Tuesday, May 29, 2012

As bestas



A vidinha  - profissional - vai ruim.
 Estava a maior parte das bestas posta em sossego, quando uma começou a escoicejar. A besta fraca, assim que pressente um bocadinho (ínfimo!!!) de trabalho, tem ataques de hiperactividade passiva. Começa logo a dar saltos devagarinho. Pulinhos!! Só a fechar a porta é que demonstra ter alguma forcinha - pouca - nos braços. Mas diz que a portinha - a marota, ai, ai - lhe fugiu das mãos!  É uma besta rebeldezinha, indolente, burra, ignara, embrutecida. Uma besta incompreendida, claro! Uma besta a precisar de amor, compreensão e prozac. De mim,sinto muito, poderá contar apenas com uma boa arrochada no focinho. É a única coisa que tenho para oferecer a bestas.
Aqui com os meus botões, não posso deixar de pensar que este ano o coiso e a coisa parece uma concentração de bestas. Parece que se combinaram!
Em conversa pós-besta, diz-me a coisinha que a besta redonda levou uma sovata. Acho bem! E diz-me se eu não reparei no olho à belenenses, da dita besta. Eu? Claro que não reparei. E que a besta informe também anda a sair da casca. E que a besta obtusa não tem registo de melhoras. Nisso, confesso,  já tinha reparado.   E eu digo-lhe que a besta lenta, dissimulada e tosca tinha sido corrida. «Corrida?» Pergunta a coisinha. «Siiiiiiim. Por mim». Respondo eu. Ah! A grandessísima besta. E a outra, diz a coisinha, a besta mor, moeu-me o juízo. De que besta estás a falar? E diz a coisinha, estou já a falar das bestas do coiso. Ah! Ainda bem que concretizaste, respondi eu.
Enfim, comprámos cereais e falámos das bestas. Já com um pé no passeio ainda disse à coisinha:« A besta pestilenta e desbocada disse três vezes: "até a barraca abana"!»  E diz-me a coisinha, escaldada: «Tiveste mais sorte que eu. Comigo, no dia da grande evacuação e do grande êxodo com a mão no nariz, a barraca abanou mesmo!!!»  E eu fiquei agradecida e disse: «Deus seja louvado».

Sunday, May 13, 2012

Eu não minto, não engano, não ludibrio e não venho de Caçarelhos


Devo confessar, com imensa pena, que tenho uma admiração, embora envergonhada, pelo senhor ministro das finanças. Tenho, o que é que hei-de fazer? Motivo? O senhor não cede ao populismo fácil, não se arma em “pessoa normal”. Penso que só lhe fica bem. Fala de forma lenta, não deixa nada por dizer e, de vez em quando, a meu ver, diz umas coisas giríssimas.
No outro dia, chego a casa, ligo a TSF e havia debate parlamentar. Reconheço logo a voz pausada do senhor ministro. Dizia ele ( mais ou menos ): « Lá vou ter de discutir literatura, mais uma vez, com o senhor deputado. Diz o senhor deputado, que eu pareço aquele político do romance A Queda de Um Anjo de Camilo Castelo Branco. Sabe, senhor deputado, eu vim de Frankfurt e de Bruxelas e o político de A Queda de Um Anjo veio de Caçarelhos. Mas, claro, quando se fala de Caçarelhos, vem-nos logo à mente Bruxelas e Frankfurt.»
O senhor ministro das finanças não mente, não engana, não ludibria, não é falsamente modesto e não vai a Caçarelhos!

Monday, May 07, 2012

Fim-de-semana grutesco


Exactamente! Passei o fim-de-semana numa gruta! Eu até não desaprecio experiências grutescas, mas os homens e as mulheres das cavernas não têm maneiras nenhumas! Ou seja, é daí que deriva a falta de maneiras a que se assiste hoje. Estou em condições de afirmar sem sombra de dúvida, que as maneiras não evoluiram um milímetro em relação à idade da pedra e a inteligência evoluiu pouco. Então não é que estava eu muito bem, roendo um osso (ementa, péssima!) e catando piolhos ao meu companheiro, que até já me tinha dado uma cacetada na cabeça - parece que é tradição na relação amorosa homem, mulher! - quando vejo este quadro dantesco: uma mulher das cavernas, com uma corda ao pescoço na ponta da qual se encontrava uma pedrinha de 500kg, a atirar-se a um poço. Pergunto: «Que é isto?» E diz o chefe Grande Cabeça Oca, muito sapiente, solene e misterioso: «Estava estipulado em acta!» Estremeci! (e continuei a catar o meu companheiro....claro...o respeitinho e tal...)!
Ah! Como eu anelo pela civilização!