Monday, November 28, 2011

Mariza- Oh gente da minha terra



“No fundo, nós somos todos fadistas: do que gostamos é de vinhaça e viola e bordoada.” Eça de Queirós

Tuesday, November 22, 2011

Bocejo


Não eu, claro! E se o faço, é sempre com a mão elegantemente a cobrir a área onde a acção decorre. Aquela triste acção que nos deixa de dentes à mostra e língua encolhida, queixo pontiagudo e olhos cerrados. (Um mal nunca vem só!)
Falo de uns pobres energúmenos, mais especificamente de um que emite bocejos enormes, como rugidos. Volta e meia, lá está ele de boca aberta a expulsar um vendaval estrondoso. É uma coisa feia de ser ver, de se ouvir e creio que, para quem está mais perto, deva ser também péssima de se cheirar. Hoje, a besta rebentou com a sala onde estávamos. A tarde estava uma merda, porque não há tardes junto à besta que não sejam uma merda. E nisto ele começa a abrir a boca num bocejo de dimensões bíblicas. Então, com a trepidação da coisa, as paredes tremeram e o tecto fendeu-se. Alguém o abafou com um casaco, para impedir a ventania trepidante. Impossível. Num momento, sentiu-se a sala a erguer-se no ar e depois a desabar sobre nós.
Aqui estamos, nos escombros da coisa, presos, cobertos de destroços e algum muco misturado com pó. E a besta, a besta nojenta, insaciável, prepara-se, de boca escancarada, para implodir a cidade. Não ficará pedra sobre pedra. Mas a besta ficará. As bestas ficam sempre! Chiçaaa!!

Wednesday, November 02, 2011

A morte


No Domingo fui à missa de corpo presente de um colega meu. Há quanto tempo não saía ao Domingo! Escusado será dizer que ficar em casa é uma medida para me proteger da medonha da humanidade. Finda a missa, ficámos à espera que o caixão fosse transportado para o carro que o levaria ao cemitério. Eu fiquei sozinha num canto do último banco da igreja. Nisto, o caixão passou. Dei-me conta, como se fosse a primeira vez, de que estava ali guardado o corpo de alguém que jamais seria visto. Fui a primeira a sair. Como a minha casa tem vista para a igreja, ainda espreitei o cortejo fúnebre através da janela. Depois pensei, também como se fosse uma revelação, ontem, o H. ainda comeu na sua casa, junto dos seus, hoje já não volta a casa. Hoje, os seus voltarão a casa sem ele, porque ele vai ficar no cemitério com os outros mortos. A morte é, então, essa ausência de tudo. De movimento. De luz. De refeições com a família. De deitar entre os lençóis. Nada de novo, claro. Mas, para mim, foi como se eu não soubesse antes que era assim. Aliás, daquilo que lembro da morte do meu pai, aquilo que custa é o momento em que se sai do cemitério e se deixa lá aquela pessoa que costumava estar em casa. A casa não é lugar para os mortos! Claro que não. Mas para mim foi tudo uma espécie de revelação. A morte é surpreendente. Foi esta a conclusão a que cheguei.
H., descansa em paz, coleguinha querido. O mesmo para a mãe da CF, que morreu ontem.