França: Paris? Uma mulher passa junto a uma esplanada e cruza-se com uma besta que se dá ao descaro de se meter com ela: javardices de cariz sexual. As bestas, porque o são, andam sempre muito carentes, porque ninguém, e bem, as quer. A rapariga diz-lhe: cala-te! A besta não gosta. Entende-se. Para as bestas, mulher honesta não tem ouvidos. A minha mãe dizia-me isto. Mas eu gabo-me de ter orelhas - minhas queridíssimas orelhas - e não de ser honesta.
Bem me lembro de um dia, em que tinha acabado de sair da escola, à noite, e no caminho para casa uma besta diz-me não sei o quê. Lembro-me apenas da minha resposta, em voz bem alta, à altura da minha raiva: VAI LEVAR NO CU! A besta embatucou, até eu, diga-se, e continuei o meu caminho, passadas largas, tão largas como o meu ódio, o meu nojo, a minha vontade de o aniquilar.
Voltando à França. Como a besta não gostou que a mulher não tivesse amochado, volta atrás e prega-lhe uma bofetada. Há homens na esplanada que se levantam, um agarra uma cadeira - va lá, pelo menos não se ficaram como vegetais. Mas não acontece nada. O dono do bar dá as imagens das câmaras de vigilância à mulher. Ela divulga-as no Facebook. Neste momento já há milhares de visualizações, partilhas e comentários. Espero que a coisa não se fique por palavreado.
Espero que nós mulheres nos mexamos e deixemos bem claro que homem que não sabe estar calado, deve usar açaime. Mas há mulheres que gostam de ouvir o que os homens têm para lhes dizer, mesmo que seja o equivalente a uma jarda de estrume.
Bem, depois há os comentários em si. É o descalabro do costume. Há de tudo. Há quem não tenha nunca visto uma bofetada tão bem dada. Há quem diga que o agressor até foi meiga, visto ter-se ficado apenas por uma bolachada. Esclareço que esta última besta, neste momento, está de rabo entre as pernas e já não tuge nem muge: caiu-lhe em cima uma tal caterva de mãos de ensino e alguns insultos - até eu lhe caí em cima!! - que por fim até já se fazia de vítima. Que os comentários eram racistas!!! Foi aqui que eu lhe pus os pontos nos is: então o senhor fala como um idiota, um tarado sexual e um nojento, e quando lhe dizem o que o senhor é, uma besta, um Neandertal, o senhor CHORA, CHAMA PELA MÃE e queixa-se de racismo?? Get a life!! Houve mesmo quem lhe tivesse assaltado a página, onde a criatura se apresentava em vetustas fotografias, e as postasse nos comentários: foi uma paródia. Confesso que foi a custo que não comentei as fotografias e o mandei cortar o cabelo e outras coisas. Calámos a besta! E com alguma classe, diga-se. E com alguns homens também a chegar-lhe forte e feio. Mas a coisa não acaba aqui. Estava eu já de saída e prometendo a mim mesma que não iria ao Facebook, a não ser para consultar os textos que envio para lá e, claro, ver gatinhos e, também, ler a página de Humor de Cemitério, quando cai um comentário de uma mulher, a meu ver milhentas vezes pior do que tudo o que eu tinha lido. É que o outro nojento, tosco, tinha dito as coisas do costume, no gozo, para chatear o mulherio: vão para a cozinha, chupa-me aqui o coiso, etc. Ou seja, não tinha dito basicamente nada que se aproveitasse. A gente até já nem repara em certas coisas. Mas esta mulher vinha dar lições de moral, que com a roupa usada pela mulher, as culpas eram partilhadas, pois é sabido que quem se veste assim não pode estranhar as reacções dos homens. Eu fui logo ver bem a roupa, é que a mim não me tinha chamado nada a atenção. A rapariga estava com um calção pelo meio da perna. Dá-me impressão que é um macacão, enfim, uma peça só, mas com calção. Isto perto de uma esplanada, num dia que parece de sol. Claro que não me atrevi a escrever uma só palavra dirigida a esta mulher, porque passaria a comportar-me como os miseráveis que vomitam palavras de ódio, sem qualquer freio, quais animais acossados, na selva.
E é isto. Esta vulnerabilidade das mulheres. Ela é abordada, reage, é agredida e não acontece nada. Pior, é uma besta fêmea que vem trazer o argumento mais mesquinho e inqualificável de todos: a agredida pôs-se a jeito! A agredida com as perninhas ao léu estava mesmo a pedi-las! Isto ofende-me.
O que é que eu posso fazer agora para descansar, para dormir? Ver gatos? Ler? Talvez ler… e ver gatos. Também.
Imagem: https://www.facebook.com/dziewczynaktoraopowiada/photos/a.651041118264290.1073741831.576765205691882/1750017095033348/?type=3&theater, consultado 31 Julho, 2018