Tuesday, September 28, 2010

Casa à beira do abismo


As casas! Há coisa melhor que uma casa? Um sítio com paredes, que nos acolhe, nos esconde, nos protege. Esta é a casa mais bonita de um bairro de prédios altos e varandas projectadas para o ar. É uma casa junto à linha de caminho-de-ferro. Uma casa isolada, atípica. Uma casa em ruínas no meio de casas novas e imponentes. Um dia destes desaparece e fica apenas o abismo. Na impossibilidade de trazer a casa comigo, trago a sua representação. Para recordar. Sempre.

Tuesday, September 21, 2010

Beethoven Fur Elise



Esta é uma das músicas favoritas do meu pai. Espero que ele possa vir aqui ouvi-la. Beijo, paizinho.

Monday, September 13, 2010

Inquietação


Tédio! Um tédio tão grande, uma insatisfação, um desafecto...mas, sobretudo, inquietação. Não sei o que me inquieta, mas sinto inquietação. Tenho sonhado muito, única coisa boa, aliás, excelente. Hoje mesmo, sonhei com uma cidade meio decadente. A minha avó, que já morreu, acompanhava-me. Como sempre, eu dirigia-me para uma escola, por um caminho insólito, e a minha avó fazia equilibrismo sobre umas rochas pontiagudas. Eu, entretanto, já tinha passado a parte das rochas e encontrava-me com água pela cintura e rodeada de animais antigos, mas de cores vivas. Da escola, nem uma parede, um tijolo, uma indicação. Nada! Mas eu sabia que estava a sonhar. Por outro lado, na terra decadente, já tinha o meu quarto à minha espera. O meu refúgio, o meu lugar. E a minha avó estava tão divertida, e feliz por me fazer companhia...! De noite, há os sonhos para me ampararem. Mas, de dia, à luz do sol, no meio das pessoas reais, há só inquietação!

Fui Pedir um Sonho ao Jardim dos Mortos

Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos.
Quis pedi-lo, aos vivos. Disseram-me que não.
Os mortos não sabem, lá onde é que estão,
Que neles se enfeitam os meus braços tortos.

Os mortos dormiam... Passei-lhes ao lado.
Arranquei-lhes tudo, tudo quanto pude;
Páginas intactas — um livro fechado
Em cada ataúde.

Ai as pedras raras! As pedras preciosas!
Relâmpagos verdes por baixo do mar!
A sombra, o perfume dos cravos, das rosas
Que os dedos, já hirtos, teimavam guardar!

Minha alma é um cadáver pálido, desfeito.
As suas ossadas
Quem sabe onde estão?
Trago as mãos cruzadas,
Pesam-me no peito.
Quem sabe se a lama onde hoje me deito
Dará flor aos vivos que dizem que não?

Pedro Homem de Mello, in "Príncipe Perfeito"

Lindo!! Obrigada, Romi