Friday, October 21, 2011

A morte de Kadafi...


... ou Kafka revisitado. O mundo está mesmo um lugar perigoso, como costumava dizer Vasco Pulido Valente.
Primeiro, Kadafi era um revolucionário, depois era um líder carismático, depois era um louco sanguinário acumulando com o líder carismático, depois, ficou só o louco sanguinário. Depois tornou-se o homem mais procurado da Líbia. Depois, foi encontrado e morto. Agora, já morto, há todo um aparato para saber como morreu, qual a bala que o vitimou, se terá sido espancado, etc. O mundo fica chocado perante a violência da sua morte. Depois da morte, o funeral deverá ser sigiloso, ficando o corpo em sítio incerto. Acabou a história. Espantoso! Se calhar tudo isto faz sentido, mas eu não vejo qual. E, por isso, nem mais uma palavra sobre Kadafi. Prefiro dar uma palavrinha sobre Kafka: a vida tem-me ajudado a compreender o universo das suas histórias. Todos os dias há uma história kafkiana para contar.

Thursday, October 06, 2011

Steve Jobs


Hoje morreu alguém que modificou a forma como vivemos. Morreu uma daquelas raras pessoas que fez algo de verdadeiramente relevante. Uma verdadeira celebridade, num mundo de celebridades instantâneas, de faz de conta. No dia em que se anuncia o Nobel de Literatura, um poeta sueco de 80 anos, um poeta mesmo, à séria, confirmado por quem de direito no mundo literário, anuncia-se a morte ( detesto a palavra desaparecimento!) de Steve Jobs, o génio informático da Apple. Tal faz-me pensar na diferença entre as ciências experimentais e as ciências humanas. Ninguém ousaria fazer-se passar por um informático, um empresário, um comunicador nato, um génio como Steve Jobs. Mas por poeta, por escritor, o que não falta são impostores. No outro dia lia eu, na net, um texto profusamente ilustrado, de um pobre tonto, kitsch até ao tutano, que dizia, comparando-se a Fernando Pessoa, aspirar à eternidade dos seus escritos. Depois, não é qualquer um que produz um computador. Mas qualquer um produz um "poema" e, pior, arranja editora para lho editar e, pior ainda, arranja lojas que se pensavam sérias para lho vender. Isto menoriza as Letras, as Humanidades? Não, na essência. Mas dificulta a afirmação de uma área de excelência como a poesia, a escrita, a Literatura.
Se misturo a morte de Jobs e o Nobel da Literatura, é porque acordei para ouvir as duas notícias em simultâneo e ambas me afectaram. Uma deixou-me triste. A outra deixou-me feliz. Misturo-as aqui, porque não vejo porque separar aquilo que se admira. E eu tenho uma profunda admiração por aqueles que conseguem ser diferentes e únicos num mundo de plágio, imitação, contrafacção, fraude. Por isso, aqui, em simultâneo, envio um abraço ao Nobel da Literatura, por ser grande e verdadeiro e uma flor grande, e algumas lágrimas, a Steve Jobs. Por ser inimitável!!