar. Claro! E recordavam-se as façanhas épicas do jazente. Ai aquele dia em que, etc., etc. aquilo é que foi! Que divertido era o defunto. E bom. Sobretudo bom. Amigo do seu amigo. Enfim. A bondade em pessoa e agora, lástima, tinha-nos deixado a todos mais pobres. Então, um outro sujeito, muito dado à retórica (bacoca), profere uma frase de grande efeito, que passo a citar: curvo-me respeitosamente perante a sua memória. Muito me ri, confesso, com a curvatura do dito cujo. Quase rebolei no solo com a hilaridade. E é então que o falecido decide anunciar que estava vivo. Disparate!
Ficámos estarrecidos e levemente envergonhados pelo esparrame de afecto a que nos entregámos. Especialmente o outro que, amigo que é de pôr cerejas nos topos dos bolos, andou a acocorar-se sem necessidade.
E é aqui que entra o drama cómico dos últimos dias. Alain Cocq está condenado a uma vida vegetativa. AC pede para ser eutanasiado. AC não consegue ser eutanasiado. AC decide suspender o que o prende à vida - tubos e mais tubos - e quer deixar-se morrer em directo no Facebook. AC é notícia em todo o mundo. Eu fui implorar no Le Monde a Macron (que me ouviu, certamente) que atendesse AC. O Facebook bloqueia a conta de AC. Berreiro. Os mais fluentes em Francês encheram a barriga de nomes ao Facebook. Nisto, umas almas que são pela eutanásia e que queriam continuar a acompanhar AC, abriram uma conta de apoio a AC. Eu fiz-me membro e todas as noites ia desejar-lhe boa noite, porque ainda sei dizer "bonne nuit". E não faltaram carinhas de lágrimas e corações e mensagens com velas e mais velas e imagens celestiais por parte dos mais católicos. Entretanto, ficamos a saber que AC tinha ido para o hospital contra a sua vontade. E depois, que tinha ido para o hospital por vontade própria, posto que não aguentava mais o estado em que se encontrava. Há logo quem diga de forma boçal: tinha tanta vontade de morrer como eu! Vergonha, tanta coisa e agora foi para o hospital. Eu, algo perplexa, achava estas frases cruéis. Eu sou a favor da eutanásia, mas esta implica VONTADE EFECTIVA do requerente, assim como o suicídio, logo, se AC voltou atrás, quer por não suportar a situação, quer por preferir viver, tudo bem. Desejei-lhe sorte e saí do grupo, privado. AC, entretanto, volta a ter a conta activa, está com bom aspecto, sem a sonda de respiração, e está a falar, a explicar os acontecimentos. Eu não queria sequer ouvir, não gosto de assistir ao sofrimento alheio, mas fiquei intrigada quando começo a ver carinhas zangadas e carinhas de risota e palavras duras. Bem, vou averiguar, enquanto decido que não quero receber mais notícias de AC no meu feed. Do Facebook, quero apenas estar em contacto com grupos que evitam contactos, grupos esses sobre assuntos do meu interesse. Pessoas? Não quero nada com pessoas. Só com grupos. E que vejo? Que AC vai processar aqueles que abriram a conta de apoio em nome dele, porque é uso indevido do seu nome, porque é devassa da vida privada e outras coisas assim. Bom, entre aqueles que continuam a apoiá-lo, há uma grande mole que até o insulta sem dó nem piedade. E eu? Como disse, para mim acabou. Quanto à polémica, congratulo-me com a volta à vida de AC. Está de volta, mesmo, ingrato e mau, como é próprio de estar vivo. Que mais posso dizer?
Ah, posso dizer que, se o processo cair também sobre os membros incautos e choramingantes, também me calhará a mim uma de duas coisas: ou desembolsar uma indeminização ou ir parar com os doloridos ossos atrás das grades.
A vida é bela!
Imagem: https://londonfuse.ca/fuse-profile-aaron-hatherall/beksinski/, em 11 de Setembro, 2020
Os primeiros dias (e os outros) são gélidos. Este ano, talvez, mais. Calcei meias, coloquei uma mantinha leve na cama e estou deserta por me cobrir com ela, me encolher, ajeitar as almofadas e ouvir pela terceira vez a palestra de CBJ sobre o conceito de Tempo. Quero pôr o dia para trás e, sobretudo, afastar a inquietação pelos deveres, as obrigações a realizar amanhã...
Entretanto, Alain Cocq, como está à mercê de tudo, como não se pode valer, foi levado para o hospital, porque estava "muito mal, quase a morrer", e manda a lei que se dê assistência a quem está mal, sob pena de se ser acusado do crime de recusa de auxílio. Depois vem o médico e, como mandam as regras da sua profissão, tem de fazer tudo para salvar "uma vida". E pronto, lá vai o pobre homem, depois de dois dias de agonia, quando está mais perto de atingir o seu objectivo - MORRER -, parar ao hospital, para voltar tudo ao princípio. Agora que digo isto, até tenho vontade de rir, mas posso piorar a minha dor de cabeça.
A mania que as pessoas têm de nos virar as costas, quando nós até apreciaríamos e necessitaríamos do seu apoio, e de nos foderem a paciência completamente, quando nós queríamos apenas que elas nos desamparassem a loja e fossem para o caralho!!
Imagem: https://www.businessinsider.com/the-shining-alternate-ending-2013-1, em 9 d Setembro, 2020
Que horas são? 18:24. Acabei de almoçar.
O regresso e o facto de ter de estar no trabalho, na fábrica, às 13:15, tirou-me a vontade de comer. Só no regresso a casa aqueci qualquer coisa e sentei-me à mesa, com um cansaço inusitado. Eu estive apenas durante duas horas e meia numa sala com mais duas pessoas. Ambas as três de trombas. Especialmente eu e a minha colega, com máscaras K95, se não estou em erro, a minha com respiradouro, uma coisa enorme, descomunal, que me cobre as faces até quase às sobrancelhas. Quando olhava para a minha colega e me deparava com aquele aparato, abismava-me e pensava: a minha - máscara, claro - ainda é maior! E tem uma coisinha redonda, para que conste. Mas que figuras!!
Às tantas, segredei no ouvido da minha colega, mantendo as devidas distâncias sociais e outras: uma tarde inteira a debitar PowerPoints e outras coisas, às simpáticas plateias, com isto nas fuças, vai ser uma alegria. Ela concordou. Até demorei mais cinco minutos no percurso, o que prova que a máscara torna o multitasking - andar e respirar - mais penoso! E eu gosto da higiénica cobertura.
Ah, já me esquecia, tive de desinfectar as mãos de uma pessoa, esguichando-lhe álcool para as mãos. Mais uma tarefa da profissão. Falando em desinfectar, como me esqueci das luvas, passei o tempo todo a borrifar-me com álcool. A minha colega até me chamou a atenção. Chego a casa e leio algo do género: a desinfecção em massa das mãos com álcool pode criar um super vírus. Credo! Não faltava mais nada.
Ainda assim, creio que o ano que agora começa dificilmente possa ser pior que o anterior. Pelo menos, certas pessoas já mostraram as suas verdadeiras cores. Dali virá certamente toxicidade a rodos, é a especialidade da casa, mas já estamos vacinados.
Acabou Agosto. Pareceu-me que tinha de assinalar a data. Mas não tinha nada para dizer. Os nossos inimigos, as pessoas que nos viraram as costas, que nos desclassificaram, nos humilharam, são preciosos. Dão pano para mangas para escrever. Eu gosto de escrever, de registar os momentos, de fazer a revisão dos factos. Mas é a raiva que me traz ideias, que me põe palavras na boca, me faz escrever. A alegria também. Mas as alegrias são sempre breves... não servem.
Este ano, este verão, não me trouxe nada. Fiquei enfronhada no YouTube, com os meus amigos brasileiros e ingleses e americanos e espanhóis e agora até uma amiga turca. Li pouco, mas ouvi todas as palestras do Prof. Doutor Leandro Karnal, entre outros, e até tirei apontamentos.
Falando em ler, terminei o livro sobre Betty Broderick: fascinante! A realidade ultrapassa, de longe, a ficção. Terei de encontrar uma emoção qualquer que me faça escrever sobre esta mulher, esta assassina. Ainda na questão dos livros, aguardo o ensaio sobre Nietzsche e as mulheres, ou melhor, a visão de Nietzsche sobre as mulheres, da autoria de uma especialista que LK convidou para falar com ele sobre este filósofo. Estarei atenta.
Mas, dizia, dei por mim morna, anestesiada, sem raivas, sem paixões, sem ódios, sem nada. E sem o que dizer. Aliás, está na hora da live do Professor Marco António Villa. Não durmo sem o ouvir. Para conseguir alinhavar umas palavras, procurei umas fotografias, mas não estão neste computador. Encontrei, no entanto, um printscreen de uma troca de emails com uma formanda minha, muito novinha, 22 anos, que, não sei como, engraçou comigo, continuando a escrever-me muito depois de estar certificada. As últimas notícias dela foram perturbadoras... Espero que esteja bem.
Minha amiguinha, espero que estejas bem!!
CB tem a alma - soul - como tema da sua arte. As almas surgem transparentes, quer saindo do corpo quando se morre, quer saindo dele quando se sonha. Quando se dorme.
Há algo de interessante acerca do tema da alma transparente. A alma fugidia, que nos abandona... e que nos abraça.
E a alma já liberta, de olhos entreabertos, bela e assustadora. A alma dos mortos, "roendo maças"...
https://www.phoenixnewtimes.com/arts/7-exhibits-to-see-in-july-in-metro-phoenix-11317645, em 24 de agosto, 2020
https://www.thatcreativefeeling.com/masters-of-glass-sculpture/christina-bothwell-3/, em 20 de Agosto, 2020
https://www.thatcreativefeeling.com/thick-rough-and-beautiful-clay/christina-bothwell-2/, em 20de Agosto, 2020
Let me in ...
https://www.facebook.com/masiulaniecart/photos/a.253887885302559/383876535637026/, em 17 de Agosto, 2020