Sunday, March 25, 2012

Virar Noite


Hoje de manhã, liguei, como sempre, a TSF e ouvi uma reportagem sobre os brasileiros - os cablocos - que vivem na Amazónia. Uma mulher, uma cabloca, contou uma história - história verdadeira!, dizia ela, com a sua voz linda, o seu português com açucar e floresta - ocorrida numa noite de festa. Havia baile na comunidade, todos dançavam, e nisto aparece um homem muito lindo, de "olho azul", que dançou muito com uma cabocla. Às quatro da madrugada, o homem lindo "dji olhu azuu" disse que tinha que ir embora. A mulher que dançou com ele, encantada, acompanhou-o. Ele dirigiu-se ao rio, lançou-se à água e nunca mais foi visto.
A reportagem corria assim, com muitos testemunhos, todos de gente pouco escolarizada, mas com uma expressividade desconcertante. Nisto fala-se de sucuris. A reporter pergunta o que acontece, quando alguém é picado, dada a falta de médicos. O homem diz que, antigamente, havia gente que conhecia ervas, mas agora já pouca gente conhece. Então, às vezes, "à péssoa vira noitxi". A pessoa morre, explica a repórter. Vira noite!
Sintonizada na TSF, oiço, mais à frente, que António Tabucchi, o português por opção, grande admirador e tradutor da obra de Pessoa, morreu hoje, dia 25 de Março. Penso que deixarei de usar o verbo morrer. Prefiro virar noite.
António Tabucchi, hoje, 25 de Março, virou noite!
Boa noite, António!!! Dorme em paz!

Wednesday, March 21, 2012

Dia Mundial da Poesia


Conheço um homem que é uma poesia (fraca). É uma daquelas criaturas sem carisma. Estranhamente, nem é autoritário nem tem autoridade. Não tem nada. Parece aquelas supostas poesias sem palavras, sem ideias, sem emoção, sem sentimento. Enfim, um grande vazio, não isento, no entanto, de barulho. Porque no fundo, ele é apenas um homem que faz barulho, que grunhe. Mais nada. É um grande poema sem rima, sem conserto e sem concerto também. É um silêncio não ausente de murmúrios. Um tonto, um pobre demente. Alguém que gostaria de ver-se ao espelho mas, como é um grande vazio e uma grande ausência de tudo, não lhe ocorre sequer ver-se ao espelho.
É uma poesia Dada, daquelas muito mazinhas. Aquelas poesias que ainda querem ser Dada, quando o Dada já saiu de moda!
É um balofo, cheio de si, que dá grandes lições de moral, em salas vazias. É um farsante. É alguém que não se rala, nem quer ralar-se. Mas sabe sempre o que os outros devem fazer! Não se cansa de aconselhar ignaramente: "Ah, mas são tão boas pessoas coitadinhas, não se ralem" ou "Ah, mas são umas bestas, não se ralem" ou "Ah, não macem as pessoas, coitadinhas, são umas bestas tão boas, não se ralem", etc. É um poema minimalista, ou seja, tem um vocabulário muito reduzido!
É ainda um poema hilariante, mas de uma forma mazinha e simplória. O pobre sonso gosta de contar anedotas...sempre as mesmas e sempre sem graça. É também hilariante quando faz cara séria para impor respeito. Mas não impõe. Nem respeito, nem nada. É um impostor.
É também, claro, claríssimo, um poema popular e amador. Gosta de comer e beber. Gosta de um tintinho do bom. E de futebol. É uma pobre alma e uma alma pobre. Não é mau tipo, no fundo, muito lá no fundo. Ou, pronto. Não muito no fundo, aí a meio entre o fundo e o cimo. É um tarata.
E está comemorado o dia mundial da poesia - coitada, se fosse coisa boa, não tinha dia! Comemorado está também o tonto! Eu devia-lhe esta homenagem. Afinal, ele até é tão articulado e esperto, quando está a dormir...!

Tuesday, March 20, 2012

A ruína e a normalidade


Preparo-me para mais um dia de trabalho! Já passei os olhos pelo Umbigo do Paulo e fiquei a par das últimas da educação.
No Correio da Educação fala-se de ruína e ontem, num texto de Mia Couto, falava-se de normalidade. Melhor, falava-se do facto de nada interpelar as pessoas. Acontecem as coisas mais anormais, mas já nada choca. É tudo normal.Conheço bem o sintoma. Sinto-me muitas vezes sozinha a apontar o dedo. Mas só eu vejo, mais ninguém. Há uns quinze dias tive uma conversa com um demente, com todos os sintomas da doença da normalidade. É tudo normal. É a vida! Depois, se eu não conhecesse a praxis do pobre demente...!
Estou a escrever, a uma hora em que não gosto de escrever. Faço-o só para ter uma prova de que ainda consigo fazer alguma coisa, ou seja, reagir, porque quando chegar ao local de trabalho, entro na normalidade faz de conta. Ouvirei os dementes expelirem boca fora os seus delírios e eu própria também poderei delirar um bocadinho. Deus me livre de dar nas vistas!

Monday, March 05, 2012

...??!!*****//????!!!!!!


Com o bom humor próprio de quem acabou de ler uma frase, na qual se dizia que entre as aves migratórias se encontram a baleia azul e o elefante, dou comigo a ouvir uma cantilena, na TSF, que repetia com voz irritante, isto é, pretensamente erótica: "até ao orgasmo total, até ao orgasmo total", idem, idem, aspas aspas, idem idem.
É só burrice e hormonas aos saltos. Se esta gente visse menos baleias a voar, fornicasse menos e trabalhasse mais....!
Need I say more?